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Pesquisadores avaliaram as
propriedades antimicrobianas do peptídeo VmCT1, isolado da espécie Vaejovis mexicanus, e sintetizaram compostos análogos
com o objetivo de aprimorar o potencial terapêutico (escorpião Vaejovis
mexicanus; foto: Wikimedia Commons)
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As toxinas animais são alvos de estudos devido ao seu potencial terapêutico e biotecnológico. Pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) relataram a ação do peptídeo antimicrobiano VmCT1 e de seus análogos contra o Trypanosoma cruzi. Isolado do veneno do escorpião da espécie Vaejovis mexicanus, o VmCT1 tem apresentado importantes atividades contra bactérias gram-positivas e negativas, células tumorais e protozoários.
“O VmCT1 contém 13 resíduos de
aminoácidos e mostrou boa seletividade e alta potência nas três fases de
desenvolvimento do protozoário Trypanosoma cruzi, o
agente etiológico da doença de Chagas”, diz Vani Xavier de Oliveira Junior,
professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do
ABC e coordenador do estudo.
A pesquisa foi relatada no
artigo Arg-substituted VmCT1 analogs reveals promising candidate for the
development of new antichagasic agente,
publicado na revista Parasitology, da
Cambridge University Press, e noticiada como destaque do mês no Cambridge Core Blog.
O estudo recebeu apoio da FAPESP por
meio do projeto regular “Peptídeos biologicamente ativos em micro-organismos patogênicos e
em células tumorais”.
“Nem todas as espécies de escorpiões
são perigosas para os humanos. O veneno dos escorpiões do gênero Vaejovis afeta apenas insetos. Por outro lado, tem
valioso potencial terapêutico, pois possui diversos e eficientes peptídeos
antimicrobianos, cujo papel principal é a defesa do hospedeiro”, esclarece
Oliveira.
Novas alternativas
A doença de Chagas – considerada uma
enfermidade negligenciada segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – é
endêmica em vários países e afeta cerca de 8 milhões de pessoas no mundo,
ocasionando a morte de aproximadamente 10 mil pessoas por ano. “Os tratamentos
disponíveis atualmente limitam-se a apenas dois medicamentos, que causam severos
efeitos colaterais e são eficazes apenas na fase aguda, quando o paciente pode
ter poucos ou nenhum sintoma da doença. Assim, a busca por novas alternativas
terapêuticas, entre as quais os peptídeos antimicrobianos se mostram altamente
promissores”, afirma Oliveira.
No estudo, os pesquisadores avaliaram
o efeito tripanocida do VmCT1 e sintetizaram novos análogos, redesenhando a
molécula nativa com substituições pontuais pelo aminoácido arginina, carregado
positivamente, com o intuito de potencializar seus efeitos biológicos. Os
resultados mostraram que o peptídeo natural apresenta relevante atividade
antichagásica nas três fases de desenvolvimento do Trypanosoma cruzi. Vale salientar que um dos análogos
foi capaz de melhorar tanto a potência biológica quanto o índice de
seletividade ao parasita.
“Além disso, o estudo revelou que
modificações em parâmetros físico-químicos podem influenciar a atividade no
modelo biológico, mostrando que esse tipo de reengenharia peptídica é capaz de
proporcionar análogos mais eficientes que o peptídeo nativo”, acrescenta o
pesquisador.
A seletividade dos peptídeos
antimicrobianos ao patógeno está relacionada à cationicidade, característica
que influencia as interações peptídeo-membrana. De acordo com o trabalho em
foco, os análogos substituídos com os resíduos de arginina, aminoácido
carregado positivamente, aumentam as chances de interações com os fosfolipídios
das membranas dos microrganismos, promovendo desestabilização, ruptura e/ou
permeabilização das biomembranas.
“O VmCT1 é constituído de uma pequena
sequência peptídica, o que facilita a rápida obtenção de moléculas quimicamente
alteradas, propiciando assim a modulação entre suas atividades biológicas e sua
toxicidade em células humanas”, afirma Cibele Nicolaski Pedron, da UFABC,
principal autora do artigo.
A atividade anti-T. cruzi apresentada deve-se à formação de poros,
evidenciada por meio de microscopia eletrônica de varredura. Os danos causados
pelos peptídeos às membranas foram significativos, causando a morte dos parasitas,
em concentrações que não apresentaram toxicidade para as células hospedeiras.
“Nossos resultados demonstraram que o
VmCT1 e seus análogos Arg-substituídos são moléculas anti-T. cruzi promissoras, que trazem novas
perspectivas para o tratamento da doença de Chagas”, comenta Alice Martins,
pesquisadora da UFC e coautora do estudo.
Os produtos tecnológicos
desenvolvidos no projeto foram registrados no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (Inpi).
O artigo Arg-substituted VmCT1 analogs reveals promising candidate for the
development of new antichagasic agent pode ser lido em https://doi.org/10.1017/S0031182020001882.
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/moleculas-com-potencial-para-combater-a-doenca-de-chagas-mimetizam-toxina-do-veneno-de-escorpiao/35571/