Muito tem se falado acerca dos bons números que o agronegócio teve nos últimos anos: aumento de sua participação na economia (PIB), recordes de safra ano após ano, incluindo o que estamos chamando de super safra 2023, e crescimmento das exportações. No entanto, pouco tem se falado sobre a crise econômica que assola diversos produtores rurais, especialmente aqueles que desenvolvem atividade no âmbito familiar, correspondendo à maioria do país, e que estão enfrentando um preocupante aumento do endividamento.
Dentre as causas da crise do produtor rural, que
tem levado a um grande aumento de seu endividamento, destacamos: crise dos
insumos agrícolas, custo do crédito, redução do preço da soja, milho e arroba
do boi, aumento do arrendamento mercantil e falta de armazéns.
A crise dos insumos agrícolas, que afetou a safra
2021/2023, já está impactando a safra 2022/23. Isso se deve ao fato de que boa
parte das matérias-primas que compõem fertilizantes e defensivos agrícolas
utilizados em território nacional são importadas da China, Rússia e Índia. Por
sua vez, esses países vêm enfrentando obstáculos para manter o ritmo de
produção, além de estarem limitando os embarques pela necessidade de priorizar
o abastecimento local. Além disso, as rupturas na cadeia de suprimentos, a inflação
e os custos de produção da atividade, em patamares cada vez mais elevados,
devem aumentar ainda mais em consequência do conflito entre Rússia e Ucrânia no
Leste Europeu.
Entre janeiro de 2020 a março de 2022, os preços
nominais dos principais fertilizantes tiveram alta de 288%. Insumos como MAP,
KCl e Ureia aumentaram acima de 140%. No caso dos defensivos, o preço de
importação de diversas moléculas, como glifosato, acefato, atrazina e
malathion, está mais caro pela falta de suprimentos, com um acréscimo em reais
que variou de 13,0% a 77,1%. Assim, com o aumento nos custos desses insumos,
espera-se um maior custo de produção para as indústrias sementeiras, o que está
sendo repassado ao agricultor. Com a alta da inflação neste cenário, espera-se
uma evolução de preços das sementes ao redor de 20,0% a 25,0%.
Os insumos agrícolas, a depender do cultivo, podem
representar até 60% do custo de produção atualmente e, sendo o país tão
dependente das importações, é fortemente impactado pela oferta restrita e elevação
de preços. Este cenário reflete mudanças no comportamento de adoção dos
agricultores no ciclo 2022/23, além de desafiar as margens da atividade no
campo.
Em relação ao crédito para o agronegócio, desde o
ano passado (2022) começou a ficar mais escasso e caro, e não está sendo
diferente esse ano. Em um primeiro momento, esse custo maior foi absorvido, mas
atualmente, com a piora do cenário econômico e uma restrição geral de crédito,
o setor começa a sentir o peso.
No que diz respeito ao preço das culturas, nos
últimos seis meses, o valor da saca de soja saiu de R$ 177,03 (média de preço
referente a janeiro deste ano) para R$ 136,45/sc (junho), segundo cálculos do
Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), uma queda de
22,9% no valor da soja no período; a queda no preço do milho se intensifica
ainda mais no início de 2023 e a perda acumulada no ano fica próxima de 30,0%;
já a arroba do boi caiu em média 15%.
Apesar das previsões para 2023/2024 serem mais
otimistas, pelo menos no que diz respeito à redução do preço dos insumos e ao
aumento da produção, os fatores acima mencionados, destacadamente o aumento do
custo de produção e a queda dos preços, provocaram um grande endividamento dos
produtores rurais que necessitam de auxílio para se recuperarem.
Diante do cenário econômico desafiador, temos
notado um aumento de pedidos de recuperação judicial de produtores rurais em
2022 e uma disparada em 2023. E afinal de contas, o que seria essa tal de
recuperação judicial?
A recuperação judicial é um instrumento pelo qual o
produtor rural em crise pode fazer uso para negociar a dívida com seus
credores, através da participação do judiciário. Nela é apresentado pelo
devedor um plano de pagamento da dívida para seus credores.
Para proporcionar um ambiente favorável para
negociação das dívidas entre o devedor e seus credores, estabeleceu-se um
período de proteção, onde não é possível a penhora de bens e dinheiro,
expropriação de bens pertencentes ao produtor rural (fazendas, maquinários,
veículos...) ou não pertencentes, mas em sua posse, como casos de trator,
pulverizador, plantadeira, colheitadeira e outros bens com alienação
judiciária.
Dentre as vantagens da recuperação judicial,
podemos destacar o congelamento da dívida até a aprovação do plano de pagamento
(recuperação judicial), carência, desconto/deságio, parcelamento, venda de
ativos e tratamento tributário mais benéfico, além do acompanhamento de
profissionais que auxiliam na organização da atividade.
Por isso, você, produtor rural endividado - e
quando digo isso, me refiro a dívidas vencidas ou a vencer - a recuperação
judicial pode ser a solução para seu problema. Para isso, procure profissionais
especialistas na área para analisar seu caso e indicar qual melhor instrumento
para superação da sua crise econômico-financeira.
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