Entenda os riscos das picadas de animais peçonhentos e como agir corretamente para evitar complicações durante a estação mais quente do ano
Durante o verão, o
número de acidentes envolvendo picadas de cobras e aranhas tende a aumentar,
principalmente em áreas de mata, trilhas e cachoeiras. O calor intenso,
combinado com as chuvas frequentes, cria um ambiente propício para esses
animais peçonhentos se tornarem mais ativos, uma vez que seus abrigos naturais
são inundados, forçando-os a buscar novos locais, o que eleva o risco de
encontros inesperados com seres humanos. Além disso, o aumento das atividades
ao ar livre durante a estação faz com que as pessoas fiquem mais expostas a
esses perigos naturais, exigindo maior atenção e cuidados preventivos.
Segundo o Alvaro
Pulchinelli Jr., médico toxicologista, patologista clínico e presidente da
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), os
principais fatores que levam ao aumento desses acidentes estão relacionados à
maior movimentação das pessoas nessas áreas naturais e ao comportamento dos
próprios animais. “No verão, as pessoas saem mais de casa e vão frequentar
locais onde esses animais vivem naturalmente. O calor acelera o metabolismo
deles, fazendo com que saiam mais à procura de alimento. Além disso, as chuvas
intensas podem inundar seus abrigos, forçando-os a se deslocar para áreas
secas, o que facilita um eventual encontro com humanos”, explica o especialista
da SBPC/ML.
Caso ocorra um
acidente, manter a calma é essencial. “O risco de morte não é iminente, então é
possível procurar ajuda especializada com segurança”, afirma Pulchinelli Jr,
acrescentando que os primeiros socorros incluem lavar o local da picada com
água e sabão de forma abundante para reduzir o risco de infecção, imobilizar o
membro afetado para evitar a disseminação do veneno e buscar atendimento médico
imediato. Por outro lado, de acordo com Pulchinelli Jr., não se deve cortar a
ferida ou tentar sugar o veneno, aplicar soluções caseiras como café ou ervas,
nem usar torniquetes, pois podem agravar os danos teciduais. “Também é
importante não matar o animal, e se possível, levá-lo ao hospital para
facilitar a identificação e o tratamento adequado", esclarece.
No Brasil, existem
três espécies de aranhas consideradas de interesse médico: viúva-negra,
aranha-marrom e armadeira. Diferenciá-las de outras não venenosas pode ser
difícil no momento do acidente, por isso é fundamental procurar assistência
médica. “Aranhas caranguejeiras, apesar do aspecto assustador, possuem picadas
dolorosas, mas inofensivas para humanos”, exemplifica o médico. Já entre as
cobras, as que apresentam maior perigo são as jararacas, cascavéis e corais.
Seus venenos podem ter efeitos proteolíticos (destroem proteínas e tecidos,
causando necrose e inflamação), hemolíticos (rompem glóbulos vermelhos, levando
à anemia e urina avermelhada) e neurotóxicos (afetam o sistema nervoso, podendo
causar paralisia e insuficiência respiratória), causando danos graves ao
organismo.
De acordo com
Pulchinelli Jr, em casos de picadas, exames laboratoriais são fundamentais para
avaliar a gravidade da intoxicação. Os principais exames solicitados incluem
hemograma, eletrólitos, função renal, exames de coagulação e urina. “A presença
de urina avermelhada pode indicar hemólise, uma das complicações do veneno. São
exames simples, disponíveis na maioria dos hospitais, e são essenciais para
guiar o tratamento correto”, destaca o especialista, presidente da SBPC/ML.
Prevenção é a melhor estratégia para evitar picadas. Para isso, é importante evitar colocar as mãos em buracos, troncos ocos ou sob pedras, usar botas de cano alto ao caminhar por trilhas e manter terrenos limpos, sem acúmulo de entulho, para impedir que esses animais encontrem abrigo. Controlar pragas como ratos e baratas também é essencial, pois esses animais atraem cobras e escorpiões. Além disso, é fundamental verificar sapatos e roupas antes de vestir, pois aranhas e escorpiões podem se esconder nessas peças.
Outro ponto importante é evitar o uso de venenos comuns para tentar eliminar os escorpiões. “Esses produtos muitas vezes não matam o escorpião, apenas o desalojam, aumentando o risco de acidentes”, alerta o especialista, acrescentando que com informação e prevenção, é possível aproveitar as trilhas, cachoeiras e matas com mais segurança, reduzindo os riscos de encontros indesejados com animais peçonhentos.
SBPC/ML
- A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
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