Legislação foi aprovada na Câmara dos Deputados após trabalho contínuo de advocacy do ChildFund Brasil, que desenvolve programas sociais para milhares de famílias em territórios em situação de vulnerabilidade social
Todas as crianças têm direito à vida, à liberdade,
à educação, ao esporte, ao lazer e a uma série de outros direitos fundamentais
que visam garantir seu desenvolvimento saudável, sua dignidade e seu bem-estar,
mas essa realidade está muito distante de ser concretizada. Uma conquista
recente que pode ajudar a assegurar o cumprimento dessas garantias é a
aprovação do Projeto de Lei 2861/2023, que pode instituir a parentalidade
positiva e o direito ao brincar como estratégias prioritárias para prevenção da
violência contra crianças. Aprovado na Câmara dos Deputados nessa quarta-feira,
09 de agosto, o projeto de lei segue para apreciação no Senado e, na sequência,
pode ser encaminhado para sanção da Presidência da República.
O texto técnico do projeto de lei é fruto do
trabalho conjunto do ChildFund Brasil e da deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) e
estabelece que as crianças possuam direito a uma educação pautada na construção
de relacionamentos positivos. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) também
apoiou a iniciativa e a construção do texto técnico, realizando a relatoria na
Câmara. A redação do texto foi inspirada no Projeto Brinca e Aprende Comigo,
realizado pelo ChildFund Brasil com o apoio da The LEGO Foundation e que
beneficiou 12,5 mil crianças de zero a oito anos e mais de 6.200 mães, pais e
outros cuidadores em regiões de vulnerabilidade social do Ceará e de Minas
Gerais.
Brincadeiras possibilitam
novas experiências e aprendizagens
A iniciativa abrange seis países (Brasil, Etiópia,
Guatemala, Honduras, México e Uganda) e convida pais, mães e cuidadores a
exercerem uma parentalidade afetiva e permeada pelo brincar, que é uma das
principais linguagens da infância. Por meio das brincadeiras, as crianças são
apresentadas ao mundo, se conectam com suas emoções e começam o processo de
socialização. Quando essas atividades são realizadas ao lado dos responsáveis,
há um estreitamento dos vínculos familiares e pais, mães e cuidadores também
aprendem a enxergar a vida com mais leveza e alegria.
O site do Brinca e
Aprende Comigo disponibiliza materiais educativos gratuitos que
ajudam os responsáveis a colocarem em prática o brincar com propósito. Os
conteúdos abordam o papel do brincar e os tipos de brincadeiras adequadas para
cada faixa etária, enquanto os jogos, atividades e histórias propõem o estímulo
da criatividade, da imaginação e do raciocínio durante os momentos de lazer.
“A infância é um momento marcado pela construção de
referências sobre si, o outro e o mundo. Porém, as crianças precisam receber os
estímulos adequados para se desenvolver integralmente. O brincar está longe de
ser algo inócuo, pelo contrário, é um assunto sério e que merece atenção de
toda a sociedade. São esses momentos de diversão que permitem que as crianças
vivenciem novas experiências, lidam com conflitos, aprendam as primeiras noções
da vida em sociedade e exercitem lados como a imaginação e a criatividade”,
pontua Mauricio Cunha, diretor de País da instituição. “A criança brasileira já
tinha um amplo rol de direitos previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Mas, o brincar não era um deles. Agora,
inaugura-se uma nova fase na história da construção destes direitos
assegurados”, completa.
Estratégia de prevenção à
violência doméstica
Ao reforçar a importância da parentalidade positiva
e do brincar, a nova lei também pode contribuir para a redução da violência
contra crianças no ambiente doméstico. Dados do Disque 100 revelam que, no
primeiro semestre de 2022, foram registradas 72 mil denúncias de violência
contra crianças e adolescentes no país, o que representa 17 denúncias por hora.
Segundo a Pesquisa
Nacional da Situação de Violência Contra as Crianças no Ambiente Doméstico,
realizada pelo ChildFund Brasil, 72,7% dos casos de violência contra crianças
acontecem no local de residência da vítima e do acusado da agressão, 15,7% na
casa da vítima e 5,2% na residência do acusado.
O levantamento escutou 698 pessoas, entre crianças,
adolescentes, familiares e professores de crianças de zero a oito anos,
mobilizou diferentes esferas, instituições, representantes de organizações da
sociedade civil, parceiros e parceiras do ChildFund Brasil e representantes
institucionais da rede de atendimento a crianças em situação de violência. O
estudo foi usado como referência na redação do texto técnico do projeto de
lei.
Fortalecimento da incidência
política
O trabalho de incidência política do ChildFund
Brasil tem se consolidado cada vez mais. Em 2022, a organização contribuiu para
a aprovação de dois importantes Projetos de Lei: o PL 1.360/2021 (Lei Henry
Borel), que trata de crimes de violência contra crianças em ambientes
domésticos e aumenta a penalidade para quem os comete, e o PL 2.466/2019, que
oficializa o Maio Laranja como o mês de prevenção ao abuso e à exploração
sexual de crianças e adolescentes e determina a obrigatoriedade de diferentes
setores abordarem o tema.
Os dois PLs aguardavam tramitação no Senado após
aprovação pela Câmara dos Deputados e o ChildFund Brasil realizou um trabalho
de articulação sobre a relevância dos temas e a necessidade de diálogo com
organizações da sociedade civil. No último ano, a instituição impactou 84.454
crianças, adolescentes e jovens e 38.930 famílias. Além disso, lançou a
campanha Criança é pra Ser Cuidada para educar
e mobilizar a sociedade sobre a violência doméstica contra as crianças.
“O advocacy sempre foi importante para o
ChildFund Brasil, mas, em 2022, definimos a área como prioritária. Estamos mais
conscientes sobre a relevância de divulgar nosso método de trabalho em prol dos
direitos das crianças para um público mais amplo; e estabelecemos um
posicionamento institucional mais claro e objetivo para sensibilizar e
mobilizar a sociedade sobre as violências contra a infância”, afirma Águeda
Barreto, coordenadora de advocacy da organização.
www.childfundbrasil.org.br
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