Eu sei que os acampados sob a lona preta
em Curitiba, dedicados à produtiva tarefa de berrar bom dia, boa tarde e boa
noite para Lula, não estão ali de gozação. Alguém menos afeito a essas coisas
pode pensar que sejam galhofeiros a caçoar do ex-presidente. Não, não, parece
gozação, mas não é. Sua presença e as saudações gritadas aos ventos são para
valer. Com o intuito de expressar seu apoio a Lula, entraram em uma espécie de
greve (greve de apoio só pode ser invenção tupiniquim). Pararam com tudo.
Suspenderam atividades, deram adeus à família, despediram-se do padre, do dono
do bar e se deslocaram para Curitiba sem previsão de retorno. Como me disse
certa feita conhecido frei, militante do MST, referindo-se às agruras dos
acampamentos: “Faz parte da luta”.
O grupo está minguando com o passar dos
dias e, principalmente, das noites. As imagens fornecidas pelo drone da Polícia
Federal que periodicamente sobrevoa a área permitiram constatar que o grupo
inicial era de umas 500 pessoas, sendo gradualmente reduzido às atuais 70
(segundo matéria do Estadão de 7 de maio). Não é, exatamente, o que o PT
gostaria, mas é o que pode ser suprido em recursos humanos e materiais pelo
serviço de intendência das tropas do comandante Stédile, que se não der um
jeito nisso será rebaixado a sargenteante de pelotão. Enquanto escrevo, nesta
manhã do dia 8 de maio, leio que novos ônibus estariam chegando. Ah!
Entendido que o acampamento quer
significar algo, resta saber o motivo pelo qual tem recebido tanto destaque dos
meios de comunicação. Não sendo exposto como conduta errada, avessa à ordem
pública, acaba entendido como expressão de algum sentimento nacional. Não sei o
que é mais ridículo, se o acampamento, os gritos ao vento, o ato delitivo de
carimbar cédulas de dinheiro, ou o silêncio da mídia sobre a imaturidade e
incivilidade de tais condutas e fato de que a encenação mediante a habitual
massa de manobra sequer consegue ficar parecida com mobilização popular.
Percival Puggina -
membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor
e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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