Novo tratamento
mais que dobrou a sobrevida global mediana dos pacientes e
diminuiu em 64% o risco de progressão da doença ou morte
Um tipo de câncer que
pode surgir em qualquer área do corpo e prejudicar o sistema de defesa do
organismo representava uma necessidade não atendida para parte dos pacientes
que não respondiam aos primeiros tratamentos e não podiam fazer o transplante
de medula. Reconhecendo a gravidade da doença e sua condição debilitante, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente um
medicamento inédito no país. O polatuzumabe vedotina, em combinação com
bendamustina e rituximabe, recebeu indicação para o tratamento de linfoma
difuso de grandes células B quando as terapias iniciais falharam.
De acordo com o estudo GO29365, que embasou a aprovação pela Anvisa, a
adição de polatuzumabe vedotina à combinação rituximabe e bendamustina aumentou
significativamente a taxa de resposta completa ao final do tratamento,
significando que nenhum câncer foi detectado no momento da avaliação, quando
comparada à combinação isolada (40% versus 17,5%). Esse resultado mais que
dobrou a sobrevida global mediana dos pacientes tratados (12,4 versus 4,7
meses) e diminuiu em 64% o risco de progressão da doença ou morte. O perfil de
segurança foi compatível com a combinação isolada.
O polatuzumabe vedotina
é estudado desde 2017 e agora chega ao Brasil, já tendo sido aprovado no ano
passado pela agência regulatória dos Estados Unidos (FDA) e em janeiro pela
Comissão Europeia.
“Esta opção terapêutica
vem atender uma grande expectativa dos especialistas para esse perfil de
pacientes, que estavam órfãos de tratamento eficaz”, explica Jayr Schmidt
Filho, chefe do Centro de Referência de Neoplasias Hematológicas do AC Camargo
Cancer Center. Segundo o médico, o novo tratamento beneficiará principalmente
os pacientes mais debilitados, os idosos e aqueles com outras doenças, as
chamadas comorbidades.
Linfoma
difuso de grandes células B – entenda
É o subtipo mais comum
entre os Linfomas não Hodgkin, respondendo por aproximadamente 30% nessa
classificação e por 80% de linfomas agressivos em geral. No mundo todo, isso
equivale a 120 mil pessoas diagnosticadas a cada ano com este subtipo. A
estimativa do Instituto Nacional do Câncer é de que sejam 3 mil novos casos
anualmente no Brasil.
Este tipo de câncer é
chamado de difuso porque as células cancerosas se espalham dentro do tumor,
deformando os linfonodos, que são pequenas estruturas presentes em todo o
organismo responsáveis por filtrar substâncias nocivas – processo essencial
para o sistema imunológico combater infecções e destruir germes. É
caracterizado como agressivo porque avança de forma rápida e, se não tratado de
imediato, o paciente vive menos de um ano, em média, após o diagnóstico.
Devido à sua natureza
agressiva, sintomas como linfonodos aumentados costumam aparecer precocemente.
Quatro a cada dez pacientes são diagnosticados nos estágios iniciais da doença,
quando a taxa de cura é de 60%. No entanto, até 40% dos pacientes apresentam
recidiva, momento em que as opções de terapia de resgate são limitadas e a
expectativa de vida é em torno de três a quatro meses.
Aproximadamente metade
desses pacientes não são elegíveis ao transplante de medula por fatores como
outras doenças (as chamadas comorbidades), idade avançada ou coleta de
células-tronco malsucedida. Esse perfil de pacientes é de alto risco e possui
chance remota de cura; portanto, tem como objetivo de tratamento a
estabilização da doença e o aumento da sobrevida.
Mecanismo
de ação
O polatuzumabe vedotina
faz parte de uma nova classe de imunoterapias direcionadas para o câncer
conhecidas como anticorpo-droga que, diferentemente da quimioterapia
tradicional, atuam sobre células específicas. O medicamento é o primeiro a ter
como alvo específico o CD79b, com capacidade de se ligar a esta proteína,
encontrada apenas em células B (um tipo de glóbulo branco). Uma vez acoplado ao
alvo, libera a quimioterapia dentro da célula do câncer, preservando as
saudáveis.
Roche
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