Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM) revela que a cobertura mamográfica pelo SUS
atinge apenas 33% da população-alvo no País. Aumento dos casos da doença e
potencial diminuição das chances de cura preocupa especialistasIakobchuk
O Dia Nacional da Mamografia, instituído por lei em
2008, chama a atenção para uma situação preocupante. Com base em informações
disponibilizadas pelo Painel Oncologia do DATASUS, a Sociedade Brasileira de
Mastologia (SBM) revela que a cobertura mamográfica pelo SUS (Sistema Único de
Saúde) atinge atualmente apenas 33% da população-alvo no País. Esta constatação
vem acompanhada de um dado ainda mais alarmante: 70% das mulheres atendidas
pelo serviço público de saúde descobrem sozinhas o próprio tumor. “Ou seja,
pela palpação das mamas as pacientes detectam por si mesmas o câncer em estágio
avançado, sem mesmo terem passado pelo exame de mamografia”, explica o
mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM. Nesta etapa,
ressalta o especialista, as dificuldades para o enfrentamento da doença são
ampliadas, assim como os custos para o tratamento, e há uma drástica redução
das chances de cura.
“Este é um ano especialmente desafiador para o
rastreamento e o enfrentamento do câncer de mama no Brasil”, afirma Tufi
Hassan, presidente da SBM. Hoje, destaca o mastologista, para ter uma cobertura
mamográfica ideal, o SUS deveria realizar o exame em mais de 70% da população-alvo.
O Brasil dispõe de 6.550 mamógrafos em uso em 2025.
“Este é um número considerado suficiente para atender a população-alvo”, afirma
o assessor especial da SBM, Ruffo Freitas-Junior. No entanto, o especialista
observa que além dos desafios associados ao rastreamento nacional de câncer de
mama e à melhoria da infraestrutura de saúde, há a necessidade de ampliar o
acesso, a conscientização e a educação da população. “Estas iniciativas devem
ser integradas a políticas de saúde pública para que o Brasil alcance
resultados mais eficazes e equitativos”, destaca.
Pelas dificuldades de acesso à mamografia, a
Sociedade Brasileira de Mastologia constata o maior aumento do câncer de mama
em mulheres abaixo dos 50 anos no País. Atualmente, pacientes com idades entre
40 e 50 anos respondem por 23% dos casos da doença no Brasil. Diante desta
realidade, a SBM recomenda a realização do exame a partir de 40, e não aos 50
anos, como preconiza o SUS por meio do Ministério da Saúde.
No SUS, com rastreamento bienal entre 50 e 69 anos,
apenas 5% dos diagnósticos são carcinoma in situ, ou em estágio inicial; 40% são
estágios localmente avançado ou metastático, “o que comprova, na prática, a
total ineficácia do modelo proposto”, ressalta Freitas-Junior.
De acordo com Tufi Hassan, os desafios em 2025
incluem um novo capítulo protagonizado pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), responsável pela regulação, normatização, controle e
fiscalização de operadoras e planos privados de assistência à saúde. Por meio
de Consulta Pública, o órgão pretende a realização do rastreamento organizado
de câncer de mama por meio de mamografia em beneficiárias entre 50 e 69 anos a
cada dois anos. “Estamos diante de um retrocesso que exige a participação de
toda a sociedade, assim como a união das classes médicas para incentivar o
diagnóstico precoce que, comprovadamente, salva vidas”, pontua o presidente da
SBM. “É fundamental que as ações sejam respaldadas em estudos e pesquisas para
proporcionar tratamentos adequados às mulheres”, completa.
Desde a biópsia até o primeiro tratamento,
observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os
atendimentos representaram 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e
60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram
44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM também considera
fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do
tratamento no prazo máximo de dois meses.
Desde 1990, a mortalidade por câncer de mama no
Brasil e na América Latina, de acordo com a SBM, aumenta continuamente. “Em uma
data relevante, como o Dia Nacional da Mamografia, ressaltamos a importância de
defendermos a qualidade assistencial para a maior efetividade no enfrentamento
de uma doença com muitas opções de tratamento e excelente qualidade de vida
para as pacientes, quando detectada precocemente”, conclui o presidente da
Sociedade Brasileira de Mastologia.
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