O
cenário de distanciamento social e confinamento nos lares tornou mais
desafiador o controle por parte dos pais, mas o cuidado deve ser mantido
O erro mais comum percebido no
cenário imposto pela pandemia do coronavírus é a livre demanda e nisto se
incluem as guloseimas como biscoitos, doces, salgadinhos e diversos outros
alimentos ultraprocessados. A vice-presidente da Sociedade de Pediatria do Rio
Grande do Sul (SPRS), gastro-pediatra, Cristina Helena Targa Ferreira, reforça
que já está bem sinalizado por diversos profissionais da psicologia que o
contexto de isolamento que estamos vivendo gera uma maior ansiedade e estresse
emocional. Com as crianças não é diferente e esse processo normalmente afeta o
comportamento alimentar.
“A comida está diretamente
ligada a sensação de prazer e conforto, sentimentos mais desejados em um
momento de ansiedade e estresse. Sem contar que muitas vezes, por estarem
isolados em casa, com menor demanda de atividades da sua rotina anterior, é
normal que a comida comece a ser utilizada como um passatempo. Normalmente o
tipo de alimento que é consumido nesses momentos são os doces, chocolates e
guloseimas em geral, pois eles liberam substâncias neurotransmissoras
envolvidas na sensação de prazer, gerando sensações positivas e reconfortantes,
diminuindo a sensação emocional negativa e de ansiedade naquele momento”,
explica Cristina.
A nutricionista materno-infantil,
Flávia Guedes, reforça que é importante nesse momento de isolamento tentar ter
sempre disponível alimentos mais naturais como frutas, verduras e legumes para
serem utilizados como fontes de alimentos rápidas e práticas, evitando ter
disponível e ao alcance das crianças produtos industrializados e
ultraprocessados como biscoitos recheados e outros. Também é indicado manter os
horários das refeições sempre que possível e fazer refeições com a família.
Existe uma quantia que pode ser estabelecida como
limite?
A nova edição do Guia Alimentar
para Crianças Abaixo dos 2 anos, lançada pelo Ministério da Saúde em 2019,
estabelece que o açúcar não deve ser oferecido nos dois primeiros anos de vida
da criança.
As crianças estão em plena
formação de hábitos de vida. A alimentação deve fazer parte desta construção e
aprendizado de hábitos. Nos dois primeiros anos de vida, os bebês estão
conhecendo os alimentos e iniciando sua relação com a comida. A oferta de
açúcar neste momento pode favorecer a criança de vir a ser um indivíduo com
preferências pelo doce. Os estudos comprovam que o consumo exagerado de açúcar
e alimentos ultraprocessados, durante a infância, aumentam o risco de
obesidade, diabetes, hipertensão, alteração no colesterol, triglicérides e
doenças cardiovasculares o que, por sua vez, eleva a probabilidade de
desenvolvimento de outras doenças na idade adulta.
Após os dois anos o açúcar é
liberado, porém, devemos sempre cuidar com relação a essa liberação. A ideia é
que mesmo neste período a criança continue sendo exposta a outros sabores e
mantenha sua descoberta e desejo pelos diferentes alimentos, mesmo que menos
palatável na percepção de um adulto. Este processo é muito importante para
adaptação de paladar.
A recomendação atual do açúcar
é de 25g (100 calorias) por dia, que são aproximadamente seis colheres de chá.
O limite estabelecido se refere apenas ao açúcar adicionado e não ao natural,
encontrado nos alimentos, como nas frutas, nos sucos naturais sem adição de
açúcar e lácteos por exemplo. Parece muito, mas esse valor é encontrado
facilmente em pequenas quantidades de alimentos que costumamos ver diariamente
sendo oferecidos às crianças, como em um copo de refrigerante, um pedaço de
bolo simples ou 40 gramas de chocolate ao leite.
Muitas vezes esse valor é
atingido ou ultrapassado em uma única preparação, como em uma lata de
refrigerante, que tem aproximadamente 35g e uma fatia de bolo com cobertura de
brigadeiro que ultrapassa 30g. Vale lembrar que açúcar adicionado é qualquer
ingrediente adoçante que contém calorias, como o açúcar (qualquer um dos tipos,
mascavo, demerara e etc.), xarope de milho, glicose, frutose, mel ou melaço,
adicionado aos alimentos durante seu preparo.
Estudos mostram que crianças
que consomem alimentos com excesso de açúcar com maior frequência tendem a
comer menos comidas saudáveis como frutas, verduras e grãos integrais por exemplo.
Cristina Targa Ferreira -
Gastro pediatra - CRM 12788/RS
Flávia Guedes - Nutricionista
Materno-Infantil - CRN 2 7159
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