As rodovias
brasileiras foram palco de mais de 1,5 milhão de sinistros de trânsito, na sua
maioria colisões traseiras (27,1%), envolvendo mais de 3,3 milhões de pessoas
entre os anos de 2009 e 2019. Os dados foram coletados junto à Polícia
Rodoviária Federal (PRF) para o estudo Dimensão e Impacto dos Sinistros de
Trânsito no Brasil: Características Gerais e Descrição de Indicadores,
elaborado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) com o
suporte da agência 360° CI, e que traz uma notícia alentadora: um terço dos
envolvidos saíram ilesos e a incidência de sinistros tem registrado declínio na
década.
Apesar disso, alerta o
presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior, o número de sinistros nas rodovias
brasileiras ainda é alto e o que se espera é que o Brasil reduza ainda mais
esses indicadores nos próximos anos. "O objetivo final, que toda a
sociedade deve buscar, é um trânsito menos violento e mais seguro. Esse alto
índice de sinistros sem vítimas, que é muito positivo em si, não atenua o fato
de o trânsito ser a segunda causa de morte não natural no País. Nós, na
Abramet, estaremos sempre buscando prover o conhecimento e as propostas
necessárias para reverter isso".
Entre o total de
indivíduos envolvidos nos sinistros ao longo da década, 2 milhões saíram
ilesos, 755 mil tiveram ferimentos leves, 260 mil sofreram ferimentos graves e
79 mil foram a óbito. Os bancos de dados não apresentaram o desfecho de 144,7
mil vítimas envolvidas nos sinistros analisados na série histórica. "Por
este motivo, e como opção metodológica, o estudo da Abramet foi baseado nos sinistros
e não nas vítimas envolvidas", explica Meira Júnior.
FATOR SAÚDE - Segundo a análise da
Abramet, cerca de 283,5 mil sinistros de trânsito registrados em rodovias
brasileiras, entre 2014 e julho de 2020, tiveram como causa principal ou
secundária questões relacionadas à condição de saúde dos condutores no momento
da ocorrência. Esse volume de colisões deixou como saldo 247.475 feridos e
14.551 mortos.
Os especialistas, com
base na catalogação da PRF, agruparam os sinistros em grandes grupos, sendo que
as categorias mais recorrentes incluem: falta de atenção durante a condução,
ingestão de álcool e/ou de substâncias psicoativas, condutor dormindo, mal
súbito e restrição de visibilidade. Para a Abramet, essas situações denotam
cenários diretamente ligados ao quadro de saúde dos condutores, como déficit de
atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios do
sono ou comprometimento motor ou de raciocínio.
Em termos globais, as informações
contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob
supervisão da PRF. Não foram contabilizados transtornos em colisões que
aconteceram em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avaliam
os especialistas da Abramet, o quadro poderia ser bem pior, pois um número
importante de colisões não entra nas estatísticas.
RISCO NO FIM DE SEMANA - O estudo mapeou a
gravidade dos sinistros registrados no período, com foco no tipo de vítima
envolvido. Os dados mostram que sinistros sem vítimas compuseram 54% dos casos
relatados; os sinsitros com uma ou mais vítimas feridas representaram 42%; e 4%
foram os casos com ao menos uma morte. Nesse escopo, 10,6 mil casos não
especificaram a tipologia de vítima. De forma geral, aponta o documento, está
caindo a gravidade dos sinistros nas rodovias brasileiras.
Em Dimensão e
Impacto dos Sinistros de Trânsito no Brasil: Características Gerais e Descrição
de Indicadores, a Abramet também avalia, ainda, os tipos de ocorrência e os
dias da semana em que foram registradas. Os dados da PRF mostram que mais da
metade dos sinistros aconteceram entre segunda e quinta-feira (53%) e entre
sexta e domingo (47%).
"A comparação
entre os índices sugere uma maior frequência de colisões nos finais de semana,
incluindo a sexta-feira. Os dados da PRF também permitem concluir que, neste
período, os eventos também costumam ser mais graves. Do total de 65,2 mil
mortes relatadas entre 2009 e 2019, um total de 35,5 mil (54%) aconteceram em
sextas-feiras, sábados e domingos", diz o estudo.
Em outro aspecto
pesquisado, o documento aponta a falta de atenção e excesso de velocidade como
principais causas dos sinistros registrados nas BRs brasileiras. O estudo
mapeou, também, as rodovias com a maior incidência de sinistros.
"No topo da
lista, aparece a falta de atenção, anotada como causa provável em 38,5% dos
casos. Na segunda posição, está a velocidade incompatível em relação à
estipulada pelos órgãos de controle e fiscalização, com 9,4% dos registros. Na
sequência está a distância não segura de outros veículos (9,0%), a ingestão de
álcool (4,8%), defeitos mecânicos (4,2%), dormir ao volante (2,8%), animais na
pista (2,6%), ultrapassagens indevidas (2,2%) e defeitos na via (1,5%)".
MAIS SOBRE O ESTUDO - Dividido em seis
capítulos, acompanhado por anexos que apresentam mapas e dados estaduais,
trata-se de um estudo amplo sobre a epidemia de violência que atinge
motoristas, motociclistas, passageiros e pedestres em vias públicas, ruas e
rodovias. O documento tem como base séries históricas de dados oficiais das
áreas de saúde, demografia, infraestrutura e segurança pública.
Para a sua formulação,
também foram agregados aspectos da literatura médica e de gestão no setor,
assim como outros estudos realizados ao longo de 40 anos de história da
Abramet. Em suas 220 páginas, estão expostos a evolução da frota de veículos, o
perfil das vítimas do trânsito, os tipos de sinistros mais frequentes, os
custos para tratamento, entre outras informações.
O estudo oferece uma
linha do tempo e comenta as mudanças mais importantes no Código de Trânsito
Brasileiro até 2020, entre elas a que coíbe o consumo de álcool antes de
dirigir; a imposição de limites de velocidade; o exercício da profissão de motorista
e outros.
Para
saber mais: http://www.abramet.org.br