Adoro gente otimista. Pessoas positivas, para cima, que sempre encontram um lado bom em qualquer situação, que sempre têm uma palavra de ânimo para repassar nos momentos difíceis.
Evito pessoas pessimistas, negativas, que reclamam de tudo e só conseguem olhar o lado ruim da vida.
Médicos atestam que pessoas otimistas têm mais chance de recuperação do que as pessimistas e é sabido que muitas doenças são psicossomáticas, ou seja, causadas pelo nosso próprio psiquismo.
Sorria, agradeça, conte suas bênçãos. Escutamos isso todos os dias e, de fato, parece ser muito mais saudável olhar a vida com bons olhos do que reclamar o tempo todo. Dizem que você se torna muito bom naquilo que pratica todos os dias. Portanto, a pessoa que reclama muito acaba se tornando um profissional na arte de ver tudo o que há de errado no mundo, além de se tornar um chato.
Mas será que devemos ser otimistas o tempo todo, cada segundo de nossas vidas?
Quando o otimismo atrapalha
Nem tudo na vida são flores. Há situações em que devemos tirar os óculos cor de rosa e encará-las como elas realmente são: ruins. O eterno otimista pode deixar passar uma excelente chance de melhorar sua vida por nunca encarar um problema de frente, por sempre achar que aquela situação, na verdade, é boa, tem seu lado bom.
O eterno otimista pode ser, antes de tudo, um covarde. Aquele que foge dos problemas e que prefere não tomar conhecimento dos mesmos.O eterno otimista pode estar se boicotando e impedindo seu crescimento.
Reclamar por reclamar, sem fazer nada para mudar uma situação, é péssimo. A reclamação deve servir para sinalizar que há alguma coisa errada em nossa vida e que precisamos tomar uma providência para mudá-la. Quando reclamamos tomamos consciência do que está errado e podemos tomar uma atitude.
Reclamar por reclamar é inútil. Reclamar para se conscientizar e depois mudar aquela situação não deixa de ser saudável.
Uma jovem, em determinadas épocas de sua vida, reclamava muito. Ficava indignada com coisas que ela considerava errada e desabafava com quem quisesse escutá-la. No entanto, sempre que aquela fase ruim passava, a jovem conseguia um enorme progresso em sua vida. Resolvera o que estava errado e vivia mais feliz. Cada crise era uma oportunidade para ela crescer.
Sim, reclamar pode ser muito útil, desde que não se reclame pelo simples prazer de reclamar.
No entanto, aqueles que nunca reclamam, que nunca admitem que haja alguma coisa errada em sua vida, que sempre acham que o copo está meio cheio, estes nunca vão mudar nada, porque não há nada para mudar.
O filho está indo mal na escola? Tudo bem, se ele repetir o ano será bom para que ele aprenda uma lição.
Certo, mas será que não há nada que se possa fazer enquanto ele ainda não repetiu? Há um claro problema acontecendo ali e é preciso reconhecê-lo e tentar resolvê-lo.
Seu marido te trata mal, mas você acha que é só o jeito dele e que no fundo ele é uma ótima pessoa? Além disso, é uma ótima oportunidade de você adquirir mais paciência e empatia?
Errado. Ninguém deve ser maltratado. É preciso reconhecer que existe um problema no relacionamento e tentar resolvê-lo.Você odeia o seu trabalho, mas tudo bem, pois o que importa é o salário no fim do mês?
Certo, o salário importa. Sabemos que nem sempre é fácil conseguir o emprego de nossos sonhos e às vezes precisamos nos contentar com um trabalho estável e que pague bem. Porém, será que não devemos ao menos considerar um outro emprego? Será que não devemos ao menos refletir sobre o quanto estamos infelizes e como podemos mudar esta situação?
O efeito Polyanna
Para quem não conhece a história, Polyanna era uma garota que aprendeu com seu pai a achar sempre um lado bom em tudo. Quando foi à missa de domingo e percebeu o quanto isso era sofrível, logo encontrou o lado bom: "Agora faltam ainda sete dias para o próximo domingo".
Só achar o lado bom não resolveu o problema de a missa ser horrível. No entanto, Polyanna, em uma conversa com o pastor, conseguiu fazê-lo refletir sobre o porquê daqueles sermões tão cheios de raiva e temor. Em pouco tempo, o pastor mudou os sermões e a missa passou a ser muito mais agradável.
Portanto, somente ver o lado bom das coisas, nem sempre é de muita utilidade. É uma boa escolha, desde que se tenha, ao mesmo tempo, um olhar crítico e desde que saibamos a hora em que devemos aceitar que aquela situação é o que ela é: péssima, problemática, inaceitável.
Mesmo Polyanna, quando descobre que está paralisada, não consegue mais jogar seu jogo de descobrir o lado bom de tudo. Às vezes, é assim. Precisamos aceitar o ruim e a partir dele tentar conseguir o melhor.
O inevitável
Há coisas que são inevitáveis. Ficar paralítico, por exemplo. Não há nada que se possa fazer a este respeito. Reclamar de nada vai ajudar, muito pelo contrário, pode piorar a situação. Neste caso, portanto, quanto maior o otimismo, melhor. Tentar descobrir o lado bom daquela situação, por mais difícil que seja.
No entanto, não se pode esperar um otimismo imediato. É preciso assimilar o problema, a situação irreversível, admitir que realmente não há nada que se possa fazer. O mais otimista dos otimistas pode se ver em uma situação de angústia, de revolta, de negatividade quando deparado com um fato horrível e inevitável. É normal.
Nestes casos, o melhor é deixar que a pessoa elabore seu luto e volte, a seu tempo, a ser a otimista de sempre.
Uma senhora, extremamente positiva, daquelas que nunca reclamavam de nada, para frente e para cima, um dia se viu viúva. Entrou em depressão e só conseguiu melhorar com medicamentos e o apoio dos filhos. Sim, o otimismo às vezes falha e tudo bem. Precisamos estar preparados para isso também.
Mas é bom ser otimista?
Reclamar às vezes pode ser benéfico. Olhar para o copo meio vazio, às vezes pode ser útil. Mas com certeza, o otimismo, na maior parte das situações ainda é o melhor remédio para uma vida saudável e feliz.
O importante é o equilíbrio. Sempre. Saber em que momentos tentar achar o lado bom da situação e saber em que momentos reclamar, ficar irritado e insatisfeito com a sua vida.
O equilíbrio é tudo. Mas quanto mais a balança pender para o otimismo, melhor. Nossa mente é poderosa. Domina nosso corpo tanto para o bem quanto para o mal. Diversos homens sábios já disseram que somos o que pensamos o dia todo. Assim, pensar positivamente e tentar olhar para a vida com óculos cor de rosa pode ser, sim, muito mais benéfico do que se esconder no negativismo e vãs reclamações.
Mas nunca se esqueçam do equilíbrio. Otimistas, sim. Cegos, não.
Lúcia Moyses - psicóloga, neuropsicóloga e
escritora. Lúcia lançou seu primeiro livro "Você me conhece?" em 2013
e o "E viveram felizes para sempre", em 2015, ambos voltados para a
psicologia. Em 2016, após se especializar em neuropsicologia, lançou os três
primeiros livros da coleção DeZequilíbrios, uma série de 10 volumes onde cada
um aborda um transtorno mental em forma de ficção, suspense e romance. Em 2018
lançou mais três livros da coleção "A Mulher do Vestido Azul",
"Não Me Toque" e "Um Copo de Veneno".
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