Vamos abordar a saúde emocional dos profissionais da educação, que são importante referência para crianças e adolescentes cada vez mais estressados e/ou com problemas de aprendizado e comportamento. Falar disso é uma necessidade, diante dos efeitos do cenário pós-pandemia e em função do agravamento das divisões políticas e extremismos. Esses e outros fatores ligados às mudanças no papel do professor, aumento dos desafios nas interações com as famílias e das cobranças da nossa sociedade, tornam urgente discutir o tema.
Foi normatizado pelo sistema
educacional que, além de transmitir conhecimento, o professor precisa
participar da formação integral dos alunos, desenvolvendo as habilidades
socioemocionais, além de atuar na mediação de conflitos e na educação inclusiva.
Para isso, é preciso recorrer a estratégias e metodologias inovadoras. No
entanto, muitas vezes ele não foi devidamente preparado, em sua formação, para
tais demandas.
Em meio às novas exigências,
também aumentaram os desafios na interação com as famílias. Muitos de nós,
professores e pais dessa geração, estamos vivenciando a transição de uma
sociedade que resolvia tudo num ritmo mais ameno para outra que experimenta um
compasso mais acelerado em decorrência do avanço tecnológico. O livro
"Sociedade do Cansaço", do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han,
descreve isso. Evidência que a sociedade do século XX, caracterizada por um
sistema disciplinador repressivo, está sendo substituída pela “violência
neuronal”, relacionada à busca pelo alto desempenho.
Em suma, a correria
desenfreada e a pressão para resultados extraordinários afetam direta e
indiretamente crianças e jovens. Tudo isso reflete em doenças psicológicas das
famílias e deságua no relacionamento com a escola que, por sua vez, é feita por
pessoas que também passam pelas mesmas questões.
Outro fator relevante é que os
pais dos alunos que estão na Educação Básica pertencem a uma geração que lutou
pela liberdade de escolha e de expressão. Ao mesmo tempo que rompem com as
amarras de dogmas e constroem sua própria visão de mundo, sentem o peso das
responsabilidades por suas escolhas. Antigamente, as coisas ruins eram
atribuídas ao divino ou eram culpa do patrão ou do destino. Porém, em uma
sociedade mais flexível como a atual, a responsabilidade recai ainda mais sobre
os pais, e assumir as consequências disso não é fácil.
Assim, os adultos que hoje são
pais e mães precisam se preparar melhor para um mundo exigente e em constante
transformação, além de preparar seus filhos para cenários ainda mais incertos. É
normal que se sintam vulneráveis nessa realidade e em relação à educação que
devem proporcionar aos filhos. Esses sentimentos acabam minando a confiança na
escola, dificultando o processo educacional e a necessária sintonia entre pais
e instituição de ensino.
O professor que também está
nessa geração, com tantas culpas e cobranças, precisa preparar o aluno para o
amanhã que ele não consegue projetar, diferentemente dos mestres das gerações
passadas. Soma-se a esse desafio a necessidade de preparar os alunos nos
aspectos curriculares e na preparação para a vida. As incertezas e o medo de
falhar tiram o sono e afetam a saúde emocional dos profissionais da educação.
É fundamental aos gestores
escolares reconhecer a situação e, sempre que oportuno, esclarecer o contexto
que muitas vezes fica despercebido. Devem acompanhar a relação família-escola e
cuidar da saúde emocional da equipe. Cabe a eles deixar claro para os docentes
que a escola é uma parceira, incentivando-os a arriscarem-se em novas
metodologias e a se envolverem no trabalho socioemocional. A expectativa da
escola é que os professores aceitem esse desafio, entendam seu novo papel e
queiram acertar, mesmo que cometam erros nessa jornada inicial.
É essencial que gestores
escolares, famílias e estudantes observem o cuidado emocional consigo mesmos e
com os profissionais da educação. Um ambiente educacional saudável e acolhedor,
que promova o desenvolvimento pleno dos estudantes, deve ser um compromisso
coletivo.
Eldo Pena Couto -
especialista em psicopedagogia, mestre em administração com MBA em gestão
empresarial e diretor dos Colégios Arnaldo
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