O endividamento decorrente do uso do cartão de crédito e do cheque especial pode ser uma armadilha financeira que afeta muitas famílias. Pesquisa inédita da Fundação Seade mostra que em 2023 o pagamento em dia das dívidas assumidas pelas famílias no Estado de São Paulo melhorou quatro pontos percentuais em relação ao ano anterior. O levantamento foi realizado por telefone e entrevistou 3.704 pessoas com 18 anos e mais, em abril de 2022, e 3.635, em julho de 2023.
O nível de endividamento e os respectivos pagamentos, interfere diretamente no poder de consumo e na qualidade de vida das pessoas e das famílias, pois parte de seus gastos com alimentos, remédios, moradia e uso de serviços essenciais, como água, gás e energia elétrica, pode ficar comprometida.
Em 2023, 59% das famílias no Estado de São Paulo estão endividadas, parcela igual à observada em 2022. O endividamento é menor na faixa de renda familiar mais alta (mais de dez salários mínimos, com 46%) e maior naquelas famílias com renda de mais de um a dez salários mínimos (62%). O interior paulista apresenta maior proporção de endividamento (61%) do que a Região Metropolitana de São Paulo (57%).
Em 84% dos casos de contas em atraso, os motivos são cartão de crédito, cheque especial ou empréstimos, 31% de financiamento de imóvel ou aluguel e 18% de financiamento de automóvel.
Em 2023, para 29% das famílias com atraso em seus pagamentos, o tempo estimado para que possam colocar as contas em dia é de três meses a um ano e 39% não tem ideia de quando poderão efetuar seus pagamentos, proporção que equivale a 42% na RMSP e 55% entre as famílias com renda de até um salário mínimo.
Quando se trata de despesas com alimentação e farmácia, 37% das famílias não pagaram em dia esse tipo de despesa nos últimos seis meses. Essa proporção é de 58% entre as famílias com menor renda e de 54% entre aquelas que recebiam Bolsa Família, Bolsa do Povo, BPC ou outro programa de transferência de renda.
Apesar da menor proporção em relação a 2022, ainda há 27% de famílias no Estado que não conseguiram pagar em dia suas contas de água, luz e gás nos últimos seis meses da pesquisa. Por faixa de renda familiar, 35% das famílias com menor renda não puderam fazer esse tipo de pagamento.
Como consequência dessas dívidas, 67% das famílias se viram obrigadas a diminuir despesas com alimentação e remédios, proporção que se eleva para 76% nas famílias com renda de até um salário mínimo.
A proporção de famílias que consegue
guardar dinheiro se restringe a 10% das famílias de até um salário mínimo e 62%
das famílias com mais de 10 salários mínimos, desigualdade que se reflete na
forma de obtenção de recursos para financiar seus gastos: nas famílias de até
um salário mínimo 49% usa o dinheiro que consegue guardar para realizar suas
despesas, provavelmente em função de dificuldades de obter crédito no setor
financeiro (apenas 18% o fazem), enquanto nas famílias de mais de três salários
mínimos 43% obtém crédito em banco ou financeira.
Alexandre
Loloian - da Divisão de Indicadores Sociais da Fundação Seade
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