A neuropsicanalista Carla Salcedo alerta para a
necessidade de uma alfabetização digital, onde a tecnologia é utilizada de
forma consciente, equilibrada e estratégica, sem prejudicar o desenvolvimento
emocional e cognitivo das crianças
Recentemente,
o Brasil tomou uma medida radical ao proibir o uso de celulares em escolas, uma
decisão que divide opiniões. De um lado, há os defensores de que o aparato
tecnológico tem prejudicado a concentração e o rendimento acadêmico das
crianças. Do outro, existe a realidade de que essas mesmas crianças nasceram na
era digital e são, por essência, imersas nesse mundo virtual. A questão é: estamos,
como sociedade, preparados para lidar com esse novo cenário sem prejudicar o
desenvolvimento das futuras gerações?
Para
a neuropsicanalista Carla Salcedo, a decisão tem implicações complexas. “A
proibição pode ser uma resposta imediata a um problema real, mas não trata a
raiz da questão. As crianças de hoje nasceram em um mundo digital, e seus
cérebros estão sendo moldados por essas novas tecnologias. O desafio é como
usar essas ferramentas de forma positiva, e não se livrar delas de maneira
simplista”, afirma a especialista.
Estudos
recentes sobre o uso da tecnologia no desenvolvimento infantil revelam que o
cérebro de crianças e adolescentes é particularmente vulnerável aos estímulos
digitais. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil
possui mais de 100 milhões de smartphones em circulação, e a maioria das
crianças tem seu primeiro contato com a tecnologia entre os 4 e 6 anos. Isso
levanta uma importante questão: como educadores e famílias podem se adaptar a
esse novo paradigma?
Embora
o uso de celulares possa ser um fator de distração, a questão não é apenas
sobre a presença do aparelho, mas como ele é utilizado. A pesquisa realizada
pela Unicef Brasil em 2023 mostrou que, embora 78% dos professores considerem
os celulares uma distração em sala de aula, 55% deles afirmam que o uso
controlado pode ser uma ferramenta educativa. O grande desafio está em
equilibrar essas duas pontas: aproveitar os benefícios da tecnologia sem
comprometer o aprendizado.
Para
a neuropsicanalista, a solução não está em restringir o acesso à tecnologia,
mas em educar para um uso consciente. “Precisamos de uma nova alfabetização
digital. Não basta saber usar um celular; é preciso saber como ele impacta a
mente e como os professores podem usar essas ferramentas de maneira que
complementem o processo de aprendizagem”, explica Carla.
Ações para Pais e Professores
Diante
desse novo cenário, tanto os pais quanto os educadores precisam ser proativos
em relação ao impacto digital. Carla Salcedo oferece algumas dicas essenciais
para lidar com essa transição:
1. Desenvolver uma comunicação aberta: Pais e professores precisam conversar sobre os
impactos da tecnologia no desenvolvimento das crianças. Promover um ambiente
onde o celular seja visto como uma ferramenta, e não um vilão, é fundamental.
2. Educação sobre o uso consciente: Ensinar as crianças a fazerem escolhas saudáveis,
limitando o tempo de tela e criando espaços para atividades offline, como
leitura, esporte e interação social.
3. Utilizar a tecnologia como aliada: Professores podem usar os celulares de forma
criativa, por meio de aplicativos educacionais que incentivem o aprendizado,
sem substituir o contato humano e a reflexão crítica.
4. Ser exemplo: Tanto pais quanto educadores devem dar o exemplo.
O uso responsável da tecnologia em casa e na sala de aula será, sem dúvida, o
maior aprendizado que os jovens podem ter.
5. Estabelecer limites claros: Definir horários e locais específicos para o uso
de dispositivos, como durante as refeições ou antes de dormir, para evitar
impactos negativos na qualidade do sono e nas relações familiares.
6. Promover a interação social e atividades fora
das telas: Incentivar
atividades em grupo, como jogos de tabuleiro, brincadeiras ao ar livre e práticas
esportivas, ajudando as crianças a desenvolverem habilidades sociais e
emocionais importantes para a vida real.
7. Criar um ambiente de aprendizado balanceado: Pais e professores podem alternar momentos de uso
da tecnologia com atividades analógicas, como leitura de livros, arte ou
tarefas práticas, para garantir uma experiência de aprendizado completa e
integrada.
8. Fomentar a reflexão crítica sobre o conteúdo
digital: Ensinar as
crianças a avaliar o que consomem na internet, promovendo o pensamento crítico
sobre as informações e desenvolvendo uma postura mais consciente sobre o
conteúdo acessado.
O uso de celulares nas escolas é um debate que exige reflexão profunda. Em vez
de ver as novas gerações como “vítimas” da tecnologia, talvez seja hora de repensar
nossas estratégias de ensino e adaptação. Como bem afirma Carla Salcedo, “a era
digital exige mais do que uma proibição; ela nos desafia a preparar as crianças
para um mundo que já chegou.” Pais e educadores têm o poder de guiar esse
processo, criando um ambiente que favoreça o equilíbrio entre a modernidade e
os valores essenciais do aprendizado humano. Essa discussão está longe de ser
resolvida, mas uma coisa é certa: a resposta para esse dilema está nas mãos e
pais, tutores e educadores.
Carla Salcedo - Neuropsicanalista especialista em traumas e lutos
Avenida Macuco, 726 - Cj. 1110 - Moema
Link
(11) 97646-3147
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