Médica especialista em fertilidade explica os fatores mais frequentes envolvidos no problema e possíveis soluções
Suponha que você teve um filho entre 28-30 anos e
planejou esperar um pouco para a criança crescer, a família ter mais
estabilidade financeira e poder ser ampliada posteriormente. Esse é o retrato
de muitos casais que decidem buscar a segunda gestação, mas esbarram na
infertilidade secundária, que é quando a mulher já engravidou, porém não
consegue que isso aconteça outra vez, mesmo mantendo atividade sexual regular
sem a utilização de método contraceptivo.
A dúvida frequente de quem busca o aconselhamento
médico é qual a razão dessa dificuldade, já que o casal obteve uma gestação
anteriormente, às vezes, inclusive, com bastante facilidade. De acordo com a
ginecologista e obstetra, especialista em Reprodução Humana e integrante da Famivita, Dra. Mariana Grecco, pode ter
havido, por exemplo, mudanças na rotina que afetaram a capacidade reprodutiva.
Para se ter uma ideia do impacto de alguns hábitos, um acréscimo no número de
cigarros fumados por dia, estresse e insônia, bem como o aumento de peso, nesse
intervalo de tempo, estariam entre estes fatores.
“Contudo, é a idade o principal fator a se ter em
mente, posto que a segunda gravidez é tentada, por exemplo, entre 5 a 6 anos
após a primeira e, pertinente a isso, cabe frisar, a fertilidade feminina
diminui gradualmente depois dos 35 anos. Tanto que, após esse período, com ou
sem filho anterior, a expectativa é que, de fato, seja um pouco mais complicado
conseguir a gestação”, pontuou a médica. Por outro lado, a qualidade dos
gametas masculinos também é alvo de declínio com o passar dos anos, piorando
esse quadro, conforme acrescentou.
Vale esclarecer que a infertilidade primária é
definida como a ausência de gravidez ao fim de um ano tentando a gestação, numa
mulher que nunca tenha engravidado. Todavia, seja primária ou secundária, os
motivos são variados. "Tal condição, inclusive, pode ser idiopática, ou
seja, sem causa aparente, se vários testes foram efetuados, mas não convergiram
para uma conclusão relacionada a um diagnóstico", afirmou a especialista.
De forma geral, a infertilidade secundária pode
estar atrelada a alterações no sistema reprodutor do homem, da mulher ou do
casal em si. "Por isso, a importância da anamnese e dos exames em
conjunto, para que se entenda a história de cada um e o que pode estar
influenciando nesse problema", assinalou.
Nesse sentido, alguns testes são essenciais, como
elencou a Dra. Mariana. Um deles diz respeito ao espermograma, sendo
interessante ele ser feito antes da mulher passar por procedimentos
considerados mais desconfortáveis e invasivos, porque aí já se tem uma
informação fundamental. Outro exame de alta utilidade é o raio X das tubas
uterinas, chamado "histerossalpingografia", já que aponta a
permeabilidade tubária, ou seja, se as trompas estão livres e permeáveis.
"Ultrassom transvaginal e exames de dosagem
hormonal, são igualmente imprescindíveis, à medida que o primeiro pode, por
exemplo, excluir a possibilidade de alguma alteração uterina, como os miomas, e
os segundos clarificam condições como a Síndrome de Ovários Policísticos",
disse. Ferramenta também fundamental para investigar esse contexto é uma
espécie de endoscopia do útero - a chamada “histeroscopia” - sugerida quando se
detecta alguma anormalidade no ultrassom.
Capítulo à parte: Endometriose
Um capítulo que não pode ser esquecido nesse
processo é a avaliação acerca da endometriose - uma modificação no
funcionamento normal do organismo em que as células do tecido que reveste o
útero (endométrio), em vez de serem expulsas durante a menstruação, se
movimentam no sentido oposto, caindo nos ovários ou na cavidade abdominal.
Entre as características da doença, figuram cólicas
menstruais fortes e piora com o passar dos anos, apresentando dor na
profundidade vaginal durante o ato sexual. "Ela pode atrapalhar a gestação
de vários modos, mas especialmente devido às inflamações que costuma provocar
na área, dificultando a implantação do embrião", ressaltou a Dra. Mariana.
Nesse caso, o mais adequado é a laparoscopia, um
procedimento cirúrgico, feito por meio de anestesia, com o objetivo de olhar
dentro do abdome e, sendo necessário, realizar a operação de focos da doença.
Próximos passos
Dependendo do panorama fornecido pelos exames,
serão definidos os próximos passos. “As formas de tratamento podem ser de baixa
ou alta complexidade, indo desde o coito programado, quando se realiza o
acompanhamento do ciclo menstrual da mulher para identificar em qual fase
existe uma maior chance de gravidez e é feita a estimulação ovariana, até a
inseminação artificial e a fertilização in vitro”, explanou a médica.
A Dra. Mariana Grecco, sublinhou, além disso, o
quanto a infertilidade secundária é um diagnóstico de difícil aceitação, pois
esse cenário em que se busca a gravidez é perpassado por toda uma ansiedade e
cobrança. “Por isso, tudo que venha agregar ao tratamento deve ser adicionado,
se possível. Avaliação psicológica e nutricional, assim como técnicas diversas,
a exemplo da acupuntura, que é conhecida por diminuir os hormônios do estresse
nesse período, são indicadas para integrar esse apoio multiprofissional”,
endossou.
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