Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo, incluindo homossexuais e bissexuais, sofrem de algum nível de impotência sexual. Conhecer o próprio corpo, seus desejos, limitações e cuidar da saúde é essencial para uma vida sexual saudável e sem frustações
Infelizmente no Brasil ainda existem poucas
informações específicas sobre o perfil comportamental do público LGBTQI+, o que
dificulta a criação de políticas públicas mais favoráveis para esta parte da
população, principalmente àquelas relacionadas à saúde sexual.
Por isso, ainda é difícil traçar padrões de
satisfação nas relações sexuais desse grupo. E conhecer o seu corpo, desejos,
medos e limitações faz parte do processo de autoconhecimento, assim como estar
aberto para entender o que dá prazer ao outro.
No entanto, o fato é que o quesito saúde exerce
total importância para o sexo prazeroso e seguro, assim como uma vida sexual de
qualidade interfere na saúde como um todo. E a melhor forma para encontrar esse
equilíbrio é se informar para prevenir, além da busca pelo autoconhecimento que
deve ser prazerosa.
Quantidade x qualidade: como alcançar a satisfação
sexual no relacionamento
Em qualquer relacionamento, uma boa frequência
sexual é fator importante e a prática é reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde como um dos pilares da qualidade de vida.
Dentro desta vertente, uma pesquisa realizada pela
clínica norte-americana de Proctologia Bespoke Surgical, apontou que, dos 300
homossexuais ouvidos, 13% afirmaram manter a prática anal todos os dias. Outros
39% fazem apenas algumas vezes por semana, 24% poucas vezes por mês e 16%
alegaram nunca praticarem sexo anal.
O ato sexual pode ir muito além da penetração, o
estímulo de zonas erógenas também pode proporcionar prazer e a satisfação. No
relacionamento, testar coisas novas ajuda a aquecer a relação. Afinal, curtir
uma nova fantasia ou uma posição diferente com o parceiro certamente vai
aumentar a cumplicidade.
“Diversas questões podem influenciar negativamente
na frequência sexual ou na qualidade do sexo, como ansiedade e estresse que,
consequentemente, desencadeiam problemas de ereção e ejaculação, por exemplo”,
comenta Willy Baccaglini, médico urologista e mestre em Medicina Sexual pela
FMABC.
De acordo com a OMS, cerca de 30% dos homens no
mundo sofrem de algum nível de impotência sexual, principalmente na faixa
etária acima de 40 anos.
“Apesar do grande volume de casos de impotência
sexual, alguns homens ainda são resistentes em procurar um médico urologista
para falar sobre o tema, pois consideram que o problema está mais relacionado a
uma questão momentânea, do que com sua saúde propriamente dita. No caso do
homem que faz sexo com homem, o medo de sofrer qualquer tipo e preconceito ou
discriminação também inibe a visita ao consultório”, esclarece Baccaglini.
Isso significa que cuidar melhor da saúde física e
buscar se informar com um especialista é recomendável, e no primeiro indicativo
ou sintoma que possa sugerir algum problema, com intuito do ato sexual ser
sempre um momento de prazer e cuidado com a própria saúde e jamais de
preocupação e frustrações. E neste caso, não falamos apenas do prazer físico,
mas também do bem-estar mental e questões relacionadas à autoestima do homem
independente de sua parceria.
O cuidado com a saúde é fator importante para
relações
A Pesquisa Mosaico, realizada pelo Instituto de
Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP
(FMUSP), indica que 81% dos homens que fazem sexo com homens usam camisinha na
hora H. Se por um lado, esta informação pode indicar que os homens gays estão
preocupados com a saúde, por outro lado, uma outra informação do estudo aponta
que, no período de 12 meses, 47% dos homens gays afirmaram que tiveram relações
sexuais com três ou mais parceiros. E, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), independente da orientação sexual, fazer sexo com múltiplas parcerias é
um sinal de alerta para as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s).
