Nada tenho a favor de qualquer partido político
brasileiro. Minha atitude se deve ao fato de esses organismos serem, há muitos
anos, cartórios da política partidária sob fiscalização de instituições
denominadas tribunais eleitorais. Neles se formalizam filiações, convenções,
candidaturas, coligações e outros atos posteriormente encaminhados ao controle
superior dos tribunais.
Sucessivo fracionamento fez com que o número de partidos
se tornasse mais um fator de complicação para essa coisa instável que é a
política em nosso país. Graças à multiplicação desses organismos, 33 legendas
têm hoje representação na Câmara dos Deputados, sendo a bancada petista a mais
numerosa. O partido tem 51 deputados e representa exíguos 10% do plenário.
Se a bancada mais numerosa tem um peso de 10%, imagine as
dificuldades e o trabalho envolvidos na formação de maiorias em deliberações
frequentes mobilizando um conjunto em que, a rigor, só existem minorias. E
muitas minorias mínimas. Com efeito, entre as siglas presentes na Câmara dos
Deputados, existem 13 cujas bancadas não alcançam 3% do plenário. Têm, no
entanto, prerrogativas regimentais e direito a nada desprezíveis recursos
públicos.
Dos partidos esperar-se-iam ideias, propostas e líderes
para as disputas eleitorais, mas é escassa a produção de boa qualidade. Não
poderia ser diferente. Por diversificadas que sejam as opiniões políticas e as
compreensões da sociedade diante dos problemas sociais, políticos e econômicos
do país, não há, nos espectros da realidade e das ideias, conteúdos em número
suficiente para proporcionar identidade própria a tantas legendas e empolgar
seus filiados.
A judicialização da política no Brasil tem muito a ver
com o que aqui descrevo. Ao plenário de um parlamento formado por pequena
multidão de 513 deputados aplicam-se funcionalidades inerentes à psicologia das
massas. Para fazer valer um entendimento, uma ideia, um princípio, é mais fácil
convencer um ministro do STF, ou três ministros em numa turma do STF, ou seis
ministros no plenário do STF, que convencer a maioria em cinco centenas de
deputados. Por isso, partidos e parlamentares, com crescente frequência,
recorrem ao Supremo para emplacar seus pontos de vista.
O mais
instigante ao observador é perceber que, muitas vezes, tais demonstrações de
debilidade do parlamento encontram acolhida na Corte, porque não há mais
limites para o que aquele poder possa fazer nestes preâmbulos da ditadura do
judiciário.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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