O Google e as mídias sociais são frequentemente utilizados como fonte de informação médica pela população e o número de pessoas que buscam se informar por esses canais vem aumentando significativamente. O Relatório Digital 2022 revelou que 58% da população mundial usa alguma mídia social, refletindo mudanças socioculturais que podem ter sido aceleradas pela pandemia. Na América do Sul, 67% da população usa alguma mídia social, sendo que no Brasil há cerca de 170 milhões de usuários, a maioria mulheres. A liberdade de postar sobre praticamente qualquer assunto é uma das principais vantagens das redes socias, mas também seu calcanhar de Aquiles.
A saúde é um dos principais temas buscados por 80%
dos internautas e quase a metade procura informações sobre um determinado
médico ou profissional de saúde. O papel das mídias sociais no cuidado à saúde
também vem aumentado e as pessoas usam Instagram e Facebook, por exemplo, para
buscar informações sobre como lidar com sua saúde ou de seus familiares e
amigos, assim como postam sobre suas experiências de saúde/doença de pessoas
próximas.
Buscar apoio emocional e escolher os profissionais
que vão cuidar da sua saúde são outros motivos para usar as mídias sociais, que
constituem veículo importante para educar e promover a saúde em vista do seu
alcance e aceitabilidade. Infelizmente, a qualidade da informação médica
disponível on-line para o público leigo muitas vezes é sofrível e pouco
confiável.
A infertilidade conjugal afeta 10% dos casais do
mundo e estudos recentes revelam que a internet e as mídias sociais são fonte
frequente de pesquisas sobre o assunto. Há perfis leigos, de profissionais de
saúde e organizações médicas sobre o diagnóstico e os diversos tratamentos
oferecidos. Conhecer as necessidades daqueles que buscam orientação on-line
pode ajudar no desenvolvimento de ferramentas educativas e a melhorar o cuidado
destas pessoas.
Recentemente, fizemos um estudo para conhecer como
as informações relacionadas à infertilidade eram compartilhadas no Instagram no
Brasil por meio de hashtag; análise de conteúdo das postagens de acordo com o
tipo de autor (profissional de saúde X leigos); e identificação dos temas que
prevaleciam nessas interações. Os resultados revelaram que embora haja um
relativo equilíbrio entre a quantidade de postagens dos profissionais de saúde
(PS) e leigos (LG), o conteúdo é diferente: os PS concentram-se na educação e
usam hashtags mais técnicas, ao passo que as conversas dos LG se concentram nos
aspectos emocionais. As emoções, aliás, parecem despertar o interesse e
engajamento daqueles que se interessam por sua saúde reprodutiva.
Nos Estados Unidos, o interesse pelas mídias
sociais e infertilidade também é grande. Um estudo americano recente avaliou o
conteúdo postado no Instagram e TikTok relacionados à saúde masculina,
incluindo infertilidade. Os autores concluíram que embora os temas tenham muito
engajamento do público, a acurácia científica do conteúdo era ruim, e os
profissionais de saúde e organizações médicas tinha pequena participação. Na
realidade, muitas das informações médicas encontradas nas redes sociais carece
de fundamentação científica, é incompleta ou carrega algum conflito de
interesse comercial. Dessa forma, a participação de profissionais de saúde com
postagens educativas e que forneçam o apoio e informação que os pacientes
procuram nestas mídias é de fundamental importância.
O Instagram, assim como outras mídias, e o próprio
Google apresentam uma oportunidade única para educação e apoio ao paciente no
campo da medicina reprodutiva. É preciso ressaltar, entretanto, que como as
informações disponíveis nessas plataformas podem impactar a decisão de uma
pessoa sobre como lidar com sua saúde reprodutiva, como por exemplo, adiar a
maternidade ou utilizar uma determinada medicação, certificar-se de que esse
material é confiável é de extrema importância. Portanto, as pessoas devem estar
cientes de que devido à grande quantidade de informações postadas por
praticamente qualquer pessoa, o conteúdo deve ser questionado já que a maioria
das postagens não passa por verificação adequada nem qualquer tipo de validação
científica.
Dessa forma, buscar referenciamento nos perfis de profissionais
e organizações médicas, assim como a orientação de seu médico ou um
especialista no assunto, ainda são medidas recomendáveis. Apesar de todos os
avanços e disseminação de informações, ainda não é possível substituir uma
avaliação médica especializada por uma live ou vídeo na rede social.
Márcia Mendonça Carneiro - Professora Titular do
Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFMG e diretora
Científica da clínica Origen BH.
Nenhum comentário:
Postar um comentário