Doença acomete milhares de brasileiros todos os
anos e, mais recentemente, personalidades como a cantora Preta Gil, o cartunista
Paulo Caruso e atletas como Pelé e Roberto Dinamite
Todo
dia, em média, 265 brasileiros são internados no Sistema Único de Saúde (SUS)
por complicações graves relacionadas ao câncer de intestino. No ano passado,
esse número atingiu o maior patamar da década, e dados preliminares sobre
óbitos pela doença indicam que, em 2021 -- último dado disponível --, a
tendência também é de recorde histórico. É o que mostra um levantamento
realizado pelas Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Sociedade
Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Federação Brasileira de Gastroenterologia
(FBG), entidades médicas realizadoras da campanha Março Azul, de
conscientização e prevenção ao câncer de intestino, também conhecido por
colorretal.
Segundo
os médicos, os registros de internação trazem números alarmantes: foram 768.663
hospitalizações só no SUS para o tratamento dessa doença entre 2013 e 2022, com
impacto financeiro e prejuízos imensuráveis para milhares famílias brasileiras.
Já os dados de mortalidade decorrentes desse tipo de neoplasia indicam que,
somente em 2021, foram registrados 19.924 óbitos por câncer do cólon, da junção
retossigmoide e do reto. Os casos aumentam, em média, cerca de 5% a cada ano,
tendo sido observado um crescimento de 40% em relação aos casos registrados em
2012 (14.270).
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Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Elaboração Março Azul. *Neoplasias malignas do cólon, da junção retossigmoide, do reto, ânus e canal anal |
Os
números foram divulgados pela SOBED, SBCP e FBG, que uniram esforços para
alertar os brasileiros para a importância do diagnóstico e do tratamento
precoces para esta doença. Apesar de pouco discutida, a doença -- que atinge o
reto e intestino -- já ocupa lugar de destaque entre as neoplasias mais letais
para homens e mulheres no Brasil.
“O
diagnóstico de câncer colorretal não é sentença de morte! No entanto, é um
problema de saúde que, se não for bem tratado, pode ter consequências sérias
para o bem-estar do paciente”, alerta o médico e coordenador da campanha Março
Azul, Marcelo Averbach. Para ele, além de serviços que ofereçam acesso ao
atendimento qualificado no diagnóstico e no tratamento, é preciso investir em
estratégias de prevenção. “Quanto mais cedo forem descobertos, maiores são as
possibilidades de intervenção e cura”.
Segundo
o presidente da SBCP, o coloproctologista Antônio Lacerda Filho, a partir dos
45 anos é importante procurar um médico para avaliar a saúde do intestino.
“Cerca de 90% dos casos de câncer de intestino têm origem a partir de um
pólipo, tipo de lesão na mucosa do intestino que pode se transformar em câncer.
Em uma colonoscopia esses pólipos podem ser retirados prevenindo, assim, a
doença”, afirma. “Se você tem pai, mãe ou irmãos que tiveram a doença, é importante
a avaliação antes mesmo dos 45 anos”.
"Pessoas
com doenças inflamatórias intestinais, como retocolite ulcerativa e doença de
Crohn, têm o risco aumentado para o câncer de intestino", complementa o
gastroenterologista Sergio Pessoa, presidente da FBG. "Uma parcela dos
pacientes pode não apresentar qualquer tipo de sintomatologia nas fases
iniciais da doença, por isso a importância dos exames diagnósticos”.
Internações - A partir
das bases oficiais de informação, as entidades médicas conseguiram identificar
o impacto da doença no atendimento hospitalar. Apesar da pandemia de COVID-19,
que, em muitos casos, baixou o número de internações decorrentes de outras
doenças, no ano passado houve aumento nas hospitalizações para tratamento de
câncer de intestino em 21 estados brasileiros. O maior aumento proporcional
aconteceu em Mato Grosso, onde a quantidade de internações passou de 917, em
2020, para 1.385, em 2022 -- salto de 51%.
Ao
longo da série histórica, em valores absolutos São Paulo aparece como o estado
com mais registros: foram 178.355 hospitalizações. Na segunda posição, figura o
Paraná, com 108.296 ocorrências. Logo após, Minas Gerais com 105.441
internações de pacientes para tratamento de câncer de intestino. Na quarta e
quinta posição, estão respectivamente: Rio Grande do Sul (78.140 casos) e Santa
Catarina (48.995).
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta em 45.630 o número
de novos casos de câncer de intestino no Brasil para o triênio de 2023 a 2025.
Se vierem a se confirmar tais projeções, a doença alcançará um contingente superior
a 136 mil pessoas. Segundo o Inca, o risco estimado é de 21,10 casos por 100
mil habitantes: sendo 21.970 casos entre os homens e 23.660 casos entre as
mulheres.
Campanha nacional
- O alerta dos médicos da SOBED, SBCP e FBG vem embalado pela campanha
nacional de conscientização e prevenção ao câncer de intestino, também chamada
de Março Azul. Em 2023, com o slogan “Saúde é prevenção. Cuide de você, evite o
câncer de intestino”, os especialistas chamam a atenção dos brasileiros sobre a
necessidade de conjugar prevenção, diagnóstico e tratamento precoces deste tipo
de neoplasia.
Segundo
o coordenador da campanha, Marcelo Averbach, o Brasil precisa investir em ações
de prevenção e, assim, evitar que pacientes precisem ser internados. “Existem
métodos diagnósticos de menor complexidade e que podem ser oferecidos de forma
sistematizada pelo SUS para rastrear pacientes mais propensos a desenvolver
esse tipo de câncer. Quando alterações no reto e intestino são diagnosticadas
em estágios iniciais, há possibilidade de intervir precocemente e prevenir uma
evolução desfavorável, na maioria dos casos”, explica.
Por
apresentar poucos sinais em estágios iniciais, o câncer de intestino deve ser
rastreado periodicamente em homens e mulheres, a partir dos 45 anos de idade.
Essa investigação acontece, basicamente, por meio da realização de dois exames,
que podem ser decisivos para salvar a vida do paciente: a pesquisa de sangue
oculto nas fezes e a colonoscopia.
Como formas de prevenir o surgimento de novos
casos, as entidades médicas ressaltam a pertinência de campanhas que orientem
os brasileiros sobre o combate ao tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, consume
excessivo de carnes vermelhas e dieta pobre em fibras, entre outros. Todos
esses fatores são considerados de risco para o desenvolvimento desse tipo de
câncer, sendo que sua eliminação do cotidiano dos indivíduos constitui medidas
de primeiro nível para a proteção.
Saiba mais sobre a campanha em Link