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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Fabiano de Abreu: ”A ansiedade é como uma locomotiva que quanto mais acentuada, acrescenta vagões."


O especialista dá dicas de como controlar a ansiedade dentro de um conceito único


A ansiedade, o medo e o pânico são conceitos intrínsecos e complementares entre si. No entanto, muitas das vezes é difícil distinguir o significado de cada um e como eles entram e moldam as nossas vivências. O filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana Fabiano de Abreu partilha conosco a sua perspectiva e explicação destes conceitos.

"A ansiedade é como uma locomotiva que quanto mais acentuada, acrescenta vagões."

"Ansiedade é diferente do medo mas o medo é o gatilho que a ativa. Ela te traz a sensação de perigo mesmo sem ter a ameaça por perto, se concentra numa ideologia futura mas sem ações determinadas. Ela é a motivação para a ação. ", explica o estudioso.

Contudo, o nosso passado e aquilo que vivemos e deixamos nele podem ser também motivações fortes na ativação da nossa ansiedade.

"A ansiedade também é a resposta para traumas que estejam escondidos do consciente, guardados no inconsciente. Por outro lado, podem ser pulsões, ações e reações predestinadas e não realizadas. Essa pendência ativa a ansiedade e armazena as "possíveis realizações”, ou seja, algo que deveria ter sido concluído e não o foi, assim como todos os tipos de pendências. ", explica Abreu.

Como refere o psicanalista, há em nós a necessidade de conclusão, de ver o término de tarefas. Neste momento, "A ansiedade é a necessidade de realização que ainda não encontrou desfecho. Ela atravessa todos os campos da arquitetura da mente, nasce na memória primitiva, é passada para o inconsciente, joga no inconsciente toda a pendência, nos chama a atenção no subconsciente e se instala no consciente.".

"Ansiedade torna-se sinónimo de pendência"

Para tentarmos compreender melhor como a ansiedade nos pode afetar e como se desencadeia, Fabiano de Abreu dá-nos um exemplo muito prático fazendo uma comparação muito fácil de entender. 

"Defino a ansiedade da seguinte maneira;  imagine um móvel com milhares de gavetas. Vamos chamar esse armário de armazenador de pendências, de coisas que tenho que fazer e de acontecimentos que me desagradaram e não os resolvi.

Há gavetas de traumas não resolvidos e de vontades e objetivos não realizados. Neste armário da pendência as gavetas podem ser abertas de acordo com os acontecimentos da vida.

Cada gaveta pode representar um ponto em meio a nuances de um acontecimento, ou seja, caso aconteça algo no presente que arremeta a um trauma passado, este trauma resultou em várias gavetas. Cada uma delas é uma consequência diferente para este trauma. Quanto maior a quantidade de gavetas abertas, maior a ansiedade.


Então imagine que este trauma do passado foi tão grave, que as nuances das respostas traumáticas cabem em 10 gavetas. Quando acontece algo no presente que arremeta a este trauma passado, 10 gavetas da ansiedade e das chances traumáticas são abertas.

Se o trauma coube em 3 gavetas por não ter sido tão grave, são 3 gavetas da ansiedade abertas. A potência da ansiedade está relacionada ao número de gavetas neste caso.

Já as gavetas dos pensamentos do que temos que fazer, das realizações que queremos alcançar e ainda não agimos para que fossem realizadas são moldáveis às vivências.  Se o medo, a turbulência do dia-a- dia causa um terremoto em meu quarto e as gavetas deste tipo de ansiedade se abrem, (supúnhamos 8), temos 8 potências de ansiedade que são abertas em simultâneo.

Quanto maior a quantidade de gavetas, maior o estresse e isso fará abrir mais gavetas. O acumulado de situações leva a um ponto de  confusão mental e é neste momento que respiramos. Que é a primeira saída para controlar este terremoto pois tomámos consciência da situação.", explica Fabiano.

O psicanalista afirma que o estado de ansiedade faz parte do Homem, que é um motor de busca. É essencial para nos motivarmos a agir. 

"A ansiedade faz parte de nós, tem que existir para que possamos ter reações. Sem a ansiedade, ficaríamos estagnados diante do perigo. Ela nos alerta para que possamos agir. A não ação ou reação, resulta em estresse e este, com mais intensidade, pode levar ao pânico. A ansiedade sem reação pode nos levar a um sentimento de tristeza e, se acumulado e contínuo, a depressão pode ser o resultado final. ", explica o filósofo.

Por outro lado há sempre a necessidade de a controlar. A ansiedade tem de ser mantida na medida certa para que com isso possamos tirar algum partido do que nos provoca.

Segundo Fabiano de Abreu: "O que podemos fazer para amenizar a ansiedade e tirar proveito dela? Primeiro faça exercícios de respiração, sempre funciona. Em meio a tantas ideias e pensamentos, o medo de perdê-los pode levar ao estresse então, faça anotações com ordem de prioridade. Use o telemóvel ou caneta e papel, eu prefiro este último pois incentiva a vencer a preguiça. Falando dela, é o que pode nos impedir de agir então, para vencer a preguiça, conte até três e faça logo pois, estará usando a ansiedade para agir e assim ativando ainda mais ansiedade para logo concluir. 

Caso a ansiedade tenha levado a um estresse que o tira fora do eixo, busque o equilíbrio em meio a pensamentos positivos, busque a natureza pois temos uma relação muito íntima à ela e esta energia poderá ajudar.".

Se em algum momento se sentir arrebatado pelo imensidão da ansiedade, se deixar de conseguir raciocinar direito, se perder totalmente o foco, nesse caso:

"Tem horas que vale mais a pena se retirar, descansar, desligar e logo voltar ao normal, afinal, se o que perdeu da memória era tão importante, então, uma hora vai voltar.", concluí Abreu.

