Médico especialista em Pneumologia explica que fumar cotonete pode desencadear doenças respiratórias graves
Volta e meia aparecem “brincadeiras” com uma boa
dose de perigo nas redes sociais. Dessa vez, o jogo da moda é o “desafio do
cotonete”, no qual jovens são incentivados a acender um cotonete e tragar a
fumaça, da mesma forma que acontece com um cigarro comum. Esse desafio se
espalhou pelo Brasil e por países como França e Portugal, mas pode trazer
riscos graves à saúde.
De acordo com Gleison Marinho Guimarães,
médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia (SBPT), fumar um cotonete pode desencadear doenças
respiratórias graves. “A combustão do plástico e do algodão gera substâncias
tóxicas que vão direto para o pulmão e podem causar doenças, como traqueíte,
bronquiolite, bronquite, pneumonia de hipersensibilidade, além do risco de
queimaduras da via aérea e queimadura labial e na boca”, alerta.
O médico explica que o cotonete é composto de
polipropileno, um termoplástico; algodão; hidroxietilcelulose, um éter não
iónico; e triclosan, uma substância tóxica para seres vivos, considerada um
disruptor endócrino. Segundo ele, o triclosan pode provocar problemas como
progressiva perda de peso e diarreia e é altamente prejudicial para pele, olhos
e mucosas humanas. “É uma substância antisséptica com um poder irritativo
importante”, diz.
Por sua vez, plásticos podem ser considerados
combustíveis já que, ao serem aquecidos, se transformam em energia. “Todo
processo de queima de combustíveis sólidos é precedido pelo processo denominado
pirólise. A pirólise é um processo de quebra das ligações químicas das cadeias
orgânicas pelo calor. Uma reação química em que um combustível é oxidado e uma
grande quantidade de energia é liberada é chamada de combustão, por isso o
plástico é um combustível”.
O médico alerta que fumar cotonete pode precipitar
crises de asma grave, daquelas para as quais é preciso fazer uso de oxigênio.
“E pode levar à insuficiência respiratória, com risco ainda maior para crianças
e adolescentes com problemas respiratórios antigos”, diz.
Segundo o Dr. Gleison, a classe dos hidrocarbonetos
que compõem o plástico dos cotonetes é a dos policíclicos aromáticos (PAH),
cujo menor PAH existente é o naftaleno. “Embora a maior parte dos PAH não
mostre atividades mutagênicas, alguns são carcinogênicos, como o benzopireno e
grande número deles foi descoberto como causadores de mutações em células
humanas”.
Até mesmo as fibras do algodão queimado podem
causar broncoespasmos, ou seja, fechamento das vias respiratórias. “Precisamos
lembrar da Bissinose, doença relacionada à exposição contínua do algodão, que
acontece muito naquelas pessoas que se expõem frequentemente ao algodão, como
nas indústrias têxteis”, recorda o médico.
Os potenciais graves danos à saúde causados pelo
desafio de “fumar” algodão ainda são ampliados por outros males. O médico
lembra que cotonetes podem levar mais de 400 anos para se decompor. “A grande
maioria das hastes plásticas ainda estão entre nós, nos lixos, aterros e
poluindo o meio ambiente. Todas as vezes que consumimos esse tipo de produto,
contribuímos diretamente para a poluição dos oceanos e da terra, além de
prejudicar a vida marinha e terrestre. É preciso pensar nisso”, conclui.
Gleison
Marinho Guimarães - É médico especialista em
Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
(SBPT), especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina
do Sono (ABMS) e também em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva
Brasileira (AMIB). Possui certificado de atuação em Medicina do Sono pela
SBPT/AMB/CFM, Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ, membro da
American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society
(ERS). É também diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e da Clinicar –
Clínicas e Vacinas, membro efetivo do Departamento de Sono da SBPT. Atuou como
coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e
pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária
(FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Professor assistente de Pneumologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.
https://drgleisonguimaraes.com.br/
Instagram @dr.gleisonguimaraes
Twitter @drgleisonpneumo.
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