Quando
o Greenpeace decidiu, em 2011, coletar amostras de um rio na China para
analisar a quantidade de concentração química em suas águas ninguém imaginava o
desdobramento que isso viria a ter. Ao fazer os testes nessas amostras, encontraram
no rio 11 substâncias químicas em concentração extremamente alta, perigosas
tanto para o ecossistema quanto para a saúde humana. O mais preocupante é que
no entorno daquele rio estavam duas grandes empresas têxteis, que forneciam
produtos para 11 marcas globais.
As
marcas foram alertadas para o risco que tinham ao utilizar aqueles produtos e a
ONG lançou alguns relatórios, entre os quais o “Lavanderia Suja”. Depois disso,
foi instituído o compromisso “Detox” para desintoxicar toda a cadeia têxtil até
2020. A preservação do meio ambiente, a segurança da saúde humana e o
desenvolvimento sustentável são as premissas do pacto que as empresas assinaram
com o Greenpeace. Por isso, elas sabiam do compromisso assumido para limpar sua
cadeia desses produtos químicos, mas não tinham ideia de como fazê-lo.
Foi
a partir disso que surgiu o programa ZDHC (Zero Discharge of Hazardous
Chemicals) ou Descarte Zero de Produtos Químicos, que se propõe a unir esforços
para eliminar produtos químicos perigosos de suprimentos de couro, calçados e
artigos têxteis. Atualmente, o ZDHC tem a colaboração de 29 marcas signatárias,
86 afiliadas da cadeia de valor e associados. Nos próximos 10 anos, quem não
tiver essa consciência vai estar fora do mercado.
A
empresa inglesa Intertek participa globalmente do ZDHC, auxiliando marcas
de roupas, calçados, varejistas e fabricantes gerenciar seu risco químico por
meio de coletas de amostras de efluentes, testes químicos (em efluentes e
produtos químicos), verificações e treinamentos. A meta é alcançar a ampla
implementação de química sustentável e as melhores práticas nessas indústrias
para proteger consumidores, trabalhadores e o meio ambiente. Com base nos
resultados obtidos, a meta é eliminar a 0% os produtos químicos perigosos que
causam algum dano ao ser humano e/ou meio ambiente.
Para
se ter uma ideia da gravidade da situação, podemos pegar como exemplo o Jeans,
que é o tecido com a maior incidência de contaminação de Nonilfenol,
principalmente na etapa molhada de produção, que envolve a estamparia e o
tingimento. Trata-se de um produto químico conhecido por alterar o gênero
de peixes, transformando machos em fêmeas. Também é muito nocivo ao homem,
podendo causar infertilidade é até câncer. Existem também o risco dos metais
pesados que são um veneno para a saúde, porque vão se bioacumulando no
organismo e não existe tratamento para “descontaminar o organismo”, quando
atinge o limite, as consequências são gravíssimas.
Muitas
vezes o consumidor se confunde ao adquirir suas roupas. Acham, por exemplo, que
um tecido com fibra 100% natural é sinônimo de produto natural. Mas não é
verdade, porque a fibra 100% natural pode estar contaminada por pesticidas,
agrotóxicos e outras substâncias. O couro é outro item que também precisa de
uma atenção especial.
A
composição química para a produção dos tecidos precisa atender aos padrões
recomendados. O maior problema está aí, porque não se consegue simplesmente
retirar esses produtos dos processos. Eles são vitais para a área têxtil, pois
garantem a maciez, flexibilidade e qualidade do produto. Se o fabricante deixar
de usá-los e não substituir por outros correspondentes, terá um problema grave
de produção. Este problema não acontece só na indústria brasileira. Os
tecidos importados também podem estar contaminados. Por isso, o ideal é que
eles sejam testados na origem, antes de embarcar para o Brasil.
O
consumidor que adquirir uma camiseta estampada com uma dose pequena de Ftalato
(adicionado para atribuir plasticidade às estampas) vai perceber com o tempo
que a aparência da roupa não vai ficar muito boa, porque vai rachar mais
rápido. Na opinião dele, a peça será sinônimo de má qualidade.
Até
2020, tanto a indústria têxtil quanto a calçadista precisam se adequar aos
padrões do programa. Mas é preciso fazer um amplo trabalho de conscientização
junto ao consumidor, porque se ele espera que as empresas mudem sua forma de
produção, ele também tem que mudar sua forma de consumir. No final, nós que
decidimos se vale a pena ou não comprar um produto com um valor agregado maior
mas mais seguro e confiável. Podemos concluir que “você não é o que come,
você é o que veste”.
Renata Lucio - Gerente Comercial de Softlines da
Intertek
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