Estudo encomendado
pela Microsoft à consultoria FrontierView mostra que se o país adotar
fortemente a tecnologia, a recuperação dos efeitos da pandemia da COVID-19 pode
ser mais rápida - tanto na economia quanto na produtividade dos brasileiros
A pedido da Microsoft, a consultoria americana
FrontierView realizou o estudo “A Inteligência Artificial (IA) na era da
COVID-19: Otimizando o papel da IA na geração de empregos e crescimento
econômico na América Latina”, para analisar como a economia, a produtividade e
os empregos no Brasil poderiam se beneficiar se o país maximizasse a adoção de
IA até 2030 - esse cenário se tornou mais provável com a aceleração da
transformação digital que ocorreu durante a pandemia da COVID-19. De
acordo com a análise da consultoria, o país pode vivenciar dois cenários
distintos: o benefício mínimo e o máximo com a adoção plena da IA, que diferem
em quanto de investimento o Brasil pode gerar na expansão de indústrias
existentes e novas por meio da implementação de novas tecnologias. No primeiro
cenário, espera-se que o uso da IA adicione 1,8 ponto percentual ao PIB
brasileiro até 2030; no segundo cenário, o crescimento adicional poderia chegar
a 4,2 pontos percentuais. Ambos os cenários pressupõem que o país adote todas
as funcionalidades de IA disponíveis atualmente até 2030. O segundo cenário
pressupõe que as empresas e o governo usem a IA para expandir suas operações (não
apenas para automatizar tarefas), e que o mercado de trabalho do Brasil possa
atender à demanda por novos trabalhos habilitados pela IA. O estudo foi feito
pela primeira vez no ano passado (confira aqui)
e agora a consultoria fez uma análise adicional sob a perspectiva da COVID-19.
A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos negativos ao país em termos de emprego e negócios, levando algumas empresas ao encerramento. Porém, houve uma curva de crescimento positiva na transformação digital tanto das empresas quanto da sociedade, que passou a comprar digitalmente - dois cenários que podem motivar a adoção da IA. As vendas do comércio eletrônico no Brasil, por exemplo, mais que dobraram de abril a agosto em relação ao mesmo período de 2019 (+ 105% de aumento anual), conforme mostra o gráfico a seguir. Embora as vendas no varejo devam retornar intensamente, muitos consumidores optarão por continuar comprando on-line, contribuindo para a evolução dos números do varejo virtual na realidade pós-pandemia.
“A Inteligência Artificial tem um imenso potencial de transformar os negócios e a nossa sociedade, mas para se beneficiar dessas oportunidades, precisamos garantir que ela seja conduzida de maneira ética, responsável e que seja acessível a todos. Por isso, a Microsoft segue firme em seu compromisso de democratizar o uso da IA, em entender seus impactos e garantir que as pessoas estejam preparadas para fazer uso dessa tecnologia”, diz Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil.
De acordo com a análise do estudo, a Inteligência
Artificial pode ser uma ferramenta para auxiliar o país na recuperação
econômica, reduzindo custos, melhorando a arrecadação de impostos e estimulando
a liberação de crédito para movimentar a economia. A IA pode acelerar a
formalização do trabalhador informal por meio de plataformas digitais,
expandindo efetivamente a base tributária e melhorando a arrecadação de
impostos. Segundo dados do IBGE,
a taxa de informalidade no trimestre encerrado em agosto foi de 38%, o que
equivale a 31 milhões de trabalhadores que atuam por conta própria ou que não
têm carteira assinada. Outros benefícios poderiam ser observados
no combate à evasão fiscal, capacitando os inspetores fiscais
com ferramentas de previsão que podem ajudá-los a identificar mais facilmente
os comportamentos fraudulentos; na adoção de IA para a previsão de
déficits de receita tributária e nos impactos econômicos de diferentes
alocações orçamentárias ou incentivos fiscais.
A indústria de Fintechs já está usando IA para
eliminar muitos dos vieses humanos e avaliações de solvência ineficazes que
estavam dificultando o acesso ao crédito não apenas para determinados grupos de
renda e sociais, mas também para pequenas e médias empresas com capacidade de
crédito, especialmente aquelas que operam no setor informal.
Para contextualizar a posição do Brasil em relação
à América Latina, a pesquisa analisou Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica,
México, Peru e Porto Rico. De uma perspectiva país a país, México, Brasil
e Costa Rica veriam os maiores saltos no crescimento econômico atribuídos pela
adoção da IA, e a Argentina os mais baixos.
“Nossa pesquisa aponta que Inteligência
Artificial pode ser um impulsionador da retomada econômica do Brasil após
a pandemia da COVID-19. Com as estratégias e investimentos
certos o país pode elevar seu crescimento econômico e aumentar a
produtividade da população”, afirma Pablo Gonzalez Alonso, diretor de
Pesquisa da América Latina na FrontierView.
AI e empregos
O estudo também analisou os impactos que a
Inteligência Artificial pode gerar nos empregos, levando em consideração não
apenas os efeitos da automação do trabalho, mas também a criação de novos
empregos. O modelo geral prevê que de todas as horas que os brasileiros
trabalharão em 2030 com base nas projeções pré-COVID-19, 46% delas poderão ser
automatizadas com o uso da IA. No entanto, a criação de novos empregos
mitigaria o efeito final sobre a demanda por mão de obra. No cenário de
benefício mínimo de IA, a demanda por mão de obra se recuperaria de 46% das
horas de trabalho reduzidas (ou economizadas) para 23%; e no cenário de
benefício máximo de IA, em que o governo e as empresas não a estão utilizando
apenas para automatizar tarefas de trabalho, mas também para expandir seu
alcance e operações, a demanda por mão de obra se recuperaria da mesma redução
inicial de 46% para uma redução líquida de apenas 7%.
