Oncologistas reforçam relevância da campanha e comentam sobre mutações genéticas e importância do rastreamento precoce da neoplasia
Novembro marca o
início de uma das campanhas mais importantes no cenário da saúde pública
mundial, movimento dedicado à conscientização sobre o câncer de próstata. Para
cada ano do triênio 2023-2025 são esperados 71.730 diagnósticos da doença,
sendo que 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos, segundo o Instituto
Nacional de Câncer (Inca).
Considerado o tipo
mais comum de câncer nos homens, ficando atrás apenas dos tumores de pele não
melanoma, a doença ainda é repleta de dúvidas que merecem atenção. Uma delas, é
o fator da hereditariedade como risco de desenvolvimento da neoplasia.
De acordo com
Denis Jardim, líder nacional da especialidade de tumores urológicos da
Oncoclínicas, o câncer de próstata, na maioria dos casos, pode ocorrer
esporadicamente. "Contudo, existe um número representativo de tumores de
próstata que estão associados a fatores genéticos hereditários. A presença de
outros casos na família aumenta esse risco, mas a hereditariedade pode ocorrer
mesmo na ausência destes casos ", explica.
Além disso,
algumas mutações genéticas específicas, como nos genes BRCA1 e BRCA2, comumente
associadas a tumores com alta incidência em mulheres, também podem aumentar o
risco de câncer de próstata. "A hereditariedade desempenha um papel
importante em uma pequena porcentagem dos casos, mas o conhecimento desse fator
permite uma vigilância mais ativa e estratégias de rastreamento mais
adequadas", reforça Jardim.
Câncer de
mama na família pode ser sinal alerta
Famosa por ter
levado a atriz Angelina Jolie a realizar uma dupla mastectomia preventiva, a
mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 é um indicativo de risco para câncer de mama e
ovário, mas também pode predispor ao câncer de próstata nos homens. Em famílias
com histórico desse tipo de mutação, é fundamental que homens também realizem
testes e se atentem à necessidade de rastreamento.
“O histórico
familiar com essas mutações deve acender um alerta especial para os homens,
refletindo em uma vigilância personalizada e acompanhamento próximo”, explica
Breno Jeha Araujo, oncologista especializado em genômica clínica da
Oncoclínicas. Segundo ele, os painéis genéticos disponíveis atualmente
possibilitam identificar essa predisposição e facilitam a definição de
estratégias de rastreamento mais direcionadas e eficazes.
Contudo, de forma
simples, os exames para detecção precoce incluem ainda o antígeno prostático
específico (PSA) e o toque retal, indicados geralmente a partir dos 50 anos,
mas recomendados mais cedo em casos de histórico familiar ou presença de
mutações. Segundo Araujo, a combinação de testes e exames tradicionais permite
estratégias precisas, oferecendo ao paciente a oportunidade de intervir em
estágios iniciais da doença, onde o tratamento é mais eficaz e menos invasivo.
Denis Jardim
ressalta que o rastreamento precoce é essencial em casos como este, pois o
conjunto de exames, aliado a uma rotina de check-ups regulares, são um
importante recurso de prevenção para aqueles com histórico familiar de
mutações. “Esse conhecimento promove um acompanhamento mais assertivo,
incentivando os homens a aderirem a uma postura preventiva ao longo de toda a
vida, sempre baseada em informações de qualidade”.
Síndrome de
Lynch e câncer de próstata: existe relação?
A Síndrome de
Lynch, uma condição hereditária causada por mutações nos genes responsáveis
pela reparação de DNA, é conhecida por aumentar o risco de vários tipos de
câncer, como o colorretal, endométrio e ovário. Contudo, segundo artigos
publicados no Urology Times e Facing Hereditary Cancer, mostram que homens com
mutações associadas à Síndrome de Lynch, particularmente nos genes MLH1, MSH2 e
MSH6, apresentam um risco aumentado de desenvolver câncer de próstata em
comparação com a população geral.
A ligação entre a
síndrome e o câncer de próstata reforça a importância da vigilância genética em
famílias com histórico dessa mutação, uma vez que a detecção precoce pode
melhorar significativamente o prognóstico.
"Compreender
a relação entre a Síndrome de Lynch e o câncer de próstata é fundamental é um
ponto importante não só para a identificação precoce de mutações, mas também
para intervenções que podem salvar vidas. Homens com histórico familiar dessa
síndrome devem ser incentivados a realizar acompanhamentos regulares, uma vez
que a detecção antecipada do câncer de próstata pode levar a melhores desfechos
clínicos", explica Denis Jardim.
Entenda o
câncer de próstata
É um tipo de
neoplasia maligna (tumor) com uma perspectiva de cura otimista caso seja identificado
rapidamente. "De maneira didática, podemos dizer que durante toda a vida,
nossas células se multiplicam e as antigas são substituídas pelas novas.
Contudo, quando há um crescimento descontrolado, são formados tumores tanto
benignos, quanto malignos - como é o caso do câncer de próstata", diz
Jardim.
O especialista
explica que a próstata é uma glândula do tamanho de uma noz, que tem a função
de produzir o chamado líquido seminal, responsável por nutrir e transportar os
espermatozóides. Presente apenas em pessoas do gênero masculino, está
localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, e envolve a parte superior da
uretra, canal por onde passa a urina.
Por ser um tumor
silencioso, a principal ferramenta para diagnóstico em fases iniciais da doença
é o exame de PSA. No Brasil, segundo o Inca, a cada dez homens diagnosticados
com câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos.
No começo, pelo
fato dos sintomas serem silenciosos, a doença comumente é detectada a partir da
avaliação clínica e/ou exame de PSA. Quando aparentes, os sinais mais comuns
são: dificuldade para urinar, presença de sangue na urina, parada de
funcionamento dos rins - indicam estágio avançado -, além de problemas
decorrentes da disseminação para outros órgãos, tal como dor, nos casos de
metástases ósseas.
Por isso, a
conscientização sobre a rotina de acompanhamento médico e o rastreamento ativo
é sempre a melhor opção. Homens que se encontram no grupo de risco, composto
por quem tem mais de 50 anos ou com histórico familiar, devem estar atentos aos
exames necessários para rastreamento do câncer de próstata.
“Por apresentar
sintomas mais evidentes quando a doença já apresenta evolução, é recomendável
que homens a partir de 50 anos façam anualmente o exame clínico (toque retal) e
a medição do antígeno prostático específico (PSA) - feita em unidades de
nanogramas por mililitro (ng/ml) por meio de um exame simples de sangue - para
rastrear possíveis alterações que indiquem aparecimento da doença. Quando há
suspeita da neoplasia, é indicada uma biópsia através de ultrassonografia
transretal para a confirmação do diagnóstico, precedida muitas vezes de uma
ressonância”, destaca.
Para a definição
do tratamento, é necessário analisar o estágio e agressividade do tumor e, com
isso, o oncologista irá projetar individualmente alternativas terapêuticas. Já
nos casos da doença localizada, a cirurgia, radioterapia associadas ou não ao
bloqueio hormonal e a braquiterapia podem ser uma opção. “Em estágio inicial e
de baixa agressividade, devemos manter um acompanhamento contínuo de consultas
e exames, além do tratamento. Quanto aos pacientes que apresentam metástases,
temos uma série de abordagens que podem ser realizadas, como quimioterapia,
bloqueio hormonal, medicamentos para controle da ação da testosterona e ainda
os chamados radioisótopos, que são uma nova classe de medicamentos com
partículas que se ligam ao osso e passam a emitir doses de radioterapia local”,
orienta Denis Jardim.
www.grupooncoclinicas.com
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