Especialista alerta sobre a importância do equilíbrio hormonal como aliado esquecido na batalha contra a obesidade
Os hormônios desempenham um papel crucial na regulação do metabolismo, do apetite e da distribuição de gordura, influenciando diretamente o processo de perda de peso e a saúde geral.
Desde que a obesidade foi classificada como doença crônica pela Associação Médica Americana, em 2013, e, posteriormente, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o entendimento sobre suas causas e tratamentos evoluiu. Essa mudança traz um olhar mais científico e menos culpabilizante, mostrando que emagrecer vai além da simples combinação de “fechar a boca e praticar atividade física.”
No Brasil, dados são alarmantes: 56% dos adultos
estão com excesso de peso, sendo 34% obesos e 22% com sobrepeso. Uma projeção
recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que, mantidos os hábitos
alimentares atuais, cerca de 130 milhões de brasileiros adultos poderão ter
sobrepeso ou obesidade em 2044. Desses, 83 milhões estarão obesos e 47 milhões
com sobrepeso.
De acordo com a Dra. Cynthia Abdalla, médica especialista em longevidade e coloproctologia, o processo de emagrecimento envolve uma complexa interação entre mecanismos biológicos e comportamentais, nos quais os hormônios têm um papel central. “Hormônios como cortisol, insulina, tireoidianos e sexuais precisam ser sempre considerados no processo de emagrecimento. Alterações hormonais podem influenciar o ganho de peso e a dificuldade em perdê-lo, mas isso costuma ser ignorado”, alerta a médica.
Com o passar dos anos, a produção natural de hormônios sexuais, como estrogênio e testosterona, diminui gradualmente, o que pode desacelerar o metabolismo e aumentar a tendência ao ganho de peso, especialmente nas mulheres. "A partir dos 30 anos, os níveis de testosterona nas mulheres começam a cair cerca de 2% ao ano, intensificando-se após os 40. Na menopausa, a queda acentuada de hormônios como testosterona, estradiol e progesterona afeta diretamente o organismo, reduzindo a queima calórica, favorecendo o acúmulo de gordura abdominal e diminuindo a massa muscular", explica Abdalla.
Para os homens, a diminuição dos níveis de
testosterona também inicia por volta dos 40 anos, com uma queda média de 1,6%
ao ano, intensificando-se aos 50. Essa redução pode levar ao aumento da gordura
abdominal e à perda de massa muscular, dificultando a manutenção de um peso
saudável.
O impacto dos hormônios no comportamento e na prática de
atividade física
A queda hormonal não afeta apenas o metabolismo, mas também influencia o comportamento alimentar e a disposição para a prática de atividades físicas. “Sabemos hoje que mudanças hormonais podem desencadear quadros de depressão e ansiedade, que frequentemente levam a um aumento do consumo de açúcares e ao sedentarismo, ambos fatores que favorecem o ganho de peso”, comenta a especialista.
Compreender e tratar as alterações hormonais pode ser uma das chaves para o combate eficaz à obesidade, enfatiza a Dra. Cynthia. A abordagem passa por uma avaliação detalhada dos níveis hormonais e por tratamentos que restabeleçam o equilíbrio, o que potencializa os efeitos de outras intervenções no emagrecimento, como a alimentação balanceada e a atividade física.
Essa perspectiva reforça a importância de um
acompanhamento multidisciplinar para que pacientes possam lidar com a obesidade
de maneira mais eficiente e com um suporte menos simplista, que inclua tanto a
saúde física quanto mental.
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