Número de imóveis verticais cresceu 321% no
período de 1984 a 2019, segundo levantamento
Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil
passou por um processo de verticalização nas últimas décadas. Apesar de a
maioria das pessoas (85,6%) viver em casas horizontais, o número de
apartamentos já corresponde a 14,2% dos 72,4 milhões de domicílios existentes
no País.
Esse
montante, que representa 10,3 milhões de moradias, cresceu 321% nos últimos 35
anos apurados pelo IBGE. É o que revela um levantamento de dados históricos
realizado pela empresa Triider,
plataforma de serviços de manutenção e pequenas reformas, com base nas edições
anuais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
Entre
1984 e 2019, 7,8 milhões de novos apartamentos foram construídos no País. Além
do número, cresceu a representatividade das moradias verticais em relação ao
total de domicílios. O percentual quase dobrou em três décadas e meia. Isso
porque, há 35 anos, esse tipo de imóvel representava 8,37% das moradias.
Só
na última década, a elevação da quantidade de apartamentos foi de 68,7%, o que
equivale a 4,2 milhões de novos empreendimentos nesse formato. O dado
representa que o total de imóveis verticais saltou de 6,1%, em 2009, para 10,3
milhões em 2019.
Essas
informações indicam que, embora as residências horizontais sejam predominantes
no Brasil, há uma tendência de verticalização nos grandes centros urbanos do
País.
Sudeste
concentra o maior número de apartamentos
A
região Sudeste é a que concentra o maior número de apartamentos do Brasil. São,
ao todo, 6,1 milhões de moradias verticais, o que representa 59,6%. Em seguida,
vem o Nordeste, com 16,1% (1.656 milhão); o Sul, que contabiliza 16% (1.645
milhão); e o Centro-Oeste, que conta com 5% (514 mil).
O
Norte, por sua vez, registra o menor número de moradias verticalizadas: apenas
3,5% (359 mil) do total. No entanto, é a região com o maior crescimento percentual
no número de apartamentos nos últimos 35 anos. Foram erguidos 335 mil novos
apartamentos no período, o que equivale a uma alta de 1.423,64%.
Se
em 1984 a região contava com 23.562 domicílios verticais, em 2019 esse número
saltou para 359 mil.
Já o
Sudeste, curiosamente, foi a região que menos cresceu percentualmente no País,
ficando atrás do Nordeste (606%), do Centro-Oeste (366,05%) e do Sul (360,92%),
além do Norte.
Porém,
se analisada a quantidade de domicílios construídos entre 1984 e 2019, o Sudeste
está na liderança. Ao todo, foram 4,4 milhões de novos domicílios em formato
vertical, o equivalente a 256,12%.
Cidade
de São Paulo registra mais apartamentos do que casas
Um
outro estudo sobre o tema, desta vez publicado pelo Centro de Estudos da Metrópole
(CEM) e o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), ambos da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou um dado histórico em
relação à questão habitacional.
Pela
primeira vez na história a cidade de São Paulo contabiliza mais prédios do que
casas. De acordo com o levantamento, o qual não inclui residências informais (a
exemplo das favelas), o município registrava 1,23 milhão de imóveis horizontais
voltados para moradias no ano 2000, com 158 de m², sendo que os prédios
contabilizavam 767 mil unidades, com 108,7 milhões de m².
Em
2020, porém, o número de casas passou para 1,37 milhão de unidades (183,7
milhões de m²), enquanto as residências verticais aumentaram para 1,38 milhão
de unidades (190,4 milhões de m²).
Tendência
mundial
O
processo de verticalização registrado em São Paulo e em outras regiões
brasileiras é uma tendência mundial. Para Guilherme Minarelli, pesquisador e um
dos responsáveis pelo estudo do Centro de Estudos da Metrópole, trata-se de um
movimento de longo prazo e sem sinais de reversão.
“A
princípio, é uma tendência. O mercado imobiliário é muito ativo e deve
continuar crescendo. Além disso, é um processo que acontece nas principais
cidades do mundo”, pontua o doutorando e mestre no Departamento de Ciência
Política da Universidade de São Paulo (DCP/USP).
