Em todo o mundo, a
doença diagnosticada na atriz Aracy Balabanian, que morreu nesta segunda (7), é
responsável por 1,8 milhão de mortes anuais. Avanços no diagnóstico, cirurgia e
tratamento sistêmico aumentaram a expectativa de vida dos pacientes, mas a
doença segue com alta taxa de óbitos. Cigarro é causa direta de 80% a 90% dos
tumores malignos do pulmão
A principal causa, tabagismo – responsável por 80%
a 90% dos casos – é conhecida. Houve avanços nos últimos anos no entendimento
dos diferentes tipos de câncer de pulmão, propiciando abordagens mais
assertivas, para cada grupo de pacientes, com cirurgia, radioterapia e
tratamento sistêmico com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Há também
o conhecimento sobre a tomografia computadorizada de baixas doses em pessoas
com histórico de tabagismo, sendo usada como método de rastreamento, ser capaz
de descobrir a doença mais cedo e reduzir a taxa de mortalidade. Apesar de
todos estes fatores, a doença, diagnosticada no ano passado na atriz Aracy
Balabanian, morta nesta segunda (7), continua sendo a mais letal entre todos os
tipos de câncer. São 1,8 milhão de mortes anuais (18% de todas as mortes por
câncer), segundo o Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer
da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).
No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer
(INCA) o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto
mais comum entre as mulheres, com estimativas de 32.560 novos casos em 2023,
sendo 18.020 entre homens e 14.540 em mulheres. De acordo com o Atlas de
Mortalidade por Câncer – SIM, em 2020 foram registradas 28.620 mortes por
câncer de pulmão no Brasil. O câncer de pulmão, quando diagnosticado em estágio
inicial, apresenta taxa de sobrevida de 56% (pacientes vivos após cinco anos do
início de tratamento).
É possível diagnosticar cedo o
câncer de pulmão?
Em 2011, o mundo recebeu uma contribuição científica
que mostrou redução de mortalidade por câncer de pulmão. Pesquisadores do National
Lung Screening Trial (NILST) dos Institutos Nacionais de Saúde dos
Estados Unidos (NIH) concluíram que o rastreamento pela Tomografia
Computadorizada de Baixas Doses (TCBD), quando comparada com a radiografia
tradicional de tórax, conseguiu reduzir em 20% a mortalidade do câncer de
pulmão. O estudo foi publicado no New England
Journal of Medicine, um dos periódicos científicos mais
importantes do mundo. Ao longo da última década, o trabalho, com mais de 5 mil
citações na literatura médica, influenciou estratégias de diagnóstico precoce
ao redor do mundo, inclusive no Brasil, mas o exame não é adotado como estratégia
de rastreamento populacional no país para a população com histórico de
tabagismo, como é preconizado.
“A única forma de conseguir aumentar o número de
diagnósticos iniciais é implementando política de rastreamento para câncer de
pulmão”, explica o cirurgião oncológico Antônio Bomfim Rocha, membro da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). O médico cita o exemplo da
China - um dos países com melhores resultados na política de rastreamento:
“Fazem tomografias de rotina em toda população acima dos 50 anos de idade,
principalmente entre aqueles que fumam ou são expostos ao uso do cigarro, em
todas suas formas. A tomografia de tórax precisa fazer parte do checkup
anual - especialmente para quem tem mais risco de adquirir o câncer de pulmão:
fumantes e pessoas acima de 50 anos”, reforça Rocha.
De acordo com o cirurgião oncológico Héber
Salvador, presidente da SBCO, a entidade tem cada vez mais investido em
campanhas de informação para combate ao tabagismo, que é a principal causa de
morte evitável do mundo. “Precisamos da imprensa para tornar isso uma coisa de
abrangência maior”, ressalta. Para ele, a formação e acompanhamento do
cirurgião especialista em câncer também são pilares para a garantia de
tratamentos com sucesso e mais chances de cura.
Avanços da cirurgia oncológica
no pulmão
Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços nas
tecnologias para tratar esse tipo de câncer. “Tivemos a possibilidade de fazer
o tratamento de forma minimamente invasiva, tanto do diagnóstico quanto das
cirurgias mais complexas. A cirurgia robótica é uma das intervenções mais
modernas no mundo, e que já é uma realidade em várias regiões do Brasil”,
informa Rocha.
As vantagens da cirurgia robótica para o câncer de
pulmão são vastas, segundo ele. “Ela proporciona uma qualidade no tratamento
oncológico, o que resulta em menos sofrimento ao paciente. Ela também permite
que os pacientes voltem às suas atividades habituais com mais rapidez, uma vez
que as cirurgias tendem a ter menos complicações.
Tratamento sistêmico
Paralelamente ao cenário de diagnóstico tardio e
mortalidade, o câncer de pulmão é uma das doenças oncológicas que mais mostra
evidências de se beneficiar de terapias-alvo e de imunoterapias, tratamentos da
era da Medicina de Precisão. Ao contrário do início do milênio, quando todo
tumor pulmonar era tratado com quimioterapia, hoje os pacientes, antes de
iniciar o tratamento, podem receber a indicação de teste de mutação em EGFR,
BRAF, ROS-1, KRAS, fusão EML4-ALK, rearranjo em NTRK, dentre outras alterações
genéticas para as quais há medicamentos com eficácia comprovada para perfis de
pacientes com câncer de pulmão avançado.
Esse arsenal reflete em mais tempo e qualidade de
vida para o paciente. Comparativamente, se em 2020, com tratamento restrito à
quimioterapia, os pacientes com câncer de pulmão agressivo e metastático tinham
sobrevida média de 12 meses, as terapias-alvo e, mais recentemente, as
imunoterapias, permitem que os pacientes com câncer de pulmão, que têm
indicação e acesso à esta terapia-alvo, tenham média de até 90 meses de
sobrevida e com menor toxidade. Por essa razão, o acesso dos pacientes à
terapia alvo é essencial. Isso porque a cirurgia não é a opção de escolha para
o câncer de pulmão que é diagnosticado em fase avançada (o que representa 75%
dos casos).
Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica - SBCO
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