Níveis crescentes de miopia carregam implicações
clínicas e econômicas significativas, com mais pessoas em risco de complicações
associadas à alta miopia
O número de pessoas com miopia aumentou dramaticamente nos últimos anos em várias
regiões do mundo. Por exemplo, em muitas cidades da China, mais de 90% dos estudantes universitários tem miopia. Em números absolutos, essa é uma das maiores
epidemias que a humanidade já viu, muito maior que a epidemia da obesidade.
O boom da miopia foi observado pela primeira
vez na década de 1980, nas cidades dos países do leste asiático, como Coreia,
Taiwan e Cingapura. As cidades da China apareceram logo depois no radar, e uma
tendência semelhante está sendo observada na Europa.
Do borrão à cegueira
Para a maioria das pessoas, a miopia é apenas um
inconveniente que requer correção com óculos, lentes de contato ou cirurgia
refrativa. “Na verdade, a miopia está associada a um risco aumentado de cegueira
por descolamento de retina, glaucoma e degeneração macular miópica. O risco de cegueira aumentou com o agravamento da
gravidade da miopia e esse é um grande problema de saúde pública”, afirma o
oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares
(IMO).
Pesquisadores, oftalmologistas e pais de crianças
que desenvolvem miopia procuraram explicações e o último "culpado
detectado" é o uso de dispositivos eletrônicos pessoais. Mas a epidemia de
miopia na Ásia precedeu o lançamento dos telefones inteligentes por muitos anos
(o primeiro iPhone foi lançado em 2007). Novas tecnologias - televisores nos
anos 60, computadores nos anos 80, laptops, nos anos 90 e atualmente smartphones
e tablets - foram todos acusados de causar miopia.
Já em 1600, o astrônomo alemão Johannes Kepler,
quem primeiro identificou que as lentes côncavas poderiam corrigir a miopia,
teria atribuído sua miopia a todos os seus anos de
"intenso estudo de tabelas astronômicas e assim por diante".
Quem é culpado pela miopia?
Então, o que os pesquisadores descobriram até
agora? “Ter pais com miopia aumenta o risco de uma criança ter miopia. Mas as crianças podem imitar o estilo de vida
potencialmente indutor de miopia de seus pais - como usar mais a visão de
perto, que requer foco em objetos em close e estudar muito -, bem como herdar
seus genes”, afirma o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o
corpo clínico do IMO.
Após anos de debate sobre se a miopia é devida a
fatores genéticos ou ambientais (leitura e abuso de telas), agora sabemos que
ela é uma interação entre os genes e o ambiente. A
miopia não resulta de um único defeito genético; mais de 160 genes interagindo contribuem
para o risco de miopia.
Quais são os gatilhos ambientais que explicariam
uma epidemia?
“Muitos estudos analisaram possíveis fatores de
risco, mas apenas alguns foram publicados de maneira consistente em todo o
mundo sobre anos de estudo e falta de tempo gasto ao ar livre durante o
dia. Isolar essas interações é um desafio, porque esses
fatores estão inter-relacionados: crianças que estudam mais, passam menos tempo
ao ar livre”, afirma Eduardo de Lucca.
Não culpe apenas a tecnologia
Apesar de décadas de avisos dos pais, nenhum estudo
mostrou que ficar sentado perto da televisão causa miopia. Nos últimos anos,
diversos artigos analisaram a miopia e os dispositivos eletrônicos
pessoais. Alguns, mas não todos, encontraram uma associação entre a quantidade
de uso da tela e a miopia. Mas isso não significa que o tempo de tela em si
cause miopia.
“Em vez de ler livros, as crianças estão lendo mais
nas telas e mudando a natureza de suas atividades, usando mais a visão para
perto. As taxas crescentes de miopia estão relacionadas a estes comportamentos:
usar a visão de perto, em vez do uso da tela em particular”, explica Eduardo de
Lucca.
As crianças também estão mudando a maneira como
usam as telas. A ideia de que o uso da tela ocorre em ambientes fechados foi
completamente derrubada pela mania do Pokémon Go, quando os
jogadores saíam com seus smartphones em busca de guloseimas
virtuais. Além disso, agora, temos crianças usando óculos de realidade
virtual para jogar e estudar.
Limites de tempo na tela
·
Crianças menores de dois
anos não devem ter acesso às telas;
·
Crianças de dois a cinco
anos devem ter no máximo uma hora de tela por dia;
·
Crianças de cinco a 17
anos de idade devem limitar-se a duas horas de uso de tela recreativamente por
dia.
Não há base científica rigorosa para impor esses
limites em relação à saúde visual. Mas um estudo recente mostrou que uma grande porcentagem de
crianças excede esses prazos. Os possíveis problemas de saúde relacionados ao
tempo de tela são diversos. Sono, postura, nível de atividade física e problemas
comportamentais são outros motivos de preocupação.
Basta sair mais?
Diferentemente das gerações anteriores, a maioria
das crianças hoje passa muito tempo na frente de telas. Mas não temos
resultados consistentes sobre o uso de televisão, computadores, tablets,
smartphones ou até de óculos de realidade virtual, como a principal
causa da miopia.
“Claramente, precisamos de estudos grandes e bem
conduzidos, nos quais possamos medir diretamente o uso do tempo de tela em uma
ampla gama de problemas de saúde, desde a infância até a idade adulta jovem”,
diz o oftalmologista Eduardo de Lucca.
Algumas cidades da China estão aferindo o tempo gasto ao ar livre pelas
crianças, nas escolas, para ver se isso impede
ou diminui o progresso da miopia.
IMO-Instituto de Moléstias Oculares
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