A Inteligência Artificial (IA) representa um grande salto tecnológico na medida em que, com diferentes graus de autonomia, permite a um sistema aprender e, com isso, gerar previsões, tomar decisões ou fazer recomendações cada vez mais precisas.
Por seu incrível potencial, tem sido empregada nos
mais variados setores e, há tempos, está presente de modo visível – e muitas
vezes invisível – em nossa rotina. A tecnologia capaz de aprender ao longo do
tempo e personalizar a experiência auxilia, por exemplo, a verificar
divergências no padrão de compras de cartão de crédito de acordo com o
histórico de compra, e observar padrões de direção para certificar que um
motorista de aplicativo corresponde com o cadastrado. Está presente em setores
tão variados como agricultura, segurança e aviação. Por aprender com o tempo,
revela também um alto grau de personalização, observado em assistentes virtuais
como Alexa, Siri e Assistente Google.
As novas tecnologias oferecem inúmeras
oportunidades, no entanto, ao mesmo tempo, exigem mecanismos efetivos para
mitigar riscos. No Brasil, tem obtido bastante atenção. Ao final de 2022, uma
comissão de juristas, instituída pelo Senado Federal para preparar um texto
legislativo sobre o tema, elaborou um relatório com mais de 900 páginas que
apresenta uma interessante proposta regulatória, que inclui medidas de
governança, proteção aos direitos fundamentais, exigência de transparência e
não discriminação, a proteção de direitos autorais, assim como
responsabilização por infração à lei.
Segundo o The Collective Intelligence Project, na
regulação da inteligência artificial é preciso buscar um equilíbrio entre
participação, progresso e segurança. Em harmonia com essa leitura, o relatório
da comissão de juristas, presidida pelo ministro do STJ, Ricardo Villas Bôas
Cueva, propõe uma regulação que se intensifique de acordo com o risco. Assim,
dedica uma atenção mais elevada para um sistema que possa realizar a
identificação biométrica a distância, por ter um risco mais acentuado.
Em que pese o louvável esforço da comissão, o
cuidado com esse tema não se resolverá apenas com a criação de uma legislação
específica. É preciso agregar uma participação social intensa, assim como do
Estado. Ao mesmo tempo, não se pode negar os desafios que a inteligência artificial
apresenta, afinal, é uma tecnologia com caráter dinâmico, com rápida capacidade
de se transformar, marcada por opacidade, ou seja, é difícil olhar para dentro
do sistema e entender como funciona, assim como apresenta um enorme potencial
de danos. A adequada proteção dos direitos humanos e fundamentais, portanto,
demandará um esforço real, amplo e indispensável.
Além disso, a governança da IA é igualmente
importante para garantir que a tecnologia seja usada de forma responsável e
eticamente correta. Isso inclui a criação de normas e padrões éticos para o
desenvolvimento e uso da IA, bem como a implementação de mecanismos de
supervisão e monitoramento para garantir o cumprimento desses padrões. É
importante envolver a sociedade como um todo na discussão sobre a
regulamentação da IA, para garantir que a tecnologia atenda às necessidades e
aos valores da sociedade. Em tempo, até aqui o texto deste último parágrafo foi
inteiramente escrito por uma inteligência artificial (ChatGPT), quando
solicitei que apontasse cuidados com governança na inteligência
artificial.
Gabriel Schulman - advogado,
doutor em Direito e professor do Mestrado em Direito da Universidade Positivo,
na área Direito, Tecnologia e Desenvolvimento.
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