O estudo da FrontierView apontou que uma redução na
demanda por força de trabalho não levaria automaticamente à perda de empregos
em todos os casos. De acordo com a consultoria, as empresas poderiam atribuir
novas tarefas aos funcionários que tiveram suas horas reduzidas, ou até mesmo
diminuir a carga horária graças aos ganhos de produtividade que a IA oferece;
isso também seria alinhado com as crescentes demandas dos funcionários por um
melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
É importante ressaltar que para o Brasil atingir o cenário de Benefício Máximo da IA é necessário estimular a adoção dela para a melhoria de produtos e serviços nos setores público e privado, levando à expansão dos negócios e maior acesso aos serviços públicos. Isso aumentaria a demanda por mão de obra com o impacto inicial da IA e aumentaria a demanda por profissões focadas em tecnologia em todas as indústrias.
Ainda no contexto dos empregos, no cenário de
benefício máximo, a demanda por profissionais altamente qualificados aumentaria
significativamente, passando de 34% do total de empregos para 54% até 2030.
Nesse cenário, a qualificação e a requalificação de profissionais tornam-se
imprescindíveis, pois os demais níveis passariam por uma diminuição nas ofertas
para trabalhadores de média (-31%) e baixa qualificação (-44%). No cenário de
benefício mínimo, os empregos altamente qualificados aumentariam sua proporção
em 16 pontos percentuais, de 34% para 50% do total de empregos até 2030.
Na análise dos países latino-americanos, o Brasil
tem a segunda maior oportunidade de aumentar seu crescimento de produtividade e
equipará-lo ao de países desenvolvidos na região logo após o México, que ocupa
a primeira posição, - à medida em que se automatizem tarefas de baixo valor
agregado e graças à qualificação dos trabalhadores. Isso se baseia nos níveis
atuais de produtividade por indústria e por ocupação no país, e presumindo que
o Brasil possa se igualar aos níveis de produtividade dos Estados Unidos para
as mesmas indústrias e ocupações graças à plena adoção da IA e à qualificação
generalizada de sua força de trabalho.
Requalificando o mercado
Para que se possa aproveitar o potencial
trazido pela IA e a demanda por profissionais qualificados para as novas
tecnologias, o Brasil não deve contar apenas com os já existentes e novos
graduandos em cursos nessa área, é necessário requalificar a
população.
De acordo com análise da FrontierView, o Brasil
deve focar na melhoria da formação de sua força de trabalho e na criação de um
ambiente de inovação para acelerar a adoção da IA garantindo, ao mesmo tempo,
acesso igualitário à tecnologia e implementação inclusiva da IA. É necessário
estimular a participação das mulheres nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia,
Engenharia e Matemática, em português), o acesso à educação para todos os
brasileiros independentemente da origem socioeconômica e o acesso à tecnologia
por todas as empresas, independentemente do porte.
Para endereçar esses desafios,
a Microsoft lançou iniciativas que buscam auxiliar na capacitação
e recapacitação profissional e reforçar o compromisso
da companhia com o país. Foi apresentado, em outubro, o programa
Microsoft Mais Brasil, em que uma das iniciativas é voltada à requalificação profissional. Trata-se
da “Escola do Trabalhador 4.0”, uma plataforma de ensino remoto
desenvolvida pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e
Competitividade do Ministério da Economia (SEPEC/ME) em parceria com a Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que inclui cursos da Microsoft
por meio da ferramenta Microsoft Community Training. A plataforma estará
disponível para brasileiros de todo o país e tem como objetivo atender até 5.5
milhões de candidatos a emprego até 2023. A Microsoft irá disponibilizar 58
instrutores para oferecer orientação personalizada para até 315 mil
pessoas.
A Microsoft também anunciou em outubro a
disponibilidade no Brasil de um programa com o LinkedIn para a capacitação
de pessoas com cursos gratuitos. O programa
global, que agora é suportado em português, oferece 9 rotas
de aprendizagem e reúne um total de 96 cursos de capacitação que foram pensados
de acordo com as profissões mais demandadas e habilidades mais desejadas no
mercado, levando em consideração tanto habilidades técnicas, quanto as chamadas
soft skills. O programa foi lançado globalmente em julho nos idiomas
inglês, francês, espanhol e alemão, tendo atingido, até o momento, cerca de 10
milhões de pessoas. Nossa meta é que o programa atinja 25 milhões de pessoas em
todo o mundo.
Para debater os impactos e oportunidades
trazidas pela IA, a Microsoft criou o AI Industry Board, comitê que
tem como objetivo discutir o uso ético e responsável da Inteligência
Artificial, no qual representantes de diversas empresas e organizações do país
debatem quais são os desafios e oportunidades trazidos pela adoção da
tecnologia. Nas reuniões são discutidos
temas como o processo de retomada econômica, como a
tecnologia pode impulsionar os negócios e que a requalificação em
habilidades voltadas às tecnologias emergentes é essencial para se beneficiar
do potencial trazido por elas.