O
casamento consumado de forma precoce tem um risco 40% maior de divórcio, diz
estudo
Apesar de estarmos no Mês das Noivas, o casamento parece já não ter mais o mesmo valor de antigamente. Ao menos, não no quesito longevidade. No Brasil, segundo Estatísticas do Registro Civil divulgados pelo IBGE, houve uma diminuição no tempo médio de duração dos casamentos, caindo de aproximadamente 16 para 13,8 anos. Cerca de metade dos divórcios ocorridos em 2022 envolveram casais que estavam juntos há menos de 10 anos.
Um estudo global feito pelo professor Paul Amato, do Departamento de Sociologia da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos; revelou que casais que oficializam a união antes de completarem um ano de namoro têm cerca de 40% mais chances de se divorciar do que aqueles que tiveram um relacionamento de dois anos ou mais.
Outros estudos também indicam que a duração do relacionamento, antes de dar o próximo grande passo, tem grande influência na longevidade do casamento. Uma pesquisa realizada pela Universidade Emory, nos Estados Unidos, envolvendo 3 mil casais, mostrou que aqueles que namoraram por três anos ou mais antes de casar reduziram em 50% as chances de divórcio.
O que dizem as especialistas: Para Claudia Petry, terapeuta sexual, membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana) e especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC); o que vale é o bom senso.
“Os dados são estimativas importantes, mas não existe uma fórmula universal, até porque cada casal tem suas particularidades. Entretanto, a decisão de se vincular formalmente a outra pessoa exige maturidade e profundidade na relação, o que só se consegue com maior tempo de convívio e conhecimento sobre o outro”, reconhece.
Segundo a psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; durante o namoro, principalmente nos primeiros meses, idealizamos a pessoa. “Aos olhos de quem está apaixonada, o outro é perfeito! Mas, ao longo de uma relação estável, não demora para se perceber que não existe perfeição em nada”.
Sendo assim, para não tomar nenhuma atitude precipitada, confira as reflexões abaixo e veja se está pronta para uma vida a dois:
Você está no auge da paixão? Conforme a psiquiatra Danielle H. Admoni, pesquisadora e supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM); a paixão aumenta a liberação de uma série de hormônios, como dopamina, adrenalina, ocitocina e vasopressina.
“A elevação destes hormônios gera sensações intensas de prazer, euforia, bem-estar, felicidade, excitação, entre outras”, conta a especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Além disso, na fase da paixão, o raciocínio lógico fica comprometido. “O sistema de recompensa do cérebro diminui a atividade do córtex pré-frontal, região responsável pela capacidade de pensar e agir racionalmente”, explica Admoni.
Segundo Claudia Petry, aí que mora o perigo. “A pessoa perde o senso crítico sobre o indivíduo por quem está apaixonada. Não à toa, existe a famosa expressão ‘o amor é cego’. Daí a importância de deixar a paixão abrandar antes de tomar qualquer decisão”.
De acordo com Monica Machado, é possível notar que a idealização está deixando de ocorrer quando surgir uma nova forma de identificação mútua. “O casal entra em uma fase mais madura da relação, onde terá uma visão mais clara da realidade a dois – e se ela realmente funciona para ambos”.
O sexo é ótimo? Um estudo realizado na Alemanha investigou a vida sexual de mais de mil casais, focando em diversos aspectos como frequência sexual e a qualidade do relacionamento. Foi constatado que após os primeiros dois anos de convivência, os casais tendem a ter uma redução na atividade sexual, realizando, em média, cinco vezes a menos por mês.
“Ou seja, se no ápice do namoro você já sente que não há compatibilidade no sexo, imagine após anos de casamento, quando a tendência é diminuir a frequência e a disposição sexual?”, questiona Claudia Petry, que também é professora no Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville (SC).
Segundo ela, uma vida sexual saudável nutre a intimidade entre o casal. “Isso gera sentimentos de conquista, sedução, desejo e realização, elevando a autoestima e autoconfiança, essenciais para uma relação sólida”.
“Mas, se você realmente gosta da pessoa e acha que a situação pode ser reversível, busque ajuda de um terapeuta sexual. Em muitos casos, a orientação profissional auxilia o casal a encontrar sua sintonia na cama”.
A diferença de idade é muito grande? Uma pesquisa da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, revelou que casais com uma diferença de idade de 5 anos ou mais apresentam um aumento de 18% nas chances de divórcio, em comparação aos que têm idades próximas.
Para casais com uma diferença de 10 anos, a probabilidade aumenta para 39%. Mas, se a diferença for de pelo menos 20 anos, as chances chegam a 95%. Segundo Danielle Admoni, todo relacionamento tem desafios, mas namorar alguém de uma geração diferente traz suas próprias complicações.
“Essa discrepância reflete estágios de vida diferentes. Cada um está vivenciando sua própria jornada, com outras realidades econômicas, profissionais e sociais. Essas diferenças vão se manifestando na rotina, desde escolher um filme para assistir, ou frequentar lugares e conviver com pessoas que não têm nada a ver com você”.
Há outro desafio: a diferença de idade pode interferir no sexo, envolvendo desejo, preferências sexuais, questões biológicas/fisiológicas e até tabus. Claudia ressalta que os homens, geralmente, atingem seu auge sexual por volta dos 20 anos, devido ao aumento nos níveis de testosterona, enquanto as mulheres tendem a atingir seu ápice entre 30 e 40 anos.
“Contudo, se ambos tiverem gostos e mentalidades semelhantes, além
de projetos futuros compatíveis, vale engatar um namoro sério e desafiar as
probabilidades. Afinal, a idade pode mesmo ser só um número para muitos
casais”, pontua a sexóloga.
Ambos querem filhos? Quando um dos dois quer filhos e o outro, nem pensar, a questão se torna bem complicada, pois, uma vez casados, cada qual com sua opinião formada, é enorme a chance de ocorrer crises lá na frente (e até mesmo uma separação dolorida).
“Claro que um dos dois pode mudar de ideia, mas é um risco que não
se deve correr. Sejam firmes e claros quanto aos seus objetivos, sem deixar
falsas expectativas. Portanto, se o seu maior sonho é constituir uma família,
talvez a melhor saída seja terminar o namoro, por mais que vocês se amem.
Afinal, ter um filho não é uma decisão que pode ser negociada em um casamento”,
pondera Monica Machado.
Vocês são muito diferentes? Parece ser lenda que os opostos se atraem. Um estudo divulgado no jornal Nature Human Behaviour indica que, na realidade, pessoas com características semelhantes têm maior probabilidade de se sentirem atraídas uma pela outra.
“Se houver diferenças importantes relacionadas a valores, interesses e objetivos de vida, a preocupação com a compatibilidade a longo prazo pode surgir. Por isso, tentem criar planos colaborativos, fortalecer o que vocês têm em comum e descobrir juntos novas experiências”, orienta Danielle Admoni.
Uma boa dica, segundo ela, é morar junto antes de se casar, já que a convivência diária permitirá que ambos tenham maior proximidade e conhecimento sobre o outro.
“Lembre-se: ‘para sempre’ é tempo demais, especialmente porque
vivemos mais agora do que quando a instituição do casamento foi inventada. Além
dos filhos, há poucas coisas com as quais nos comprometemos por toda a vida.
Portanto, é essencial que um compromisso tão sério demande mais racionalidade e
menos impulsividade”, finaliza Claudia Petry.