Não é sempre que o universo da moda feminina está presente nos noticiários de maneira positiva, no entanto, recentemente, uma das maiores varejistas de moda acessível no Brasil anunciou que 100% dos seus jeans são fabricados com algum atributo sustentável. Atributos estes que podem variar entre a fabricação feita com algodão responsável, reciclado vindo da reutilização de fibras descartadas ou com redução do consumo de água na produção da peça.
Notícias assim inspiram profissionais e
consumidores, além de renovar a esperança em práticas mais justas de produção -
com as pessoas e meio ambiente - vindo de um setor que há tempos sofre de
acusações graves de práticas ilegais que vão desde uso de mão de obra escrava,
machismo infinito e poluição.
A notícia alegra a população que tem um olhar
mais voltado para as causas socioambientais, mas, ao dar uma breve olhada
na página do produto, não está claro o que realmente estamos
comprando.
Algumas dúvidas surgem. Se uma peça é feita a
partir de algodão certificado: qual certificação é essa está? de fato
esse produto é sustentável?
A comunicação é feita de forma muito rasa,
utilizando várias siglas, não é claro para o consumidor o que torna aquele
produto sustentável, não existe uma métrica que o consumidor possa se balizar
para entender e concluir que está adquirindo um produto sustentável. São tantas
siglas, letras, certificações e aquele produto pode ou não ter todas
elas.
Indo mais a fundo, pesquisando no site as
iniciativas sustentáveis da empresa, nota-se um anúncio grande e chamativo que
indica que um de seus fornecedores chega a economizar 11 mil litros de água por
mês. Muito interessante, é muita água sendo poupada, mas, quantos litros de
água a produção de uma calça jeans utiliza?
Uma pesquisa feita pela Vicunha Têxtil em
parceria com o Movimento Portal Ecoera, mostrou que a média fica em torno de
cinco mil litros, levando em consideração que a produção de uma calça vai desde
a plantação do algodão até a o final do seu processo produtivo, com a calça pronta
para venda.
As informações são discutidas e trazidas de
uma maneira que o consumidor não tem critério de comparação e na tentativa de
fazer uma escolha menos agressiva para o meio ambiente, acaba trocando seis por
meia dúzia. E esta é só a ponta do iceberg de um mercado imenso que engloba
outros tipos de produtos desenvolvidos com outros tipos de fibras.
O problema não está em uma marca específica e
sim, na consciência de todo um mercado fundamentado na baixa transparência
entre marcas e consumidores. Dentro desse contexto, acredito que cabe a nós,
profissionais da área, atuarmos como agentes de mudança e esquecer essa
história de que tudo tem que ser positivo o tempo todo, nada na vida é assim. É
primordial que a transparência venha primeiro.
Essas tentativas de greenwashing mostram como
o consumidor tem criado demandas cada vez maiores para assuntos ligados à
sociedade na hora consumir, é um movimento de mercado promissor, que tem muito
o que ser desenvolvido, principalmente com as novas gerações assumindo seu
poder de decisão. Basta que as marcas incorporem de fato essas mudanças.
Marcela Butros -
fundadora da Zili
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