Dentre os inúmeros problemas de saúde que afetam a população mundial, aqueles relacionados à visão estão entre os que mais crescem. Segundo um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2019, cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo possuem algum tipo de deficiência visual em maior ou menor grau, ou sofrem com a perda total da visão, sendo que 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados com medidas preventivas e acompanhamento médico. Nos últimos anos, fatores como a pandemia da Covid-19 tiveram impacto direto no agravamento dessas doenças, com destaque para os erros de refração, como a miopia. De acordo com um estudo publicado no The Lancet em 2021, o isolamento social fez com que os índices de miopia progredissem cerca de 40% entre as pessoas de 5 a 18 anos, que passaram a gastar mais tempo em contato direto com as luzes dos aparelhos eletrônicos.
Apesar de favorecer a progressão de certos
distúrbios oculares, a crise sanitária também impulsionou o aprimoramento de
diferentes setores da sociedade, incluindo o desenvolvimento de tecnologias
capazes de atender às novas necessidades dos consumidores. Com as restrições
sociais impostas pelo vírus e a paralisação de inúmeros estabelecimentos,
muitas pessoas passaram a adquirir produtos e serviços de forma totalmente
online, resultando em um aumento de 75% no e-commerce brasileiro em 2020 em
comparação com o ano anterior, de acordo com dados da pesquisa feita pelo
indicador varejista Mastercard SpendingPulse.
Neste cenário, diversos players do varejo óptico
procuram reinventar seus processos, adaptando o modelo tradicional de
atendimento e passando a atuar por meio de diferentes canais. Dessa forma, a
interação em tempo real via aplicativos de mensagens, chats com humanos,
chatbots e assistentes de voz também virou uma tendência no segmento. Em suma,
o momento atual apresentado por grandes companhias do setor é o de integrar
plataformas online e utilizá-las como alavancas do negócio, mas ainda mantendo
a loja física como peça central da estratégia de venda. Ainda parece distante o
dia em que a Inteligência Artificial, presente em tecnologias como o recém-lançado
ChatGPT, modelo generativo de IA em linguagem natural, seja aplicada para
beneficiar quem precisa comprar lentes e armações para enxergar perfeitamente.
Por outro lado, nos últimos anos, tem sido notável
a evolução no desenvolvimento de novos produtos e materiais que pudessem
proporcionar mais qualidade de vida às pessoas com diferentes distúrbios
oculares, sobretudo aquelas com casos complexos e que demandam mais cuidados.
Para quem possui alguma ametropia – miopia, hipermetropia, astigmatismo ou
presbiopia – e faz o uso contínuo de óculos, o mercado já desenvolveu soluções
como lentes ultrafinas capazes de minimizar sensações desagradáveis, como o
efeito “fundo de garrafa”, além de novidades no setor de armações, com novos e
mais resistentes materiais sendo apresentados ao público.
A oftálmica e a oftalmologia também estão em
constante evolução quando se trata de novos tratamentos. Nos últimos anos, a
indústria criou e lançou procedimentos envolvendo luzes terapêuticas, terapia
genética e tratamentos combinados capazes de mitigar os efeitos de doenças como
câncer, cegueira, degeneração macular, catarata e glaucoma. Recentemente, um
estudo teve grande repercussão midiática ao utilizar um biomaterial feito de
pele de porco para restaurar a visão de 14 pessoas cegas, afetadas por um
quadro degenerativo conhecido como ceratocone. Outra novidade desenvolvida
recentemente é a lente de contato capaz de tratar diferentes doenças oculares
com o uso de microagulhas, que são tão pequenas que não causam nenhum desconforto
ou irritação aos olhos do usuário. O projeto está em fase de testes e tem um
grande potencial de revolucionar a indústria óptica nos próximos anos.
Para o diagnóstico precoce e correto das doenças
oculares, sabe-se que é imprescindível a visita ao oftalmologista pelo menos
uma vez ao ano, mesmo que um quarto dos brasileiros afirme que não costuma ir
ao médico – como apontou uma pesquisa realizada no ano passado, pelo Datafolha.
A boa notícia é que a tecnologia também pode ajudar a mudar esse cenário: um
projeto desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) permite a realização
do exame de fundo de olho pelo celular, por meio de um dispositivo que acopla
lentes à câmera do aparelho e fixa o rosto do paciente.
É possível afirmar que, apesar do varejo óptico ter
apresentado certa inovação tecnológica em relação às décadas passadas, ainda
falta um longo caminho para que o setor se mostre realmente digitalizado. Na
prática, há bastante inovação nesta área em termos de moda, com novas opções de
modelos, cores, materiais e coleções; mas há pouco avanço no emprego de
tecnologia que crie uma jornada genuinamente digital para o consumidor.
Makoto Ikegame - CEO e
Fundador da Lenscope,
healthtech que criou uma jornada 100% digital na aquisição de lentes para
óculos por preços abaixo da média e qualidade superior.
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