Endocrinologista alerta para prescrições indevidas de hormônios
“Modulação
hormonal não é algo praticado, reconhecido ou recomendado por qualquer
instituição médica do planeta que se preze. Este nome é dado a uma prática não
reconhecida pelas sociedades médicas onde o prescritor tenta atingir níveis
arbitrários de hormônios no corpo do seu paciente, com objetivos estéticos e,
teoricamente, de saúde”, alerta Dr. Júlio Américo Pereira Batatinha,
endocrinologista membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional
São Paulo.
Nesta semana, o
Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou resolução (leia aqui) proibindo a prescrição de esteroides androgênicos e
anabolizantes seja para fins estéticos, ganho de massa muscular e de performance
esportiva.
Conceitualmente, a
terapia hormonal é um termo genérico que serve para designar as terapias onde,
por uma deficiência hormonal ou em uma terapia afirmativa, se emprega o uso de
hormônios, mais especificamente os hormônios sexuais: andrógenos, estrógenos e
progestágenos. “Isso porque há diversas terapias em que se utiliza corretamente
os hormônios, como diabetes e insulina, deficiência de hormônio de crescimento
e uso do próprio hormônio do crescimento, mas que não chamamos, popularmente,
de terapia hormonal”, explica Dr. Júlio.
Ele conta ainda
que essas terapias com esteroides sexuais são comuns em pessoas com
deficiências hormonais (homens ao longo da vida ou mulheres antes da
menopausa), em mulheres pós-menopausa com os fogachos, em pessoas trans para a
hormonioterapia cruzada, para a afirmação de gênero e diminuição de disforias
associadas à ansiedade, depressão, entre outras.
“Quando nós
pensamos na história da Medicina, principalmente atual, vemos um movimento
científico crucial para a nossa prática que se chama Medicina baseada em
evidência: o médico deve usar as melhores evidências disponíveis, por meio de
estudos científicos, para guiar sua prática. Isso protege os pacientes de
eventos adversos, desfechos ruins e aumenta a probabilidade de que um
tratamento seja efetivo e tenha sucesso. Qualquer prática da área da Saúde que
ignore a medicina baseada em evidência, é considerada má prática. É o caso de
quem indica a terapia ou ‘modulação’ hormonal de forma arbitrária para fins estéticos
ou de performance, pois não existem estudos que mostram essa prática como
segura ou eficaz”, explica o endocrinologista.
Entre os riscos
para saúde do uso indevido de hormônios, estão: aterosclerose, trombose,
vasoespasmo, cardiotoxicidade. “Há, por exemplo, aumento de placas
ateroscleróticas nas coronárias, artérias do coração. Majoritariamente um
paciente jovem não terá um infarto, mas décadas após ter feito o abuso de
anabolizantes sim. E muitos não correlacionam o infarto que tiveram agora com o
abuso de anabolizantes no passado”.
Somam-se aos
riscos: hepatotoxicidade com risco de tumores hepáticos, insuficiência
hepática, necessidade de transplante, infecções no local de aplicação,
problemas osteomusculares, infertilidade e riscos de disfunção sexual,
disfunção erétil e diminuição da libido, piora da qualidade de vida (depressão,
letargia, menor potência muscular), acne e ginecomastia.
“Nas mulheres pode
acontecer atrofia das mamas, distúrbios menstruais e infertilidade além do
hirsutismo, engrossamento da voz, alopecia e aumento de clitóris. No homem, é
comum episódios de agressividade”, pontua o médico.
No corpo humano há
um refinado sistema de regulação e contra-regulação dos níveis hormonais.
Embora dois homens possam ter níveis diferentes de testosterona, ambos estarão
saudáveis, pois para cada corpo existe um valor que, naquele momento e naquela
condição, é saudável.
“Sempre que utilizarmos
doses acima do que o corpo regulou como necessário, haverá superdosagem e,
consequentemente, risco dos malefícios já descritos”, finaliza o médico.
Movimento para regulamentação - No final de março, 5 entidades médicas, entre elas a SBEM, pediram em carta conjunta ao Conselho Federal de Medicina a regulamentação sobre o uso de esteroides anabolizantes e similares para fins estéticos e de performance. Isso porque tem sido observado nos consultórios um número crescente de complicações advindas do uso indevido de hormônios. E muito disso é a apologia ao seu uso feita nas redes sociais, transmitindo um falso conhecimento e segurança na sua prescrição, colocando em risco a saúde da população.
Em 11/04/2023, o CFM divulgou Resolução CFM Nº 2.333
proibindo a prescrição de esteroides androgênicos e anabolizantes seja para
fins estéticos, ganho de massa muscular e de performance esportiva.
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