Cogitada como uma
ação que pode melhorar a dieta da população, a medida não tem efetividade
comprovada e pode até provocar um efeito reverso
A ideia de taxar bebidas açucaradas
vem ganhando espaço entre as questões alimentares mais debatidas no Brasil. A
proposta, apoiada na crença de que o açúcar está entre os principais
responsáveis pelo aumento de peso em crianças e adultos, tem como argumento de
defesa a melhora da dieta dos brasileiros e a diminuição do potencial risco de
obesidade, problema que já atinge um em cada cinco brasileiros (Vigitel, 2016).
A taxação, reivindicada por alguns
como uma forma de incentivar a escolha de alimentos considerados mais
saudáveis, aumentaria o preço de um produto com açúcar, inibindo a sua compra
e, consequentemente, o consumo. Assim, os brasileiros ingeririam menos calorias
por dia, o que, em tese, reduziria os alarmantes índices de doenças como a
obesidade. Este efeito, porém, não foi observado em países que implementaram a
legislação, provando que a medida não tem eficácia comprovada nesse quesito. Na
verdade, o total de calorias ingeridas pareceu não mudar significativamente
Na Dinamarca, por exemplo, o chamado
“imposto da gordura”, que abrangia também as bebidas açucaradas, foi
revogado após um ano de duração, em 2011. Durante o período, 80% da população
não mudou seus hábitos de consumo e muitos migraram para produtos mais baratos.
Em casos extremos, parte dos consumidores passou a fazer compras nos países
vizinhos.
Outro caso ocorreu em 2014, no
México, que colocou a taxação em prática aumentando em 10% o valor dos
gordurosos e açucarados. Nos primeiros anos, verificou-se uma leve queda nas
vendas. Com o passar do tempo, entretanto, veio o efeito reverso: a procura por
refrigerantes voltou a crescer e, embora o consumo diário de calorias tenha
diminuído, em dois anos a média do Índice de Massa Corporal (IMC) da população
continuava a aumentar.
Entenda a obesidade
O conceito de obesidade é comumente
definido como alimentação desequilibrada e excessiva. Aliada ao sedentarismo,
gera desproporção entre a ingestão de calorias e seu gasto. Mas, além disso, o
excesso de peso resulta de vários outros fatores; condições genéticas,
endócrinas, estresse, problemas de sono etc.
A doença também é causada por particularidades
comportamentais da cultura moderna. Segundo a nutricionista Marcia Daskal, o
ritmo acelerado das grandes metrópoles tem relação direta com a alimentação.
“Com pouco tempo para a refeição, a tendência é se
alimentar fora de casa, já que é a opção mais rápida. Por consequência, o ato
de comer se tornou um momento de pouca ou nenhuma atenção aos sinais do corpo,
como o da saciedade”, comenta.
Além disso, para o cardiologista e
nutrólogo do Instituto Dante Pazzanese, Daniel Magnoni, a obesidade não está
relacionada a um ingrediente específico. “O problema é profundo e as
autoridades e profissionais de saúde devem entender que ações de educação não
acontecem no curto prazo. Hoje, visando um impacto imediato no balanço
calórico, a população caminha para um estilo de vida insustentável, cortando
alimentos considerados ‘vilões’ sem pensar em uma mudança comportamental como
um todo. Isto é muito sério”, destaca o médico.
Trazendo o mesmo ponto de vista para
as bebidas açucaradas, vale checar os dados divulgados pelo último Vigitel,
pesquisa realizada anualmente pelo Ministério da Saúde. Segundo o estudo,
já houve uma redução de 14% no consumo de refrigerantes e sucos
artificiais em dez anos, resultado dos debates realizados na sociedade civil
brasileira sobre qualidade de vida e como se alimentar melhor. Porém, nota-se
que a população com sobrepeso continua a crescer no País. “Isto mostra que a
necessidade de mudar hábitos alimentares se dá por meio da educação
nutricional. Ainda existe uma falta de conhecimento sobre escolhas conscientes
que façam sentido dentro de cada estilo de vida, contemplando também a prática
de atividades físicas”, comenta Marcia.
Impacto na escolha?
Além de não estabelecer uma relação
direta entre o preço do produto e a redução nos índices de obesidade, a taxação
de bebidas açucaradas demonstra ser um caminho incerto para a melhora da saúde
dos brasileiros, já que nenhuma solução isolada é eficaz a ponto de resolver a
obesidade. Frente a isso, os especialistas concordam sobre a importância da
implementação de medidas públicas que impulsionem uma mudança efetiva para
hábitos mais saudáveis, levando em conta trabalhar a reeducação
alimentar nas escolas e nos programas de saúde, além de combater
o sedentarismo, reintegrando o cidadão no espaço urbano.
Outra
proposta que contribuiria para mudar o cenário atual é a orientação
de profissionais da saúde e da educação sobre como repassar à
sociedade informações valiosas para uma alimentação equilibrada, variada e,
sobretudo, saudável. “São necessárias boas políticas de saúde pública,
munindo os brasileiros de informação para que façam sozinhos as escolhas
condizentes com o estilo de vida. É preciso lembrar que não existe nenhum
alimento ‘vilão’ ou proibido. Não basta taxar um ingrediente
ou discriminá-lo, mas sim ampliar o debate para incluir
quantidades adequadas e o seu consumo consciente”, aponta Magnoni.
Conclusão dos especialistas: é
preciso incentivar uma dieta balanceada, combinada com exercícios físicos e
acompanhamento de outros fatores que podem influenciar altos índices de
obesidade. Não basta, portanto, simplesmente excluir um ingrediente da sua
dieta ou punir as pessoas que consomem alimentos com açúcar. O que importa é a forma e a quantidade com que cada
ingrediente é consumido dentro do contexto cultural e social de cada
brasileiro.
Sobre a
Campanha Doce Equilíbrio:
A Campanha Doce Equilíbrio, é uma
iniciativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e tem como objetivo
promover a informação sobre o equilíbrio na alimentação e estilo de vida.
Equalizando o debate sobre o açúcar como componente que pode e deve fazer parte
de uma vida saudável, a campanha visa o bem-estar da sociedade. Nas plataformas
de blog (http://www.campanhadoceequilibrio.com.br/),
Facebook (www.facebook.com/campanhadoceequilibrio)
e Instagram (http://instagram.com/campanhadoceequilibrio),
o público pode acompanhar e participar interativamente dos conteúdos
relacionados ao universo do açúcar. O projeto conta ainda com o apoio da
Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (SIAMIG), do
Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás (SIFAEG), e
do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool do Estado da Paraíba
(SINDALCOOL).
Nenhum comentário:
Postar um comentário