Redes de ensino devem oferecer formação aos profissionais e apoiar as escolas na definição de estratégias que considerem o contexto dos seus territórios
Desde
a entrada da escola, com o atendimento dos porteiros, até à sala de aula, na
didática dos professores, todos os profissionais de educação precisam se
apropriar de uma perspectiva inclusiva para garantir acesso, permanência e
aprendizagem com equidade aos estudantes com deficiência. Para responder a este
desafio, redes de ensino devem oferecer formação e apoiar as equipes das
escolas para a definição de estratégias que considerem o contexto dos seus territórios.
Está
na Constituição Federal (artigo 6º e do artigo 205 ao 214): o direito à
educação deve ser garantido para todos, sem qualquer distinção. Por isso, os
estudantes com deficiência têm direito de frequentar escolas regulares, que
atendem a todos os públicos.
Por
isso, a discussão não é se a escola deve matricular um aluno com deficiência,
já que este é um direito previsto em lei, e sim garantir a aprendizagem desses
estudantes. “É preciso mudar a ideia de que a criança com deficiência vai à
escola para se socializar e que o professor não está preparado para lidar com
ela”, ressalta a formadora do Instituto Rodrigo Mendes, Katia Cibas. Segundo a
instituição, entre os princípios da educação inclusiva estão os que todas as
pessoas aprendem e que cada processo de aprendizagem, independentemente se há
ou não deficiência, é singular.
Mãe
de uma criança com autismo, a escritora e jornalista Andrea Werner, defende que
as escolas regulares recebam os estudantes com deficiência com mais preparo.
“Nunca teremos uma sociedade mais inclusiva, que abrace a diversidade, se não
convivermos com pessoas com deficiência desde cedo. Se desde o berçário
pudermos conviver com uma criança com autismo, outra sem braço, uma criança
cega, tenho certeza absoluta de que a realidade será outra.”
Para
ela, é fundamental formação continuada aos profissionais de educação e uma
mudança na grade curricular para as próximas gerações. “Os professores precisam
aprender práticas, métodos, conteúdos para serem efetivamente usados. Por isso
entendo o desespero deles quando dizem que não estão preparados”, conta.
Com
o objetivo de apoiar as redes municipais na garantia de acesso dos estudantes
com deficiência em classes regulares, o programa Melhoria da Educação lançou a
tecnologia educacional “Gestão inclusiva: pessoas com deficiência”. “É
importante que as secretarias se debrucem sobre sua realidade com o propósito
de não deixar ninguém para trás, tendo diálogo com a comunidade e propondo
estratégias pedagógicas inclusivas”, explica Sonia Dias, coordenadora de
Implementação Municipal do Itaú Social, responsável pela
iniciativa.
Exemplo
Itapevi
(SP) é um dos municípios beneficiados pelo Programa Melhoria da Educação e
coautor da tecnologia Gestão Inclusiva, que tem a parceria técnica do Instituto
Rodrigo Mendes. O município concentrou seus esforços para tornar a rede de
ensino mais inclusiva e foram realizados diversos encontros formativos com os
funcionários da Secretaria Municipal de Educação, da secretária ao funcionário
administrativo, da nutricionista ao motorista, o que garantiu uma diversidade
de olhares sobre as necessidades das pessoas com deficiência.
Para a professora Sandra Mara Robles Domingues, os encontros formativos mostraram que todos os profissionais da escola são responsáveis pela educação inclusiva. “Permitiu aos participantes desconstruir a visão assistencialista para com esses estudantes. Nosso papel é o de derrubar barreiras e pensar maneiras de favorecer a aprendizagem, pois toda pessoa é capaz de aprender”, contou.
No primeiro semestre de 2021, as
escolas de Itapevi atendiam mais de 430 crianças e adolescentes com
deficiência, público ao qual se destina a educação inclusiva; esse número
varia, pois chegam laudos diariamente à secretaria. Um passo importante para a
rede foi enfocar as necessidades do aluno, e não a deficiência. “Aprendemos a
colocar a pessoa na frente da deficiência. Ele não é o autista fulano de tal,
ele é o João, que tem seus gostos e preferências e sua forma de aprender”,
explica Malu Sobreira, da equipe técnica do Gerenciamento de Atendimento
Educacional Especializado (Gaee) do município.
Nenhum comentário:
Postar um comentário