Dados da OMS e
Unicef indicam que, em uma década, o número de partos antes do tempo atingiu
152 milhões; especialistas do CEJAM destacam impactos
O nascimento de bebês prematuros foi declarado uma
"emergência silenciosa" global pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), conforme anúncio recente em relatório da entidade em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), publicado em maio deste ano.
O documento revela que, entre 2010 e 2020, foram registrados 152 milhões de
partos de bebês prematuros.
De acordo com o estudo, somente em 2020, cerca de 13,4 milhões de bebês
nasceram precocemente, o equivalente a cerca de 1 em cada 10 crianças nascidas
em diferentes partes do mundo.
Normalmente, espera-se que uma gestação dure 9 meses, o que varia entre um
período de 38 a 40 semanas, mas nem sempre essa é a realidade. Infelizmente,
muitos bebês acabam chegando mais cedo, o que pode gerar impactos negativo, dependendo
da situação.
Apesar de nascerem antes do período estipulado, esses bebês são classificados
em diferentes subcategorias de recém-nascido. "Dependendo das semanas,
eles são classificados como pré-termo extremo, com menos de 28 semanas; muito
pré-termo, nascidos entre 28 e 32 semanas; pré-termo moderado, bebês de 32 a 37
semanas; e pré-termo tardio, que são os que nascem entre 34 e 37 semanas",
explica a Dra. Anatalia Lopes de Oliveira Basile, Coordenadora Geral do
Programa Parto Seguro, uma iniciativa do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas
"Dr. João Amorim" em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de
São Paulo.
Segundo a Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de
Bebês Prematuros, quanto mais semanas o bebê atinge em desenvolvimento, maior é
a sua probabilidade de viver após o parto. Por isso, é primordial se atentar a
esse detalhe.
Para os bebês prematuros de 22 semanas, as taxas de sobrevivência são de 2% a
15%. Já aqueles nascidos de 23 semanas têm uma taxa de sobrevivência entre 15%
e 40%. Os nascidos de 26 a 28 semanas alcançam taxas de sobrevivência de 75% a
85%, enquanto os de 29 a 32 semanas contam com chances de 90% a 95% de
sobreviverem e aqueles de 33 a 36 semanas têm uma taxa de sobrevivência maior
que 95%.
É importante salientar que, hoje, o nascimento prematuro se tornou a principal
causa de mortes infantis, representando um em cada cinco de todos os óbitos
notificados antes dos 5 anos. "Alguns fatores que podem influenciar
diretamente nesses partos prematuros são a ausência de pré-natal, a idade
materna, ter hipertensão na gestação, doenças e infecções maternas, amniorrexe
prematura, gestação múltipla, restrição de crescimento, malformação fetal,
tabagismo e etilismo", complementa o Dr. Gilberto Nagahama, médico
obstetra do Programa Parto Seguro.
Quanto ao Brasil, a pesquisa da OMS e Unicef indica que o país caminha lado a
lado a nações como República Tcheca, Hungria e Dinamarca, como algumas das
regiões que conseguiram reduzir esse tipo de nascimento durante a década
analisada. Mesmo assim, essa queda foi relativamente pequena, passando de 12%
para 11,1%, o que ainda o torna o terceiro país da América Latina com o maior
número de bebês que nasceram de forma antecipada.
A importância dos cuidados para uma vida de qualidade
As sequelas de nascer prematuramente podem durar por toda a vida e provocar
diferentes atrasos no desenvolvimento, pois esses bebês estão mais propensos a
vivenciarem problemas respiratórios, neurológicos, visuais, cardíacos e
digestivos, por exemplo. Por isso, é fundamental buscar toda a assistência
necessária, a fim de colaborar com a saúde do bebê e da gestante.
O acompanhamento adequado de pré-natal, realização de todos os exames
necessários e tratamentos de infecções e doenças são algumas formas de diminuir
as chances de se ter um parto prematuro e até reduzir a mortalidade.
