A engenharia está no centro das soluções para os maiores desafios do nosso tempo: do combate às mudanças climáticas à criação de tecnologias sustentáveis e inclusivas. No entanto, a profissão enfrenta um obstáculo preocupante: o desinteresse crescente dos jovens. Se quisermos garantir um futuro inovador e competitivo, é essencial reinventar a forma como a engenharia é percebida e ensinada.
O alerta dos números
Os
dados do censo da educação superior revelam uma realidade preocupante. Em 2016,
os cursos presenciais de engenharia no Brasil registraram 284 mil ingressantes.
Em 2021, esse número caiu pela metade. O enfraquecimento da indústria e a
redução do financiamento estudantil são parte da explicação, mas a falta de
atratividade da profissão também pesa. Muitos jovens simplesmente deixaram de
enxergar a engenharia como uma carreira capaz de transformar o mundo e suas próprias
vidas.
A nova engenharia
A
solução para reverter esse cenário não está apenas em aprimorar a formação
técnica, mas em ressignificar o papel da engenharia na sociedade. Os
engenheiros de hoje e do futuro devem ser apresentados como protagonistas de
inovações que impactam diretamente o cotidiano das pessoas. Do desenvolvimento
de fontes limpas de energia à criação de cidades inteligentes, a engenharia
precisa ser vista como uma ferramenta para um mundo mais seguro, eficiente e
acessível.
Além
disso, contar histórias inspiradoras de engenheiros que estão mudando
realidades é essencial para engajar os jovens. Casos de sucesso de
profissionais que desenvolveram tecnologias acessíveis ou soluções inovadoras
para desafios ambientais podem despertar o interesse de uma nova geração de
talentos.
Currículos que formam inovadores
As
melhores escolas de engenharia do mundo já estão repensando seus currículos.
Não se trata apenas de incluir disciplinas mais modernas, mas de reformular
todo o modelo de ensino. É preciso capacitar docentes, investir em laboratórios
de ponta, fortalecer parcerias com a indústria e promover um ambiente acadêmico
colaborativo e interdisciplinar.
Hoje,
um engenheiro precisa dominar não só a engenharia clássica, mas também conceitos
de inteligência artificial, ciência de dados, materiais avançados e até
humanidades. Problemas complexos exigem soluções criativas, e isso só é
possível quando há integração entre diferentes áreas do conhecimento.
Diversidade: um Caminho sem volta
Outro
desafio é tornar a engenharia mais inclusiva. A predominância masculina na
profissão é uma herança do passado que precisa ser superada. No exterior,
diversas universidades têm adotado ações afirmativas para atrair mais mulheres
para a carreira, com resultados expressivos. Ambientes acadêmicos mais
acolhedores, aumento do número de professoras e campanhas que valorizam a
presença feminina na engenharia são algumas das estratégias de sucesso.
Mas
a inclusão precisa ir além do gênero. Expandir o acesso à engenharia para
jovens de diferentes perfis socioeconômicos e culturais amplia a diversidade de
ideias e soluções dentro da profissão.
Um futuro promissor
Apesar
dos desafios, o futuro da engenharia é promissor. A demanda por profissionais
altamente qualificados continuará crescendo, e aqueles que estiverem preparados
para enfrentar problemas complexos serão altamente valorizados. As instituições
que investirem em currículos inovadores e na formação integral de seus alunos
colherão frutos.
Mais
do que nunca, é hora de posicionar a engenharia como uma profissão que alia
competência técnica a um profundo senso de propósito. Convido os jovens a
refletirem sobre seu papel como protagonistas das soluções para um mundo
melhor. Juntos, podemos transformar desafios em oportunidades e garantir que a
engenharia continue a ser a força propulsora do progresso do Brasil.
Marcello Nitz - Engenheiro de Alimentos, reitor e professor dos cursos de engenharia de alimentos e engenharia química do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)
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