A sexualidade é algo que está sempre presente no
cotidiano humano e que impacta, essencialmente, a saúde em suas diferentes
dimensões. Mesmo que sutilmente, ela habita os corpos expostos nas ruas; está
no Carnaval e na pornografia; na vida das gestantes, nos divãs de
psicanalistas, no discurso político, nos movimentos por direitos, na
literatura. Entretanto, está também nos assédios sexuais e morais, na estrutura
social opressiva, no mercado de trabalho. Em resumo, podemos defini-la como “um
aspecto central do ser humano ao longo da vida”, mas sabemos que a sexualidade
extrapola limites conceituais – ela engloba uma miríade formada por sexo,
identidades, papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade
e reprodução.
A sexualidade é vivida e expressada por meio de
pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos,
práticas, papéis e relacionamentos. E, é influenciada pela interação de fatores
biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, jurídicos,
históricos, religiosos e espirituais, segundo o descrito pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), no report Sexual health, human rights and the law (em
livre tradução, Saúde Sexual, direitos humanos e direito). Sendo
assim, sexualidade não significa puramente e exclusivamente o ato sexual – que,
inclusive, também tem passado por questionamentos e deslocamentos para
entendê-lo como sinônimo de penetração. Em si, a sexualidade passa a ser
compreendida como um conjunto de relações sociais, públicas e privadas, que
englobam desde a nossa intimidade e relação com o prazer, como a construção de
uma identidade socialmente reconhecida. Ou seja, como são construídas, por
exemplo, as noções de masculinidade, feminilidade, corpo, performance de
gênero. E, além disso, estamos falando no desdobramento destas questões quando
sob a ótica dos aspectos de classe e raciais.
Sob a égide desse novo olhar, cabem inúmeras
questões. Será que a construção da masculinidade se dá igualmente para homens
pretos, brancos e de ascendência asiática? Será que a vivência da
homossexualidade ocorre da mesma forma em todas as classes sociais? E quando
fazemos um segundo passo, de pensar o impacto dessas vivências à luz da saúde
da mente, como podemos escutar as especificidades de cada identidade?
Atualmente, os novos movimentos sociais estão lutando para conquistar espaços
na construção de saberes sobre a sexualidade; eles estão trazendo seus olhares
e o diálogo sobre novas concepções, discursos e ética. Significados não podem
ser fechados, pois estamos constantemente nos transformando – e a nossa
identidade sempre está em movimento e, em tese, deveria estar aberta ao novo.
Devemos reconhecer as singularidades humanas, legitimando as escolhas do
indivíduo, assim como seus desejos e seu desenvolvimento.
De acordo com a OMS, muitos fatores podem
prejudicar a saúde das pessoas e, em especial, da mente. Estamos falando de
grandes mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de
gênero e raça, exclusão social, violência, violação dos direitos humanos e estilo
de vida não saudável. Olhando para esses fatores, após a reflexão de ampliar a
categorização da sexualidade, concluímos que se trata de um assunto de saúde
pública, pois interfere diretamente no que somos e como agimos. E ousamos dizer
que tudo o que se refere à saúde está intimamente ligado ao nosso sistema
educacional, que é o primeiro passo para que as pessoas internalizem e se
apropriem da necessidade de se cuidarem.
Sem a instrução adequada para crianças e
adolescentes, eleva-se o risco de abuso sexual, iniciação sexual precoce,
gravidez não planejada, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e bullying
sexual. Pela curiosidade, os indivíduos de qualquer idade acabam
buscando informações por meio de amizades, parceiros amorosos, internet e via
pornografia – veículos que as deixam mais suscetíveis a conteúdos que alimentam
mitos, estigmas, preconceitos e modismos. Com isso, aumentam os casos de
problemas de saúde de várias ordens.
Na busca por dados e informações confiáveis,
acessamos a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, que, pela primeira
vez em sua série, traz dados sobre a saúde sexual dos entrevistados: idade de
iniciação sexual, uso de preservativos, casos notificados de IST, reprodução
feminina. Pouco ou nada é falado sobre sexualidade pela ótica de promover
qualidade de vida; não se investiga, ainda, o impacto dela na saúde da mente
das pessoas e de suas atividades cotidianas. Do mesmo modo, questões de
identidade de gênero e orientação sexual ainda não ganharam expressividade em
pesquisas públicas – vide CENSO do IBGE –, porém, essa pauta precisa ser cada
vez mais discutida, uma vez que o Brasil é o país que mais mata LGBTQIAP+.
A correlação entre sexualidade e saúde da mente tem sido analisada e tem
conquistado respaldo em estudos acadêmicos. Uma pesquisa da Unicamp (2012), por
exemplo, aponta que 40% dos adolescentes homossexuais relataram
prevalência de transtornos mentais; entre os adolescentes heterossexuais este
número cai para 20%.
Dentro deste contexto, a NOZ Inteligência e o
Instituto Bem do Estar se juntaram para a realização de uma pesquisa com o
intuito de assimilar as compreensões das pessoas sobre sexualidade e saúde da
mente e entender como elas as relacionam em suas próprias vidas. A proposta
deste estudo é coletar dados sobre as percepções dos públicos em relação à
sexualidade e saúde da mente, popularizar informações, além de provocar
reflexões e debates sobre o assunto. No site da NOZ Inteligência é
possível conhecer cada um desses formatos e participar da pesquisa. Além disso,
o projeto está recebendo instituições parceiras – com afinidades no assunto –,
para formar uma coalizão. Para saber mais, acesse www.nozinteligencia.com.br/sexualidadeesaudedamente,
participe da pesquisa e saiba como colaborar!
JAQUE LIZI - graduada em Engenharia de Alimentos pela Universidade de São Paulo (FZEA/USP) com especialização em Indústria de Alimentos pela Montpellier SupAgro (França). Possui experiência em indústria alimentícia com análise de KPI’s, melhoria contínua e acompanhamento de processos produtivos; atua como pesquisadora na NOZ, é professora de francês do curso Se Vire en Français.
ISABEL MARÇAL - especialista em gestão de projetos sociais; possui 19 anos de experiência no setor de Impacto Social, à frente da gestão de organizações. Atualmente cursa Psicanálise e é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar. Apaixonada pela vida, pelos seres humanos e suas relações, sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano.
LAURA BING - se interessa por questões sociais e em tecer perguntas sobre o impacto delas no indivíduo. É cientista social formada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e possui inclinação para a área de sociologia; também atua como psicanalista e é membro do departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Antes de trabalhar com pesquisa, atuou por cerca de 10 anos na área cultural, em espaços como editoras, orquestras e museus. Além de pesquisadora da NOZ Inteligência, divide seu tempo com clínica particular, lugar no qual encontrou o casamento entre a investigação e a inquietação; atua, também, com atendimentos à população no coletivo de Clínica aberta de Psicanálise, que ocupa espaço na Casa do Povo.
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