"No Brasil, muitos óbitos neonatais podem ser evitados a partir do
pré-natal qualificado. Sabemos que existem muitas variáveis que podem afetar a
gravidez, e que não dependem somente desse serviço. Entretanto, é possível,
muitas vezes, identificar a partir dele tanto os problemas maternos como os
fetais, facilitando, assim, possíveis tratamentos e, com certeza, aumentando as
chances de uma melhor qualidade de vida da mãe e recém-nascido", relata a
Dra. Anatalia.
É somente a partir do pré-natal que é possível o encaminhamento da gestante
para serviços qualificados, considerando fatores de risco e morbidades
presentes na gestação.
"Pensando em uma assistência segura, as unidades de saúde gerenciadas pelo
CEJAM contam com serviço de terapia intensiva, com médicos e enfermeiros
especializados no atendimento ao recém-nascido grave, fisioterapeutas,
fonoaudiólogas, serviço social e de psicologia. Todos esses profissionais
seguem diferentes protocolos que proporcionam as condutas necessárias",
reforça a coordenadora.
O CEJAM também oferece todo o apoio necessário para o desenvolvimento do bebê
prematuro, que já sai de alta hospitalar com acompanhamento em unidades ambulatoriais
assegurado pela contrarreferência e com menos comorbidades para uma vida
melhor.
Hospital da Mulher Mariska Ribeiro
No Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (HMMR), administrado pelo CEJAM em
parceria com a secretaria municipal do Rio
e do SUS, de março de 2022 ao mesmo mês de 2023, 12% dos bebês nascidos com
vida eram prematuros. Destes, 62 foram admitidos na UTI neonatal, com peso
abaixo de 1,5 kg, e 60% tiveram alta.
A maioria que veio a óbito era formada por bebês com até 30 semanas de idade
gestacional e menos de 1 kg, abaixo do limite de viabilidade.
“Nossa meta é aumentar a sobrevida dos bebês cada vez mais imaturos e que eles
tenham qualidade de vida após a alta e autonomia no futuro”, afirma a diretora
médica do HMMR, Dra. Brunna Milanesi.
Ela explica que todo bebê que nasce abaixo de 34 semanas de idade gestacional e
abaixo de 1,8 kg precisa de um cuidado de terapia intensiva neonatal fino, com
equipe multiprofissional especializada, formada por médicos, enfermeiros,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
“Aqui no Mariska Ribeiro, investimos não só em equipamentos e insumos, mas
também na capacitação da equipe para o cuidado neonatal. São treinamentos
constantes e o gerenciamento de protocolos também tem sido essencial na
melhoria da nossa qualidade assistencial”, pondera.
A mãe como protagonista do cuidado neonatal
Além de equipe técnica qualificada, no Mariska Ribeiro, a mãe do bebê que
nasceu antes do tempo esperado tem participação ativa na recuperação do seu
filho, seja fornecendo o leite que irá alimentá-lo, seja no contato pele a
pele, tão importante no processo de evolução desse paciente.
E, na unidade, essa proximidade é permanente, já que, diferentemente da
esmagadora maioria das maternidades – públicas ou privadas –, as mães não
precisam ir para suas casas e retornar no dia seguinte.
A Casa da Puérpera permite que mães de bebês prematuros fiquem hospedadas no
próprio hospital durante todo o período de internação.
“Como as internações de bebês
prematuros costumam ser prolongadas – podem durar de 30 a 90 dias –, é
importante que a mãe protagonize esse cuidado e que ela tenha envolvimento e
confiança na equipe. Para garantir que ela esteja mais próxima do seu bebê
durante o período no hospital, oferecemos a possibilidade de permanecer na Casa
da Puérpera, que consiste em um espaço dentro da unidade, semelhante a um
apartamento e que comporta até seis mães”, complementa a diretora.
Segundo ela, há camas, sala com TV, banheiro, copa e até uma área de serviço
para o cuidado com as roupas dessas hóspedes, que podem se alimentar no
refeitório da unidade. “Essas mulheres também recebem atendimento psicológico
porque entendemos que todo esse acolhimento familiar contribui para a boa recuperação
dos nossos pacientes”, finaliza.
(@cejamoficial)
cejam.org.br/noticias
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