A lágrima protege nossos olhos de todo
tipo de patógeno, inclusive do novo coronavírus, Sars-Cov-2. De acordo com o
oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier 7 em cada 10
portadores de olho seco, convivem com a doença e nem imaginam. Isso porque, são
assintomáticos e só descobrem que têm a deficiência durante exame oftalmológico
de rotina. Nos outros 30% os sintomas são: vermelhidão, ardência, visão embaçada, coceira, e maior
sensibilidade à luz. O Dews II (Dry Eye
Workshop Society), relatório desenvolvido por 150 oftalmologistas do mundo
todo, revela que a prevalência global varia de 5% a 50%, sendo mais frequente
em países asiáticos.
No Brasil a estimativa é de que 12,8%
da população, na proporção de três mulheres para cada homem, têm olho seco,
salienta. Queiroz Neto afirma que entre os pacientes sintomáticos 20% pensam
que olho seco é um mal menor, fazem tratamento por conta própria e chegam ao
consultório com um saco de colírios que não funcionam. “No exame oftalmológico
conseguimos diferenciar o tipo de olho seco para tratar com o colírio correto
que hoje graças à inteligência artificial temos conseguido melhores resultados”
afirma.
O especialista alerta que as
alterações na lágrima podem causar redução permanente da visão. “É uma doença multifatorial, causada pelo
desequilíbrio em uma das camadas do filme lacrimal”, afirma. A externa,
explica, é a lipídica produzida pelas glândulas de Meibômio localizadas na
borda das pálpebras. A camada lipídica, explica, tem duas funções: manter a lágrima suspensa na superfície do
olho e evitar a evaporação da camada intermediária que é a aquosa. Esta
responde pelo controle de patógenos e oxigenação da córnea. A interna é a
proteica que permite a distribuição uniforme do filme lacrimal na superfície do
olho. “Os colírios contêm substâncias com efeitos diferenciados. Deixar de usar
um lubrificante impróprio pode ser melhor que hidratar os olhos com colírios
que aumentam a irritação e tornam os olhos mais vulneráveis”, comenta.
Pesquisa
O pior é que um estudo realizado na
China durante a pandemia com 54 participantes afetados pela Covid-19, mostra
que a infecção aumentou em 35% a incidência de olho seco. O estudo mostra que
antes da contaminação 20% tinham a disfunção lacrimal e depois de infectados
este índice saltou para 27%. Os pesquisadores afirmam que embora o estudo não
seja conclusivo, identificou o receptor ACE2 do novo coronavírus na córnea,
lente externa do olho, e na conjuntiva, membrana que recobre a parte branca do
olho. O nível de ACE2 na superfície do olho é menor que o encontrado no pulmão
e coração, mas foi suficiente para aumentar o olho seco. Os cientistas também
destacam que só um paciente que já tinha passado por cirurgia de pterígio
desenvolveu conjuntivite, sinalizando que olhos íntegros têm menor chance de
inflamar durante a pandemia.
Diagnóstico
Queiroz Neto afirma que o olho
saudável tem as três camadas da lágrima em equilíbrio. A deficiência em
qualquer uma delas facilita a contaminação por Sar-Cov-2 e outros vírus que
podem causar conjuntivite. O
especialista conta que hoje o diagnóstico é feito por imagens que facilitam a
adesão ao tratamento, inclusive de pacientes assintomáticos. Para se ter ideia,
a plataforma permite ao paciente acompanhar com o oftalmologista tanto as
alterações do filme lacrimal, como as das pálpebras e glândulas de Meibômio. O
oftalmologista ressalta que 86% dos portadores de olho seco têm desconforto
ocular crônico provocado por disfunção das glândulas de Meibômio, 14% por
deficiência aquosa do filme lacrimal e menos de 1% por deficiência da camada
proteica.
Tratamento
Queiroz Neto esclarece que o
tratamento é modulado de acordo com a fase da doença. Em casos leves, pontua, a
prescrição pode incluir lágrima artificial, medicação sistêmica, adição na
dieta de fontes de ômega 3 encontrado na sardinha, bacalhau ou salmão, massagem
e higienização das pálpebras com xampu infantil de PH neutro.
O especialista diz que as
recomendações terapêuticas da DEWS para casos moderados são: oclusão dos pontos lacrimais com plugs,
óculos de câmera úmida, anti-inflamatório e ômega 3.
A terapia mais indicada para olho seco
severo é a luz pulsada que deve ser aplicada na pálpebra superior e inferior
visando ativar a produção da camada lipídica da lágrima pelas glândulas de
Meibômio. Queiroz Neto afirma que a terapia também melhora a alimentação das
glândulas mediante estímulo da
inervação do nervo trigêmeo nos ramos oftálmicos e maxilar. Um terceiro
benefício é a desobstrução glandular através da remodelação do tecido
conjuntivo.
O tratamento, observa, inclui 3 sessões em
intervalos de 15 dias. Queiroz Neto
conta que criou um dispositivo para ser usado diariamente em casa durante o
tratamento. Trata-se de um
óculos/compressa preenchido com grãos de arroz que deve ser aquecido no
micro-ondas por 3 minutos antes de ser colocado sobre os olhos O médico conta que esta simples inovação no
consultório tornou o resultado do tratamento mais efetivo.