Primeira exposição do artista
uruguaio em um museu brasileiro abre neste sábado na Fundação Iberê
Neste sábado (5),
a Fundação Iberê inaugura a exposição Antologia,
do artista uruguaio José Gamarra. Um dos nomes mais
importantes daquele país e reconhecido em âmbito internacional, Gamarra, 89
anos, vive e trabalha em Arcueil (França) desde 1963. Esta é a primeira vez que
ele expõe em um museu no Brasil.
A mostra, que começou a ser
organizada em 2011 por Enrique Aguerre, diretor do Museu Nacional de Artes
Visuais de Montevidéu (MNAV), Gamarra e sua esposa Dilma e Enrique Gómez, da
Galeria U, perpassa oito décadas de trajetória do artista. As 41 obras abrangem
seus principais períodos criativos, que se iniciam com as suas pinturas
precoces, criadas na infância e juventude, atravessam a abstração
de seus signos até chegarem às suas sempre
reveladoras e surpreendentes selvas. O artista
aborda, ainda, temas como a guerra, a agressão à natureza, a condição dos
indígenas, o passado, o presente e o destino da América Latina.
“O Cristo Redentor tem uma
presença muito particular para mim. Morei um ano no Rio de Janeiro, é uma
escultura que domina toda a cidade, fascina, interpela e acalma. Em Paris,
estava muito bem-informado da situação política e social da América Latina.
Religiosos brasileiros pegaram em armas para resistir e denunciar o regime
totalitário que foi instaurado no Brasil em 1964, e pintar o Cristo Redentor
era minha forma de representar a resistência da Igreja. Em alguns quadros
pintei o Cristo com uma metralhadora nas costas”, conta o artista em entrevista
ao pesquisador e um dos organizadores da exposição na Fundação Iberê, Heber
Perdigón, e que está no catálogo de Antologia.
A amizade com Iberê Camargo
Desde criança, José Gamarra demonstrou interesse pelas artes e talento para o
desenho ao retratar seus colegas e pintar luas em paisagens noturnas. Aos 12
anos, participou de uma exposição coletiva no Ateneo de Montevidéu e, aos 15,
expôs na Escola de Belas Artes, onde teve aulas de pintura e gravura e o
talento reconhecido pelos professores María Mercedes Antelo e Bell Clavelli.
Em 1959, aos 25 anos, Gamarra
ganhou uma bolsa do Itamaraty para estudar gravura com Johnny Friedlander no
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e com Iberê Camargo no Instituto de
Belas Artes da Praia Vermelha. Graças a Iberê e a Flávio Motta, diretor da
Escola de Pintura da Fundação Alvares Penteado, em São Paulo, tornou-se
professor de pintura por dois anos.
Iberê Camargo tinha amigos no
Uruguai, entre eles, Adolfo Pastor, diretor da Escola de Belas Artes de
Montevidéu e professor de Gamarra. Quando o artista chegou ao Rio de Janeiro
com Dilma, com um apartamento alugado e pagamento antecipado a uma imobiliária
– que veio a descobrir – que não tinha registro, Iberê, então, cedeu ao casal
seu apartamento no bairro Fátima. A amizade transcendeu a admiração.
“Iberê Camargo teve um papel
muito importante na minha vida profissional. Eu tive o enorme privilégio de ser
seu aluno no Instituto de Belas Artes, e, depois das aulas no Instituto, tinha
aulas particulares no seu ateliê da Lapa. Recebia-me tomando chimarrão e
vestido como um verdadeiro gaúcho, como se fosse montar a cavalo. Me lembrava
muito os gaúchos uruguaios. Com ele consegui construir laços de profunda
amizade. Embora nossas obrigações profissionais tenham nos afastado
geograficamente, ainda sinto um profundo carinho e respeito pelo grande mestre.
(...) fazer uma exposição de minhas obras na Fundação Iberê é uma grande honra
para mim”, conta o artista.
Em 1985, em sua importante
retrospectiva organizada pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS,
chamada “Iberê Camargo: trajetória e encontros”, que, no ano seguinte, foi
apresentada no MASP, no MAM-Rio e na Galeria do Teatro Nacional de Brasília,
ele incluiu uma pintura de Gamarra. Além de obras de Iberê, a exposição incluía
obras de seus mestres, amigos e alunos.
Em 1962, José Gamarra
participou da III Bienal de Jovens Pintores de Montevidéu e da III Bienal da
Juventude de Paris, onde ganhou o Prêmio de Pintura e uma bolsa de estudos do
governo francês, onde vive até hoje e onde descobriu a cor. É um dos poucos
uruguaios que tem obras no Metropolitan, no MoMA de Nova York e no Museu de
Arte Moderna de Paris e Buenos Aires.
SERVIÇO
Exposição JOSÉ GAMARRA – ANTOLOGIA
Organização: Enrique Aguerre, Heber Perdigón e Gustavo Possamai
Abertura: 5 de agosto de 2023 | Sábado | 14h
Visitação: até 22 de outubro de 2023
Horário: quinta a domingo, das 14h às 18h | Às quintas,
a entrada é gratuita; de sexta a domingo, o ingresso custa entre R$10 e R$
30
No dia da abertura, a entrada é gratuita
Apoio: Primeira exposição do artista uruguaio em um
museu no Brasil abre neste sábado na Fundação Iberê
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