Durante pouco mais
de duas semanas, as enchentes no Rio Grande do Sul, decorrentes das fortes
chuvas que assolaram o estado, mobilizaram não apenas equipes de bombeiros e
socorristas, como militares, profissionais da saúde, voluntários civis e muitos
outros que foram convocados ou se sensibilizaram com a tragédia. Segundo a
Defesa Civil, já são mais de 500 mil desalojados em 446 municípios, além de
cerca de 150 mortos pelas inundações.
Uma preocupação de
profissionais da saúde, que têm mobilizado estruturas de acolhimento, é o apoio
psicológico às vítimas das enchentes. Porém, há um outro grupo que também já
demonstra sinais de exaustão emocional, o que começa a receber um olhar atento
de especialistas: as próprias equipes que atuam nos resgates e assistência às
vítimas.
Esse grupo vem
enfrentando sérios casos de Síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome
do esgotamento profissional. Essa doença é um grande tema a ser combatido nas
empresas. Contudo, em casos extremos como esse, traz uma necessidade de se
estar muito mais atento.
“As pessoas que
estão atuando na linha de frente do salvamento estão passando por uma série de
desafios que ocasionam muito estresse e esgotamento físico e mental. Isso
facilmente leva esses profissionais ao desenvolvimento dessa síndrome”, explica
Dr. Vicente Beraldi, médico especialista em psiquiatria da Moema Medicina do
Trabalho.
O Ministério da
Saúde enfatiza que esse esgotamento pode originar-se de fatores psicossociais
ligados à gestão organizacional, à natureza das tarefas laborais e às condições
do ambiente corporativo. Em um cenário de emergência, no qual qualquer falha
pode resultar em resultados fatais, essa situação se agrava, exigindo uma
atenção especial junto a esses profissionais e a necessidade de acompanhamento
de especialistas.
“Diversos fatores
preocupantes podem surgir e serem vetores de problemas como o Burnout, como
muitas horas de trabalho, frustrações, expectativas não atingidas, urgências de
ações, a convivência com pessoas de temperamentos distintos e a complexa
situação de muitas vezes também estar vivendo problemas pessoais relacionados à
crise. Enfrentar esses desafios requer um acompanhamento próximo dessas
pessoas”, alerta Dr. Vicente Beraldi.
Diante desse
cenário desafiador, é importante que as lideranças busquem criar ambientes
saudáveis, com uma escuta ativa de todos, promovendo um ambiente colaborativo e
de respeito. Por meio de ações que partam das lideranças e acompanhamento dos
profissionais, é possível mitigar os problemas decorrentes da síndrome de
Burnout e garantir o foco necessário nas operações de resgate e assistência.
Entenda o
Burnout
Mas, o que é
Burnout? Segundo Dr. Vicente Beraldi, essa é uma síndrome, também conhecida
como "síndrome do esgotamento profissional", é um distúrbio psíquico
causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho.
“Essa doença, que
já foi reconhecida como relacionada ao trabalho, tem como sintomas o cansaço
excessivo, dor de cabeça, alterações no apetite, insônia, dificuldades de concentração,
sentimentos negativos e físicos como pressão alta, dores musculares e problemas
gastrointestinais”, detalha o especialista.
Para a realização
dos trabalhos, o impacto desse problema é muito grande, pois resulta em três
pilares essenciais: exaustão de energia, distanciamento mental ou
negativismo/cinismo relacionados ao trabalho e redução da eficácia
profissional.
Para a pessoa que
está preocupada com o Burnout, já existem estudos que mostram os degraus que as
pessoas passam até chegar ao extremo, que são:
1. Necessidade de
autoafirmação
2. Aumento da
carga de trabalho
3. Desleixo com
necessidades pessoais
4. Distanciamento
e ansiedade crescente
5. Redefinição de
valores pessoais
6. Negligência aos
problemas emergentes
7. Isolamento
social
8. Mudanças
comportamentais preocupantes
9.
Despersonalização
10. Sentimento de
vazio interior
11. Intensificação
de sintomas depressivos
12. Quadro de
Burnout com exaustão emocional
Contudo, existem
caminhos para prevenção desses males, conforme detalha Dr. Vicente Beraldi:
1. Estabelecimento
de objetivos - Definir pequenos objetivos na vida profissional e pessoal.
2. Equilíbrio
entre trabalho e vida pessoal - Participar de atividades de lazer, fugindo da
rotina diária.
3. Atividades
físicas regulares - Praticar exercícios físicos regularmente.
4. Cuidados com a
saúde mental - Evitar consumo de substâncias nocivas, não se automedicar e
garantir uma boa qualidade de sono.