Por que falar da riqueza do feminino? Porque ainda existe um apagamento da condição feminina. Se o reino de Deus já está entre nós, por que a igreja ainda não manifesta essa condição de igualdade entre homens e mulheres? Jesus disse que seríamos conhecidos pelo amor entre nós. É assim que a sociedade vê a igreja? São esses valores e práticas que testemunhamos? Será que a violência doméstica e tantas outras expressões do desrespeito e da opressão não existem em nosso meio?
Por incrível que pareça ainda há igrejas que, no
terceiro milênio, realizam concílios para discutir se a mulher pode ou não
subir ao púlpito. Ao longo dos séculos, tanto em culturas cristãs quanto não
cristãs, mulheres de todas as classes sociais tiveram menos poder e
independência que os homens da mesma classe. Pessoas sem poder, nem proteção,
ficam vulneráveis e acabam sempre por sofrer abusos dos detentores do poder.
No Brasil a taxa de violência continua aumentando,
inclusive nos lares evangélicos. O índice crescente de feminicídio pode ser
atribuído a diferentes fatores, como o preconceito, o machismo estrutural e o
patriarcado, que têm relegado mulheres à condição de marginalizadas e
oprimidas. Em agosto de 2006, a Lei n° 11.340, mais conhecida como Lei
Maria da Penha, foi sancionada. Ela se configura como a primeira lei voltada
exclusivamente à violência de gênero, tratando a questão como de interesse
social e público. A violência contra a mulher “resulta ou pode resultar em
dano, ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica”.
A Lei Maria da Penha foi um dos maiores avanços
para a afirmação dos direitos das mulheres no Brasil. Contudo, o que se vê
diariamente em noticiários é o aumento substancial das estatísticas desse tipo
de comportamento, agravado no período da pandemia da covid-19. As motivações
por trás desses episódios violentos são as mais variadas, como tentativa de
controlar a autonomia e o corpo da mulher movido por um sentimento de posse; de
limitar sua emancipação econômica, profissional, social ou intelectual; visão
da mulher como objeto sexual; e ações de desprezo e ódio pela mulher e por sua
condição feminina.
A pesquisadora Valéria Vilhena aponta para o
trágico fato de que 40% das mulheres em situação de violência (psicológica,
moral, patrimonial ou física) atendidas pela pelo Núcleo de Defesa e
Convivência da Mulher Casa Sofia se declaravam evangélicas. Quando a cultura
religiosa se omite sobre a opressão que caracteriza o patriarcado, está
favorecendo o crescimento da violência doméstica. Quando pastores e outros
membros de igreja silenciam – e também silenciam as mulheres mesmo
cientes de abusos domésticos, contribuem para a escalada dessa violência, que
pode chegar ao ato extremo.
O discurso teológico predominante é o da submissão
da mulher ao marido, sem considerar que Efésios 5-6 e outros textos admoestam
que deve haver sujeição de “uns para com os outros”. O chamado para servir é
para todos. E isso não significa subalternidade, como é pregado e exigido para
a mulher, mas igualdade de valor diante de Deus.
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