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sábado, 8 de fevereiro de 2025

A ERA DIGITAL NAS ESCOLAS: ESTAMOS PREPARADOS PARA LIDAR COM OS EFEITOS?

 

A neuropsicanalista Carla Salcedo alerta para a necessidade de uma alfabetização digital, onde a tecnologia é utilizada de forma consciente, equilibrada e estratégica, sem prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças
 

Recentemente, o Brasil tomou uma medida radical ao proibir o uso de celulares em escolas, uma decisão que divide opiniões. De um lado, há os defensores de que o aparato tecnológico tem prejudicado a concentração e o rendimento acadêmico das crianças. Do outro, existe a realidade de que essas mesmas crianças nasceram na era digital e são, por essência, imersas nesse mundo virtual. A questão é: estamos, como sociedade, preparados para lidar com esse novo cenário sem prejudicar o desenvolvimento das futuras gerações? 

Para a neuropsicanalista Carla Salcedo, a decisão tem implicações complexas. “A proibição pode ser uma resposta imediata a um problema real, mas não trata a raiz da questão. As crianças de hoje nasceram em um mundo digital, e seus cérebros estão sendo moldados por essas novas tecnologias. O desafio é como usar essas ferramentas de forma positiva, e não se livrar delas de maneira simplista”, afirma a especialista. 

Estudos recentes sobre o uso da tecnologia no desenvolvimento infantil revelam que o cérebro de crianças e adolescentes é particularmente vulnerável aos estímulos digitais. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil possui mais de 100 milhões de smartphones em circulação, e a maioria das crianças tem seu primeiro contato com a tecnologia entre os 4 e 6 anos. Isso levanta uma importante questão: como educadores e famílias podem se adaptar a esse novo paradigma? 

Embora o uso de celulares possa ser um fator de distração, a questão não é apenas sobre a presença do aparelho, mas como ele é utilizado. A pesquisa realizada pela Unicef Brasil em 2023 mostrou que, embora 78% dos professores considerem os celulares uma distração em sala de aula, 55% deles afirmam que o uso controlado pode ser uma ferramenta educativa. O grande desafio está em equilibrar essas duas pontas: aproveitar os benefícios da tecnologia sem comprometer o aprendizado. 

Para a neuropsicanalista, a solução não está em restringir o acesso à tecnologia, mas em educar para um uso consciente. “Precisamos de uma nova alfabetização digital. Não basta saber usar um celular; é preciso saber como ele impacta a mente e como os professores podem usar essas ferramentas de maneira que complementem o processo de aprendizagem”, explica Carla.
 

Ações para Pais e Professores

Diante desse novo cenário, tanto os pais quanto os educadores precisam ser proativos em relação ao impacto digital. Carla Salcedo oferece algumas dicas essenciais para lidar com essa transição:
 

1. Desenvolver uma comunicação aberta: Pais e professores precisam conversar sobre os impactos da tecnologia no desenvolvimento das crianças. Promover um ambiente onde o celular seja visto como uma ferramenta, e não um vilão, é fundamental.

2. Educação sobre o uso consciente: Ensinar as crianças a fazerem escolhas saudáveis, limitando o tempo de tela e criando espaços para atividades offline, como leitura, esporte e interação social.

3. Utilizar a tecnologia como aliada: Professores podem usar os celulares de forma criativa, por meio de aplicativos educacionais que incentivem o aprendizado, sem substituir o contato humano e a reflexão crítica.

4. Ser exemplo: Tanto pais quanto educadores devem dar o exemplo. O uso responsável da tecnologia em casa e na sala de aula será, sem dúvida, o maior aprendizado que os jovens podem ter.

5. Estabelecer limites claros: Definir horários e locais específicos para o uso de dispositivos, como durante as refeições ou antes de dormir, para evitar impactos negativos na qualidade do sono e nas relações familiares.

6. Promover a interação social e atividades fora das telas: Incentivar atividades em grupo, como jogos de tabuleiro, brincadeiras ao ar livre e práticas esportivas, ajudando as crianças a desenvolverem habilidades sociais e emocionais importantes para a vida real.

7. Criar um ambiente de aprendizado balanceado: Pais e professores podem alternar momentos de uso da tecnologia com atividades analógicas, como leitura de livros, arte ou tarefas práticas, para garantir uma experiência de aprendizado completa e integrada.

8. Fomentar a reflexão crítica sobre o conteúdo digital: Ensinar as crianças a avaliar o que consomem na internet, promovendo o pensamento crítico sobre as informações e desenvolvendo uma postura mais consciente sobre o conteúdo acessado.


O uso de celulares nas escolas é um debate que exige reflexão profunda. Em vez de ver as novas gerações como “vítimas” da tecnologia, talvez seja hora de repensar nossas estratégias de ensino e adaptação. Como bem afirma Carla Salcedo, “a era digital exige mais do que uma proibição; ela nos desafia a preparar as crianças para um mundo que já chegou.” Pais e educadores têm o poder de guiar esse processo, criando um ambiente que favoreça o equilíbrio entre a modernidade e os valores essenciais do aprendizado humano. Essa discussão está longe de ser resolvida, mas uma coisa é certa: a resposta para esse dilema está nas mãos e pais, tutores e educadores.

 

Carla Salcedo - Neuropsicanalista especialista em traumas e lutos
Avenida Macuco, 726 - Cj. 1110 - Moema
Link
(11) 97646-3147

 

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