“Apesar de funcionar como uma forte barreira, o
preservativo sozinho não impede totalmente que uma pessoa contraia uma infecção
sexualmente transmissível. O HPV, por exemplo, pode ser transmitido apenas pelo
contato com a pele contaminada. Então se o vírus estiver presente na virilha ou
na região escrotal, por exemplo, a chance de contágio existe”, alerta o
urologista.
O especialista também comenta que, considerando o
ato sexual pela via anal, o risco de contaminação é maior, pelo fato de a
mucosa desta região ser mais sensível a traumatismos e, consequentemente,
transmissão de doenças. Por isso, a melhor maneira de evitar a contaminação por
uma IST é a informação voltada para prevenção e proteção, com destaque para o
uso de preservativo, inclusive no sexo oral.
Sem medo do urologista
De um modo geral, o homem que, assumidamente, faz
sexo com outro homem é mais seguro de si e se sente à vontade em ir até o
consultório médico fazer exames periódicos e tirar eventuais dúvidas que possam
surgir.
“Eu vejo uma maior aceitação do público masculino
homossexual de frequentar o consultório, até mesmo em uma idade mais precoce.
Eles estão cada vez mais preocupados com sua saúde, principalmente em questões
relativas às IST’s e seu desempenho sexual”, comenta Dr. Baccaglini.
Ainda segundo o médico, diferente dos homens
heterossexuais que são estimulados por suas mulheres para cuidarem da saúde,
este público pratica cada vez mais o autocuidado e são mais bem resolvidos em
tomar a iniciativa de procurar um urologista. Mas em algumas situações, também
encontram em seus parceiros o incentivo para realizar consultas e exames
periódicos.
Por outro lado, o especialista afirma que,
infelizmente, ainda existe um certo receio por parte do paciente de sofrer
algum tipo de preconceito. “Esta barreira está sendo quebrada. Todo médico
precisa oferecer um ambiente humanizado e acolhedor para o seu paciente, seja
qual for sua orientação sexual. No caso do urologista, o paciente tem que se
sentir à vontade para falar sobre sua vida sexual e perceber que o profissional
está coletando todas essas informações totalmente livre de qualquer tipo de
preconceito”, reforça.
Para o especialista, esta conexão é fator determinante
para a construção de uma relação sincera e produtiva entre médico-paciente,
pois “se o profissional não proporcionar um ambiente acolhedor, dificilmente o
paciente se sentirá confortável para falar sobre seus problemas, dúvidas e
questões que possam contribuir para que ele tenha uma vida sexual saudável e
com qualidade, sem medo de doenças e sem medo de ser feliz”, ressalta.
Entretanto, a homofobia ainda existe, seja por
ignorância ou falta de preparo do profissional. O Dr. Baccaglini lembra que o
urologista é o médico da saúde sexual masculina, mas também contribui para o
envelhecimento saudável do homem como um todo, como o cuidado com a fertilidade
e o bem-estar de forma geral, atuando de maneira mais generalista.
Com relação a periodicidade de consultas, o médico
explica que tudo é muito relativo e depende muito das necessidades do paciente.
“O recomendável é que homens mais jovens sem qualquer tipo de sintoma visitem
um médico urologista uma vez ao menos na adolescência ou vida adulta inicial,
período em que há início da vida sexual da maior parte dos homens. A partir da
meia idade, os 40-50 anos, o acompanhamento anual é recomendado, não apenas por
conta do rastreio de câncer de próstata, mas também por outras questões que se
associam ao envelhecimento masculino”, explica.
Por fim, também é importante ressaltar que os
homossexuais estão tendo a possibilidade de se preocuparem não somente com sua
saúde e de seus parceiros, mas também com a do seu próximo, devido ao fim da
restrição discriminatória, revogada em 2020 pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), que impedia homossexuais de fazerem doações de sangue.
Willy
Baccaglini - Especialista em Uro-Oncologia; Mestre em Medicina
Sexual pela FMABC; Professor no curso de graduação de Medicina na FMABC; Membro
do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein como
Uro-Oncologista.
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