O conceito de ansiedade pelo filósofo estará em seu mais novo livro que será lançado este ano, ‘Viver Pode Não Ser Tão Ruim’ volume 2, ‘Das Frasetas ao Contexto’, onde o escritor juntará algumas de suas frases e explicar o seu conceito.






Biografia

Fabiano de Abreu é  membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo com sede na Inglaterra conseguindo alcançar o maior QI registrado com 99 de percentil o que equivale em numeral a um QI acima de 180. Especialista em estudos da mente humana, é membro e sócio da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com sede em Portugal e unidades no Brasil e na Holanda.



Projetos para o futuro. 

Livro sobre o navegador António de Abreu, seu ascendente direto e a história que o leva ao navegador e ao rei Rolo da Normandia.

Livro 'Viver Pode Não Ser Tão Ruim' volume 2 - Das Frasetas ao Contexto. 

Publicação da teoria 'Nova Arquitetura da Mente' - na revista científica Neurociência e Psicologia.

Livro 'Como funciona uma mente inteligente'


Quarentena e as questões emocionais – sua casa não é um cativeiro


O atual cenário de pandemia e consequente quarentena nos impõe um isolamento físico, mas que não precisa ser necessariamente um isolamento social. A reclusão pode fazer com que as pessoas se sintam em uma prisão, em um cativeiro e impedi-las de manter contato com outras pessoas, o que se torna um risco à saúde mental. É necessário manter distância física, mas temos diversas opções para seguirmos com os nossos relacionamentos sociais.

Você está vendo sua casa mais como um cativeiro do que como um local de segurança? Se isto está acontecendo, tente mudar esse pensamento para algo mais positivo, a casa neste momento é um lugar de segurança e conforto, e essa é a hora de identificar outros aspectos positivos de estar em casa neste momento.

Um sinal de que você está mais recluso do que o natural, é perceber que está evitando o contato com outras pessoas. Neste período de distanciamento social, é necessário conversar, mesmo de forma virtual, para expor suas alegrias, expectativas, angústias e trocar experiências.

Você está sem vontade de levantar da cama, sem energia para fazer nada? Isto está acontecendo todos os dias ou eventualmente?

Há dias em que todos nós nos sentimos mais desanimados e tristes, e não queremos muito contato com ninguém, isso é normal, porque estamos nos adaptando a uma nova rotina, a uma nova maneira de levar o dia a dia, estamos aprendendo a lidar com este novo cenário.

No entanto, se essa sensação de querer um afastamento extremo persistir, pode ser um sinal de alerta, de que você está se isolando mais do que deveria. Há vários grupos de psicólogos atendendo on-line. Neste caso vale buscar ajuda de um profissional e conversar sobre isso, para entender o que está acontecendo, não hesite em pedir ajuda.

Neste momento, é muito importante que a pessoa estabeleça uma rotina. Tanto para quem está trabalhando em casa, quanto para quem está cumprindo a quarentena. Tenha um horário para acordar, um horário de tomar o café da manhã, horário de almoçar, de jantar, cumpra uma rotina e nessa rotina é fundamental cumprir algumas atividades físicas, já que elas ajudam muito a manter a saúde física e mental em dia. Há vários professores de educação física postando vídeos de como se exercitar em casa. Então é importante manter um horário para se exercitar. Manter a rotina no seu dia a dia, ajudará muito a sua sanidade mental.

Além disso, para quem não está acostumado com o sistema remoto de trabalho pode sentir mais solidão e stress, porque não há aquele momento de parada do cafezinho, aquela brincadeira com os amigos. Isso tudo não vai existir, e muitas vezes as pessoas acabam extrapolando o horário, e trabalhando até mais tarde do que se estivessem na empresa.

Mas é possível amenizar a solidão! Quem está trabalhando em home-office pode criar algumas estratégias, como:

- Organize um “cantinho” do trabalho (uma estação de trabalho);

- Seja disciplinado com os horários de início, intervalos e fim de expediente;

- Ao acordar, coloque roupa de trabalho, ou seja, nada de ficar de pijama o dia todo;

- Coloque pequenas metas diárias para entregar/concluir tarefas, isso fará se sentir mais produtivo;

- Encontre pessoas como você, que estão em home-office, participe de grupos de discussão, sejam via redes sociais, ou através de fóruns, que permitem que você compartilhe sua rotina, seus desafios e sucessos, isso ameniza a solidão;

- As conversas por vídeo chamada também podem ajudar muito, ao invés de fazer ligações, faça uso do Skype, Facetime, vídeo chamada do WhatsApp;

- Por fim, lembre-se que essa é uma fase passageira e, em breve, a rotina normal será restabelecida.

Também é fundamental que você não se cobre tanto, faça as atividades que conseguir, sem cobranças e sem se comparar com outras pessoas, lembre-se que cada um tem a sua maneira de lidar com este momento. Quando não conseguir se concentrar em alguma tarefa, pare, não force, tente outra coisa.

Nas horas livres, procure atividades prazerosas, tente identificar o que pode te trazer mais prazer e serenidade nestes dias. Atividades simples, como por exemplo, cozinhar, limpar a casa, dançar, ler um livro, podem ajudar.

Se não conseguir se concentrar em uma atividade, tente outra, ou simplesmente permita-se não fazer nada nos momentos que não quiser, permita-se o ócio e a preguiça, sem se cobrar. O momento não é de cobrança e rigidez, é uma oportunidade de se conhecer e estabelecer uma nova maneira de lidar com o dia a dia.

Não seja rígido com você mesmo e não se cobre demais, essa fase vai passar!






Dra. Rita de Cássia Chagas - psicóloga da Filóo Saúde.
CRP: 06/50539-8


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