Brincar
na rua, pular corda, soltar pião, jogar bolinha de gude, andar de carrinho de
rolimã, soltar pipa.... Ah, as brincadeiras da infância! Que tempo bom!
Para quem foi criança na década de 70 como eu, essas eram algumas das opções
que a criançada tinha para se divertir. Apesar dos horrores que o país vivia, o
nosso mundo era mais ou menos assim: brincar na rua, subir quando a mãe
chamava, ir à escola, assistir TV... Hoje, fico imaginando se a nossa geração
não foi a última a viver esse “dolce far niente”.
O
fato é que com o advento da internet e dos dispositivos eletrônicos e
inteligentes a vida mudou — e mudou rápido demais! Tão rápido que não deu tempo
de nos prepararmos para essa geração que já nasce com o celular na mão! Aliás,
as maternidades mais modernas já oferecem aos pais o acompanhamento em tempo
real da chegada do herdeiro para os familiares e amigos. Sim, são novos tempos!
Pais
e filhos estão vivendo esse novo momento na sociedade, mas (como tudo que é
novo) isso gera medo. Afinal, como lidar com essa avalanche de tecnologia que
invade os nossos lares e os quartos dos nossos filhos trazendo o melhor e o
pior do mundo para eles? Como garantir que eles vão ter uma infância saudável,
alegre e cheia de amigos? Dá para lutar contra toda essa modernidade e os
riscos que ela traz para a saúde física e mental dos nossos filhos? Dá
para protegê-los das baleias azuis e das Momos?
Sinceramente,
não sei se existe uma receita pronta para isso, mas acredito que mesmo
pertencendo a um outro século ou época, cabe aos pais orientar os filhos a
terem bom senso e equilíbrio em tudo na vida, inclusive na forma como utilizam
essas novas ferramentas tecnológicas. A proibição do uso de celulares
e tablets, na minha opinião, é uma perda de tempo e energia tanto para
pais como para os educadores, mas isso é assunto para outro texto.
Como
educadora e mãe de dois filhos que já são adultos, a minha sugestão é que os
pais estabeleçam limites no uso desses aparelhos. Nunca entendi bem por que uma
criança que está na educação infantil precisa ter um celular de última geração!
Agora, no momento em que a criança começa a ter outras atividades fora de casa
além da escola e já tem alguma autonomia para andar sozinha, aí sim, o celular
pode ser uma opção bastante útil para que elas possam manter os pais ou
responsáveis informados. Agora, se são os pais que levam e buscam na escola
todo dia, pra que celular? Se acontecer alguma coisa mais grave, a escola fará
o contato com os pais e vice e versa. Já tive turmas de crianças de 10, 11 anos
em que os pais ficavam mandando mensagens perguntando se estava tudo bem! Além
de atrapalhar a aula, ainda distraía a criança. Totalmente desnecessário!
Nunca
me esqueço do dia em que atendi um casal de pais numa escola de horário
integral onde dava aulas. Eles chegaram muito preocupados com as notas do
filho, que estava quase perdendo o ano. Era um menino tranquilo, mas passava a
manhã toda dormindo na sala ou estava sempre meio desligado, aéreo. Perguntei
aos pais como era a sua rotina quando chegava da escola e eles disseram que ele
jantava e ia para o quarto jogar. Quando perguntei até que horas, os pais não
souberam responder, porque eles iam dormir, “pois tinham tido um dia
cansativo”. O problema começava nesse momento: o menino ia para o quarto, não
incomodava ninguém, mas passava a noite jogando. De manhã, acordava às 6 horas
para entrar às 7h30 no colégio e ficar até as 18h. A minha sugestão foi pedir aos
pais que retirassem a TV e o computador do quarto do menino e que estipulassem
um horário para que ele desligasse o celular e o entregasse aos pais. Isso seria
mantido até que as notas melhorassem. O remédio foi amargo, mas rendeu bons
resultados e o pequeno recuperou as notas, conseguindo finalizar o ano. Claro
que cada caso é um caso, mas nessa situação específica, a participação dos pais
foi fundamental para que a criança não saísse prejudicada.
Um
ótimo parâmetro para os pais saberem como estipular o tempo de uso de celulares
e outros aparelhos é se basear na idade da criança. Ou seja, quanto menor a
criança, menos tempo de celular, mais atividades variadas e, se possível, ao ar
livre, para enriquecer os sentidos, ver o que está acontecendo ao seu redor e
participar disso. Já vi muitos bebês passeando de carrinho no parque num dia
lindo de sol, mas com um tablet quase do tamanho deles preso na
frente do carrinho passando desenho animado! A minha pergunta é se essa é uma
necessidade da criança ou dos pais? O passeio pode ser um excelente momento
para pais e filhos aproveitarem um tempo de qualidade entre eles, observando o
trajeto e aprendendo coisas novas. Sendo assim, nada de tablets nesse
momento, por favor!
Agora,
à medida que a criança for crescendo, estabeleça o tempo de uso desses
aparelhos e, se eles já forem capazes de entender, explique os motivos, mas
lembrando que a última palavra é de vocês, os pais. Combine horários e faça
valer o que ficou decidido. Fique atento à hora de dormir das crianças. Elas
vão tentar driblar as regras, mas cabe a vocês manterem o que foi combinado.
“Ah, mas eles vão insistir, chorar, dizer que é só mais um pouquinho! O que a
gente faz?” Nada! Já diz o ditado: o combinado não é caro. Se for período de
aulas então, nem pensar em deixar os pequenos acordados pela madrugada afora
correndo o risco de dormirem na sala de aula no dia seguinte! No caso das
férias, pode haver uma flexibilidade maior, mas não permita que as crianças
passem a madrugada jogando! As crianças precisam de no mínimo 8 a 10 horas de
sono de qualidade para se desenvolverem bem. Com isso em mente, siga em frente!
Vocês estão fazendo o melhor por eles!
Mas
lembre-se de deixar outras opções de atividades para a criança fazer como
jogos, livrinhos, caixa de lápis, massinha, papel, filmes, desenhos,
artesanato, etc. Ter outras opções ajuda bastante e facilita a interação
familiar.
Os
tempos são novos e outros e todos, pais e filhos, precisamos encontrar formas
de usar os novos recursos tecnológicos com equilíbrio, tirando o melhor dessas
ferramentas que estão à nossa disposição.
Maristela Gripp -
professora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional
Uninter, doutora em estudos linguísticos e pós-graduada em psicopedagogia.
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