Os tempos já são outros. Percebe-se nas relações
humanas, comerciais, e no coração dos núcleos familiares. O diálogo já não flui
como antigamente. Os pais já não têm o tempo livre de que dispunham para o
convívio em família, além de terem de disputar a atenção com múltiplos
dispositivos eletrônicos e veículos multimídia de interação e comunicação.
Reflexo similar dessa invasão tecnológica já é
sentido duramente pelas empresas e seus líderes. Os homens de mente jovem com
ideias tidas impossíveis e que sempre lhes pareceram inofensivos, estão fazendo
a mágica da inovação acontecer e ameaçando, quando não iniciando o processo
destrutivo, de grandes impérios econômicos ancorados em modelos negócio tidos
como impenetráveis e eternos.
As manchetes de veículos de comunicação respeitados
não deixam dúvidas de que o perigo está mesmo ao lado. Vê-se praticamente um
Golias se curvar diante de um Davi mensalmente. As apurações feitas pela Forbes
sobre as seis mais valiosas empresas do mundo indicam que em apenas uma década
aquelas fundamentadas na tecnologia tomaram o lugar das que seguiam modelos de
negócio tradicionais.
A sala ficou mais apertada e os elefantes que
colocaram no meio dela são ainda maiores e pintados de rosa.
As regras do jogo mudaram. Tamanho não é documento.
Antiguidade não é posto. Legado é peso. E tudo isso vem transformando a
realidade socioeconômica e as relações comerciais e humanas. A experiência
vivida através das revoluções industriais por gerações mais antigas, ainda
ativas, não foram suficientes para nos preparar para este momento disruptivo.
Os grandes espaços outrora existentes e que
toleravam baixa produtividade, burocracia e morosidade, processos de gestão não
integrados, grandes margens de lucro e grandes falhas estratégicas, já não
existem.
Discutir o presente nunca foi tão vital para
garantir a sobrevivência no futuro. E não me refiro apenas às empresas e seus
gestores, mas também aos indivíduos que precisam rapidamente compreender o que
está acontecendo e iniciar a “trocar da turbina em pleno voo” para não ser pego
de surpresa quando um dia acordar, olhar ao redor, e perceber que as coisas não
mais como eram antigamente.
E não é motivo para culpar uma ou outra tecnologia.
Elas sempre estiveram por perto, décadas a fio, em diferentes sabores e
formatos, mas nunca em tamanho volume e chegando com tamanha velocidade. De
fato, o que estamos vendo acontecer é fruto de uma combinação de fatores.
Resistir é ignorância. Compreender o momento e se preparar para extrair o
melhor dele é inteligência.
Discutir o presente nunca foi tão vital para
garantir a sobrevivência no futuro.
A sociedade não é mais linear, mas exponencial. Se
observarmos o momento de introdução de uma nova inovação plotada na linha do
tempo, e analisarmos o tempo que aquela inovação levou para infiltrar e
influenciar o comportamento socioeconômico, veremos essa janela de tempo
reduzindo de inovação a inovação, de revolução industrial a revolução
industrial, enquanto vemos o poder computacional dobrar em espaços de tempo
cada vez menores. Estudos indicam em até 2045, o poder computacional disponível
será equivalente ao poder cerebral de toda a humanidade. O potencial de
transformação desse único fator é perturbador!
Uma vez que mentes brilhantes saiam da inércia,
desafiem o status quo, se apropriem de métodos ágeis e vetores digitais
inovadores, e ainda, removam as barreiras, muros e caixas que outrora limitavam
suas visões e seus pensamentos, como já vêm fazendo, não veremos mais limites
para inovar.
A evolução da sociedade virá em ondas cada vez mais
velozes e uma só geração poderá presenciar e viver experiências muito
diferentes em um único ciclo de vida. O contexto socioeconômico será muito mais
dinâmico, praticamente descartável, como já acontece com os bens de consumo
disponíveis na atualidade.
Para as empresas, repensar seus modelos de negócio
e se reinventarem através da criatividade e da inovação, será intrínseco de sua
condição de sobrevivência. Um processo vivo, cíclico e contínuo. Muitas nascerão
com esse propósito no DNA enquanto outras já o farão sabendo de seu curto tempo
de vida, pois não serão capazes de acompanhar a velocidade da mudança de
contexto e de realidade.
Quase como o que acontece com grande parte das
casas noturnas atualmente, que já nascem sabendo de sua volátil vocação para se
manter atraente e altamente frequentada por muito tempo e que, por isso, tem
sua estratégia pensada desde o seu nascedouro para ser eficiente e lucrativa em
um curtíssimo espaço de tempo.
Estamos caminhando para a sociedade descartável que
promove a rápida obsolescência de empresas e pessoas que não forem capazes de
acompanhar o ritmo da transformação provocada pela criatividade e a inovação.
Só a educação salva!
Empresas e profissionais precisam reciclar seus
modelos mentais. Precisam abandonar as referências do passado e forjar novas
competências que lhes confiram velocidade de resposta e adaptabilidade para
funcionar em um cenário muito mais dinâmico. Têm que desenvolver habilidades
estruturais, como o senso crítico analítico, a inteligência emocional, a
cultura colaborativa, a capacidade de negociação, e especialmente, a
criatividade. Terão de estar preparados para resolver problemas novos
combinando ferramentas polivalentes.
É inteligente pensar em acelerar o processo de
adaptabilidade e reciclagem, seja profissional ou mesmo empresarial, bebendo
justamente na fonte dos precursores da transformação digital e das rupturas
socioeconômicas da atualidade. As startups e o modelo mental dos empreendedores
que as cercam têm muito a ensinar. São desbravadores por natureza, buscam o
aprendizado através da experimentação. Orientam-se pelo bom entendimento do
problema e desenham possíveis soluções sem se prenderem a velhas premissas. São
exímios membros de equipe e conectores, ligam os pontos, trocam informações e
constroem conhecimento coletivamente para o bem do próprio propósito de inovar
e evoluir. São o início, o fim e o meio.
Marcos
Semola - Executivo de Tecnologia da Informação, Especialista em Segurança: Governança,
Risco e Conformidade, Professor da IBE-FGV, escritor, palestrante, VP Membro do
Conselho de Administração da ISACA, Vice-Presidente de CyberSecurity do
Instituto SmartCity Business, Diretor do Founder Institute Rio, mentor de
startups e investidor anjo.
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