Novamente é quase três da madrugada
na necrópole da República. Hora de
cultos satânicos, quebrantos e esconjurações. Ágeis como drones, bruxas
esvoejam entre lápides e ciprestes. Taumaturgos de colarinho branco presidem
cerimônias.
Quem ainda não percebeu, em breve será arrastado para as consequências destes dias. Neles se reproduz o ciclo repetitivo e funesto muito bem definido por Dilma em 14 de março de 2013. Antecipando, então, campanha eleitoral em João Pessoa, ela afirmou que "Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição, mas quando estamos no exercício do mandato, temos que nos respeitar". O público presente talvez tenha tomado a primeira oração como exagero e a segunda como compromisso. No entanto, o diabo foi feito e o desrespeito derrubou a casa. Um ano e pouco mais tarde, já com a disputa eleitoral em marcha, ante público de seu estado natal, Lula disse a Dilma: "Eles não sabem o que nós seremos capazes de fazê, democraticamente, pra fazê com que você seja a nossa presidenta por mais quatro anos neste país". Os meses seguintes contêm minuciosa narrativa daquilo que, de fato seria feito, "democraticamente", para assegurar mais quatro anos para a presidenta. É do diabo que estamos falando.
Se há algo que sabemos sobre as potências das trevas é que elas não mudam de caráter nem de objetivo. O discurso de Lula aponta para a volta ao seu pior estilo, aquele anterior à carta ao povo brasileiro, com ódio exacerbado, afinação bolivariana e cheiro de enxofre.
Cenários como os que se desenham para 2018 fazem parte da nossa tradição presidencialista. As "virtudes" tomadas em maior conta no recrutamento dos presidenciáveis jamais influiriam na escolha de executivo para uma pequena empresa que almeje sucesso. Mas, se é para presidir a república, tendo voto, qualquer um serve. Causa angústia saber que, periodicamente, apostamos o presente e o futuro do país num cassino eleitoral matreiro, desonesto, onde, em acréscimo a tudo mais, sequer as urnas são confiáveis.
Em menos de um ano saberemos quem
dirigirá a república no quadriênio entre 2019 e 2022. Até lá, vamos para o
mundo das trevas, onde tudo é incerto. A irracionalidade do sistema de governo
e o vulto dos poderes em disputa, concentrados em uma única pessoa, levarão
insegurança e instabilidade ao desempenho dos agentes econômicos. Dependendo do
lado para onde for a carroça, cairá a Bolsa, subirá o dólar, cessarão os
investimentos. Afinado com as bruxas, o parlamento só se interessará por doces
(agrados e favores) e travessuras (contas ao pagador de impostos). Tudo virará
moeda nas mãos de quem tocar o sino na hora do diabo.
A revista The Economist divulga um índice
de democracia pelo qual 167 países são pontuados em relação a processo eleitoral e pluralismo,
funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades
civis. Entre os 20 primeiros lugares, apenas os dois últimos são
presidencialistas. E nós estamos no 51º lugar. Um dia a ficha cai e exorcizamos
esse modelo político.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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