Estudo inédito mostra que a Inteligência Artificial e imagem de fundo do olho podem prever a alta miopia, risco mais relevante.
Na férias toda criança deveria passar por exame
oftalmológico antes de retornar às aulas. Isso porque, a miopia, dificuldade de
enxergar à distância, está crescendo em uma velocidade assustadora no
País. Dados da OMS (Organização Mundial
da Saúde) mostram que a falta de óculos é a maior causa de cegueira. Pior: no
Brasil a maioria das crianças nunca foi ao oftalmologia. Como se não bastasse,
o relatório da OMS revela em 2030 a
miopia vai atingir 35,5% dos brasileiros e ter um aumento maior que a média
mundial. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, a correção da miopia é essencial para o
aprendizado. “Isso foi comprovado em um levantamento com 36 mil crianças das
escolas públicas que receberam óculos durante uma ação social promovida pelo
hospital em parceria com a prefeitura de Campinas” pontua. Após um ano de uso
dos óculos 50% tiveram melhora no desempenho escolar e 36,2% ficaram menos
agitadas, uma comprovação da importância do acompanhamento da saúde ocular na
infância.
O oftalmologista afirma que a miopia é hoje a
principal causa de deficiência visual reversível. Pode ser corrigida com óculos
ou lente de contato. É desencadeada por
herança genética quando os dois pais ou um deles é míope. Mas o aumento exponencial da miopia na
infância está relacionado ao esforço visual para perto imposto pela vida
digital e à falta de exposição ao sol, pontua. Um levantamento realizado por
Queiroz Neto no hospital com 360 crianças na faixa
etária de 6 a 9 anos mostra que o uso intensivo das telas praticamente
dobrou a prevalência da miopia entre os participantes. O oftalmologista explica que se trata de uma
miopia acomodativa, causada pelo espasmo nos músculos ciliares que movimentam o
cristalino para focalização nas várias distâncias. A recomendação para evitar
esta paralização da musculatura dos olhos é não ultrapassar 2 horas contínuas
de uso das telas, recomenda.
Risco
da alta miopia
Para o especialista hoje um dos
maiores desafios da Oftalmologia é prever a alta miopia. Isso porque, acima de 6 graus a miopia pode
causar descolamento de retina, glaucoma, catarata precoce e degeneração
macular, importantes causas de deficiência visual grave que reduzem a
produtividade e aumentam os custos sociais relacionados à falta de
acompanhamento oftalmológico. Pior: A
estimativa é que 1 em cada 10 míopes ultrapasse o marco de seis dioptrias ou
graus. A boa notícia é que uma pesquisa
inédita mostra
que a IA (Inteligência Artificial) somada à
imagem do fundo do olho podem prever a alta miopia anos antes da progressão, tornando a
indicação de tratamentos preventivos mais precisa.
Efeitos na
saúde
Queiroz Neto afirma que a miopia, também aumenta a
tendência à depressão e insônia, sobretudo entre altos míopes, conforme ficou
demonstrado em outro estudo publicado na Nature .
“Isso acontece porque todo nosso organismo - da
temperatura do corpo, à pressão arterial, frequência cardíaca, fome, estado
emocional e sono – é regido pela luz que sensibiliza células fotossensíveis da
retina e avisa uma porção de nosso cérebro quando é dia ou noite”, pontua. O
oftalmologista esclarece que no míope o diâmetro antero posterior é maior que o
normal. “Esta alteração faz com que
menos luz penetre nos olhos e as imagens se formem antes da retina, tornando
tudo o que está distantes desfocado”, salienta. A diminuição da entrada de luz
nos olhos reduz a produção de dois hormônios, adrenalina e cortisol que
controlam o estresse, mantêm o bom funcionamento sistema imune e a glicemia em
equilíbrio. No entardecer estes hormônios diminuem ainda mais para dar espaço à
produção da melatonina, hormônio indutor do sono que também tem queda na
produção e causa insônia em míopes.
Dificuldade
na fala e cognição
Queiroz Neto é membro da ABRACMO (Academia
Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia) onde muitos pediatras têm
relatado que recebem em seus consultórios crianças com necessidade de
acompanhamento de um fonoaudiólogo. Isso porque, são crianças que aos 2 anos
ainda não entraram na fase do balbucio por terem no celular uma babá
eletrônica. O oftalmologista explica que a OMS preconiza não expor crianças com
até dois anos às telas porque o cérebro está em desenvolvimento e a
neuroplasticidade fica comprometida por esta exposição.
Prevenção
O especialista
ressalta que poucos pais conseguem restringir o tempo de uso das telas
porque hoje as crianças estudam pelo computador ou celular. A boa notícia é que
a miopia pode ser prevenida com duas horas/dia de atividades externas durante o
dia. Isso porque, o sol estimula a produção da dopamina, hormônio que controla
o crescimento do olho, maior nos míopes.
Hoje também já estão disponíveis lentes de contato
e de óculos que controlam a progressão
da miopia. As lentes comuns, explica, corrigem a visão, mas na periferia da
retina jogam a imagem à frente da retina estimulando o crescimento axial do
olho e, portanto, a progressão da miopia. Nas novas lentes de contato e óculos
as imagens se formam exatamente encima da retina em toda sua extensão e isso
permite o controle da miopia. Não significa que estaciona totalmente, apenas
controla.
As recomendações da OMS de uso seguro das telas
são:
• Menores
de 2 anos. Não é indicado o uso de telas.
• Entre 2 a
5 anos, o ideal é não ultrapassar 1 hora diária e sempre com um adulto por
perto.
• Entre 6 a
10 anos, no máximo 2 horas por dia e também com a supervisão de um adulto.
• A partir
dos 10 anos, não ultrapassar o limite de
3 horas por dia. É importante também evitar a utilização de noite, que pode
causar agitação e atrapalhar o sono.
• Para todas as idades, sempre preferir as telas
maiores e usar mantendo distância. Se for tablet ou celular, a recomendação é
de 30 cm entre o aparelho e rosto. Outra recomendação é evitar a utilização
durante as refeições. Isso porque, induz
á alimentação compulsiva e leva ao ganho de peso, outro problema de
saúde que está em alta entre as crianças brasileiras.
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