É inegável que a tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço no segmento jurídico. Diante de tantos feitos que ela proporciona é sempre oportuno fazer uma reflexão, não só individualmente, mas também de forma mais ampla, avaliando os movimentos que ela vem aperfeiçoando na área. Dentro desse exercício, percebo que uma das mudanças mais claras e significativas dos últimos tempos decorre sobre os impactos trazidos pelo surgimento quase que diário de novas ferramentas tecnológicas voltadas para o setor.
Impulsionado ainda com mais força pela pandemia, o
processo de transformação digital continua avançando rapidamente no cenário
judicial e vem alterando toda lógica de funcionamento dos processos em
tribunais, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos das empresas.
Mesmo sendo um segmento conservador, já está claro
que o debate se vale ou não a pena apropriar-se da tecnologia está
ultrapassado. Não há mais dúvidas de que ela vem sendo uma aliada importante e
não uma espécie de “inimiga” que vai reduzir a importância do profissional
do direito. Aliás, o resultado é justamente o contrário. As soluções
tecnológicas dentro do setor jurídico vêm sendo utilizadas principalmente para
auxiliar as tarefas do dia a dia, eliminando trabalhos repetitivos ou que não
demandam esforço intelectual.
Vamos ilustrar como exemplo o acompanhamento das
ações judiciais. Antes, quem quisesse monitorar alguma movimentação em um
processo precisava acessar diariamente o site do Tribunal (às vezes, em mais de
um site) e fazer uma pesquisa manual para saber que um processo não teve
andamento novo. Além de não exigir nenhum esforço intelectual, esse tipo de
tarefa ocupava muito tempo nos afazeres diários dos profissionais da área.
Porém, hoje, com plataformas que fazem esse processo de forma automatizada, os
profissionais conseguem otimizar o seu tempo com ações mais estratégicas e que
efetivamente necessitem de seus conhecimentos jurídicos.
Por outro lado, não deve demorar muito para que
essa importância vá ainda mais além. Pensando na inteligência artificial,
tecnologia mais comentada e popular do momento, seu impacto tende a ser ainda
muito mais significativo dentro do segmento jurídico.
Por mais que possa parecer em um primeiro momento,
isso está longe de ser o início de um cenário apocalíptico. O trabalho do
advogado, na verdade, tende a mudar para melhor. Graças ao uso da IA será
possível trabalhar com mais eficiência e, assim, buscar resultados de maneira
mais assertiva.
Todo esse cenário me faz acreditar que o setor
jurídico começa a passar por um movimento que ocorreu recentemente dentro de
diversos outros mercados: a transição da valorização das soft skills em
detrimento das hard skills. Cada vez mais, o profissional que não conseguir
atrair e reter seus clientes, por mais conhecedor e genial que seja, não será
tão bem sucedido como aquele que cuida, dá atenção e entende as necessidades
desses clientes.
A grande verdade é que, assim como fez em diversas
atividades humanas, a tecnologia já revolucionou drasticamente o cenário
jurídico. Atuar evitando a adoção de ferramentas ou a automação de processos já
se tornou impensável e não deve demorar muito para que essa revolução
tecnológica se torne ainda mais robusta. E essa não é uma transformação
pontual. Será um progresso contínuo e constante.
Pedro Vicentini - cofundador da Invenis,
startup que tem o propósito de ajudar a resolver litígios do Brasil, e do GVBG
Advogados. Tem sua prática focada nas áreas de contencioso civil, litígios
complexos, arbitragem, advocacia contenciosa e antitruste. Atua no segmento de
agronegócios assessorando grandes empresas nacionais e internacionais em litígios
e estruturação de negócios.
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