A
Black Friday está chegando e, com ela, uma infinidade de ofertas, descontos e
promessas de oportunidades únicas. Mas, como psicólogo, sinto que é importante
refletir sobre o lado menos visível desta data: o impacto emocional e
psicológico que o frenesi de consumo pode causar. Em vez de trazer apenas
satisfação, a Black Friday, para muitos, transforma-se em uma fonte
significativa de estresse e ansiedade.
O
apelo comercial dessa época é poderoso. A publicidade se vale de estratégias
que criam uma sensação de urgência: ou aproveitamos as ofertas, ou estamos
"perdendo algo fundamental". Essa pressão — somada à competição por
produtos limitados e à ideia de que estamos diante de uma oportunidade
irrepetível — coloca as pessoas em um estado de alta tensão, gerando ansiedade.
A gestão financeira é outro fator crítico: o medo de gastar demais e prejudicar
o orçamento familiar acompanha muitos consumidores que, muitas vezes, ficam
entre o desejo de economizar e a necessidade de manter o equilíbrio financeiro.
As
expectativas infladas são outra questão problemática. A Black Friday promete
verdadeiras "pechinchas", mas a realidade,
muitas vezes, decepciona. Quando o consumidor
não encontra o que esperava, a frustração se instala, muitas vezes acompanhada
por um sentimento de arrependimento. Na tentativa de aliviar essa sensação, as
pessoas acabam consumindo ainda mais, alimentando um ciclo que traz alívio imediato,
mas pode deixar marcas emocionais duradouras, como culpa e até sofrimento
psíquico.
Esse
padrão de consumo impulsivo durante a Black Friday é preocupante e pode ser um
sinal de alerta. Fiquemos atentos aos sintomas: estresse e ansiedade em níveis
elevados, comportamentos impulsivos e até mesmo isolamento social podem indicar
que a linha entre o prazer do consumo e o risco psicológico foi ultrapassada.
Comportamentos assim, se mantidos, podem degradar a saúde mental e dificultar o
controle das próprias finanças.
Então,
o que fazer? A resposta está no equilíbrio e na consciência. Planejar as
compras e estabelecer um orçamento realista são atitudes essenciais para
reduzir o risco de escolhas impulsivas e danos financeiros. É preciso estar
atento às táticas de marketing e saber identificar o que é, de fato, uma boa
compra e o que não passa de um apelo emocional cuidadosamente arquitetado. E,
acima de tudo, é importante priorizar o bem-estar emocional. Praticar o
autocuidado e buscar atividades que promovam relaxamento pode ajudar a
atravessar esse período sem cair nas armadilhas do consumo desenfreado.
Como
psicólogo, reforço a importância de focar na qualidade das aquisições e não na
quantidade. E, se o estresse se tornar excessivo, não hesite em buscar apoio.
Família, amigos e profissionais da saúde mental estão aqui para ajudar. A Black
Friday pode trazer boas oportunidades, mas que elas não venham ao custo da
nossa paz e equilíbrio.
Thiago Lacerda -
psicólogo e docente do curso de Psicologia da Estácio
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