Um olhar com carinho. Muitas, muitas vezes esse é todo o esforço que precisamos fazer para acessar os tantos universos que habitam outras pessoas. E, se isso é verdade para todos nós, seres humanos, é ainda mais verdade para quem, como eu, dedica a vida a educar. Essa missão quase sagrada de transmitir o que se sabe e, ao mesmo tempo, aprender uma infinidade de novas coisas, é menos técnica do que pode parecer, ao mesmo tempo que demanda uma técnica apurada. Um misto de emoção e racionalidade que se mostra cada vez mais necessário. Se algo não pode ser atingido por um desses caminhos, sem dúvidas será pelo outro.
A cada ano que passa, as escolas recebem mais e
mais relatos de professores sobre estudantes com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA),
comportamentos inadequados e dificuldades de aprendizagem. Parte desses alunos
podem ter, como mencionado, algum tipo de distúrbio, transtorno ou deficiência
já diagnosticado. Outros, porém, apresentam apenas dificuldades pontuais que
têm uma série de causas, como falta ou excesso de estímulos, uma rotina de sono
disfuncional, falta de interesse no assunto estudado ou de conexão com os
professores, inadequação à metodologia da escola, questões emocionais ou
familiares.
Para isso nos preparamos antes, durante e depois de
nossa formação. Faz parte da missão do educador dedicar um olhar atento a cada
criança ou adolescente, porque é por meio desse olhar que será possível
compreender exatamente o que está acontecendo. Uma das formas de fazer isso é
criar situações para que eles possam contar suas sensações, percepções, frustrações
e dificuldades, desde bem pequenos. Abrir os ouvidos e o coração ao que nossos
estudantes têm a dizer é o que leva nosso trabalho do ordinário para o
extraordinário. Fazer a leitura da criança ou adolescente, perceber como ele
está se sentindo, suas alegrias, habilidades e angústias, seu autoconhecimento,
suas emoções, suas aprendizagens e também, o relacionamento com seus colegas e
com os professores.
Mas pais e responsáveis também são capazes de
contribuir para essa leitura. Quando se fala de crianças e adolescentes, o
comportamento funciona como um termômetro. São eles que sinalizam que algo está
acontecendo e cabe a nós, adultos com muito mais vivência, identificar esses
sinais. Assim, podemos ajudar de forma mais assertiva e diferenciar as dificuldades
de cada um dos possíveis distúrbios. Afinal, nem toda criança que tem
dificuldades na escola tem algum distúrbio.
Por exemplo: quando um aluno começa a demonstrar
dificuldade para realizar a tarefa de casa, é preciso verificar se ele não se
lembra qual é a melhor forma de fazê-la, se não compreendeu o conteúdo ou se
não tem habilidades para realizar a mesma. Para cada um desses casos, existe
uma melhor conduta de orientação. É possível que os próprios pais possam
ajudar, explicando os enunciados, relendo os textos ou até sugerindo que a
criança/adolescente faça boas perguntas durante a aula, para que tenha maior
autonomia na hora de resolver as tarefas. Porém, se as dificuldades forem
recorrentes em determinado componente curricular ou situação, vale uma conversa
com a equipe pedagógica para identificar o que está acontecendo.
É preciso investigar o percurso de aprendizagem do
aluno, para verificar se o conteúdo novo ainda não foi bem compreendido, se a
dificuldade de agora não é reflexo de conteúdos anteriores que não foram bem
assimilados, ou, ainda, se o aluno tem alguma dificuldade de compreensão e
abstração. No caso de um possível diagnóstico ser aventado, a escola deverá
solicitar uma avaliação de profissional qualificado para isso.
Nunca é fácil ouvir alguém apontar defeitos nos
nossos filhos, mas os professores e coordenadores têm como objetivo a aprendizagem
e o bem-estar de seus alunos. Uma solicitação de avaliação neurológica ou
psicológica pode parecer muito dolorosa para os pais, mas esse é o caminho para
eliminar barreiras e favorecer a criança. Muitas vezes as avaliações
solicitadas servem para descartar hipóteses e, assim, atuar na recuperação do
conteúdo e aprendizagem.
Considerar que a equipe pedagógica tem os mesmos
objetivos que a família é muito importante. Olhar juntos, com carinho, na busca
de melhorias para a aprendizagem, socialização e autoestima do aluno costuma
ser o primeiro passo para o sucesso.
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