O diploma universitário é a garantia de uma prestação de serviços segura e confiável? Essa vem sendo uma forte discussão ultimamente, após a divulgação do novo Projeto de Lei (PL) 3.081/22 que, caso aprovado, irá desregulamentar esta exigência para mais de 100 profissões, entre eles engenharia, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia. Mesmo diante de argumentos positivos na tentativa de eliminar uma possível barreira contra a entrada de novos profissionais no mercado, essa proposta pode apresentar um sério risco ao mercado, renunciando a importantes responsabilidades técnicas que precisam exigir a máxima garantia de confiança em qualquer tipo de contratação.
Toda graduação traz um preparo fundamental para as
premissas práticas e teóricas que um profissional necessita conhecer ao entrar
em seu ramo de atuação. Mesmo que grande parte da expertise vá ser construída
ao longo de sua jornada, é durante os anos na faculdade que as fundações são
feitas, trazendo o mínimo conhecimento necessário para que se consiga
desempenhar suas funções e, a partir disso, ir se desenvolvendo e aprendendo
cada vez mais para atingir a excelência em sua área.
Em determinados segmentos como a área da saúde e
engenharia, esses anos de aprendizado ainda trazem consigo um registro
individual dedicado, especialmente, para assegurar que aquela pessoa conquistou
sua certificação profissional para iniciar sua atuação no setor. Muito mais de
que um mero título, é uma garantia de segurança para que seja contratado,
assegurando de que irá se responsabilizar inclusive em casos de erros.
Nesse cenário, deixar de lado tal responsabilidade
técnica pode se tornar algo verdadeiramente perigoso, especialmente para
determinados cargos. Praticamente, todas as premissas básicas de regulamentação
diminuem de forma significativa o mau uso das profissões, fortalecidas pela
presença de órgãos regulamentadores inspecionando cada área e o cumprimento de
seus deveres. Assim, aqueles que tentarem exercer diversas funções sem a presença
de um diploma, poderão ser autuados severamente.
Com a dispensa dessa comprovação, pode se tornar
muito mais comum presenciar pessoas não preparadas tecnicamente para atuar em
diversos ramos, oferecendo enormes riscos para o mercado, principalmente no que
diz respeito à segurança pública. Como exemplo, basta pensarmos nos
conhecimentos mínimos que profissionais precisam ter para realizar até mesmo
tarefas mais simples de seu dia a dia.
A polêmica referente ao fim do diploma não diz
respeito ao questionamento do quão capacitado cada um é, mas sim da
responsabilidade civil e jurídica que esses profissionais devem assumir em seus
trabalhos, cogitando problemas e imprevistos que possam ocorrer e precisarão de
alguém para assumi-los – seja visando sua resolução ou autuação. Caso
contrário, a aprovação deste projeto pode desencadear problemas consecutivos no
desempenho de inúmeros cargos e a queda da confiança e credibilidade nas
profissões.
Cabe destacar ainda que ser bem-sucedido em algo
não precisa ter relação com a formação, muito menos é sinônimo da presença de
um diploma. O que fará a diferença no futuro será o conhecimento e
aprofundamento constante das regras técnicas que delimitam, minimamente, as
necessidades de cada área. Por isso, se realmente aprovado, a não exigência
deste documento não necessariamente irá gerar uma maior oferta de trabalhos,
uma vez que a grande maioria das empresas ainda analisará como critério de
contratação as experiências, hard skills e soft
skills de cada candidato para que tenham êxito no desempenho de
suas funções.
O Brasil enfrenta um grave cenário de baixa qualificação de mão de obra. Hoje, temos a segunda pior taxa de formação técnica e profissional entre os formandos do ensino médio no mundo, segundo dados do relatório Education at a Glance 2021. Seja qual for o desfecho dessa discussão, a busca pela qualificação continuará sendo mandatória e ainda mais importante, uma vez que o aprendizado contínuo é a melhor forma de assegurar uma boa prestação de serviços e, ainda, o fortalecimento de uma boa imagem organizacional.
Fernando Poziomczyk - sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.
Wide
https://wide.works/
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