Segundo
Minarelli, que também é formado em Ciências Sociais pela USP, o processo de
verticalização não gera efeitos majoritariamente positivos nem negativos às
cidades. A questão está no planejamento.
“É
preciso pensar onde e como se está verticalizando. Se mal planejado, esse
processo pode, eventualmente, sobrecarregar algumas áreas e regiões desprovidas
de infraestrutura, ou seja, sem preparo para receber um adensamento construtivo
e populacional. Por outro lado, é possível pensar também que o adensamento pode
melhorar o uso da infraestrutura já existente, além de aproximar as residências
dos locais de trabalho, reduzindo o trânsito, diminuindo o deslocamento e
melhorando a qualidade de vida das pessoas”, observa.
O
lado positivo da verticalização, segundo o especialista, está relacionado com
as questões de mobilidade urbana e com o planejamento sustentável, que deve
garantir segurança, espaços de lazer e respiros urbanos, como praças e
equipamentos de qualidade nas áreas de educação, esporte, cultura e saúde.
“Historicamente,
a cidade é o espaço do encontro, do adensamento de pessoas, objetos, movimentos
e ideias. Com planejamento, é possível que a verticalização seja positiva. Caso
contrário, a gente já experimentou ao longo da história um crescimento
desenfreado e desregulado que trouxe muitos problemas”, afirma.
Mercado
imobiliário aquecido
Conforme
indica Minarelli, os grandes centros urbanos estão cada vez mais densos e com imóveis
e edifícios que comportam, ano após ano, uma quantidade maior de unidades de
moradia.
O
crescimento na construção de imóveis verticais segue uma lógica do mercado
imobiliário, que permite aproveitar melhor o espaço disponível para construir e
comercializar um maior número de habitações.
Esse
mercado vem contribuindo com o processo de verticalização nas últimas décadas,
principalmente nas grandes metrópoles brasileiras, as quais concentram um
número massivo de moradores que demandam cada vez mais a expansão do setor de
serviços, de investimentos e, consequentemente, da construção de condomínios.
Um documento
da Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (ABRASSP),
disponível no site do Senado Federal, aponta que mais de 68 milhões de pessoas
moram em condomínios no Brasil, os quais são administrados por mais de 421 mil
síndicos em todo o País e movimentam um valor em torno de R$ 165 bilhões por
ano.
Nesse
contexto, cresce também a demanda por profissionais para serviços de
manutenção, instalação, montagem
de móveis, conserto ou reforma nas residências e nos espaços comuns dos
condomínios. De acordo com dados da Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (Abrainc), o mercado imobiliário é responsável por mais de 134 mil
vagas de empregos formais abertas em 2021.
Só
em abril, foram registrados mais de 22 mil postos de trabalho com carteira
assinada no segmento em torno dos prédios, condomínios verticais e horizontais,
entre outros empreendimentos.
O
edifício mais alto do Brasil
Por
falar em economia e mercado imobiliário, é impossível não citar o prédio mais
alto do Brasil atualmente.
Localizado
em Balneário Camboriú (SC), uma cidade litorânea conhecida por seus
arranha-céus à beira mar, o edifício residencial Yachthouse by Pininfarina, que
está em fase de acabamentos, é o maior do País: são 281 metros de altura,
distribuídos em 81 andares e 264 unidades.
Inspirado
no universo náutico, o prédio de alto padrão fica próximo à marina, ao rio e ao
mar, local nobre do município e, entre os compradores do imóvel na planta,
estão personalidades como o jogador Neymar e os sertanejos Luan Santana e
Sorocaba.
Para
erguer a construção, foram necessários 600 trabalhadores, 12 mil toneladas de
aço e quase 90 mil m³ de concreto. O custo total do empreendimento é de cerca
de R$ 21 milhões.
O
prédio é tão alto que equivale a 1 estádio e meio de futebol, 161 homens de pé,
56 carros, 2.500 martelos e 2.007 tijolos empilhados.
Todos
os dados e o infográfico do levantamento sobre o crescimento do número de
apartamentos no Brasil estão disponíveis, na íntegra, no blog
de Triider.
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