Endocrinologistas aguardam ansiosos a entrada da injeção
Para quem trabalha no dia a dia com obesidade, a entrada de novas
medicações traz consigo a oportunidade de mudar a história dessa doença dentro
do tratamento clínico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima, em 2025,
2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo acima do peso, sendo 700 milhões de
indivíduos com obesidade, isto é, com um índice de massa corporal (IMC) acima
de 30. No Brasil, a obesidade aumentou 72% nos últimos 13 anos, saindo de 11,8%
em 2006 para 20,3% em 2019, de acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico 2019
(Vigitel).
A obesidade é uma doença crônica, recorrente, multifatorial, com
característica genética e progressiva, reconhecida como doença em 1997 pela OMS
e incluída no CID-6 (Código Internacional de Doença) em 1946. Associa-se a
outras doenças crônicas, piorando a evolução ou desencadeando doenças como
hipertensão arterial, dislipidemia, doença cardiovascular, diabetes melitus,
osteoartrite e apneia obstrutiva do sono. Sabemos que reduções de peso na ordem
de 10-15% trazem consigo a melhora do risco cardiovascular, com impacto na
hipertensão arterial, controle da glicemia e dislipidemia.
A endocrinologia brasileira comemora a entrada da caneta de
semaglutida 2,4mg com agulha incluída (Wegovy ™) de uso subcutâneo semanal para
tratar obesidade e pacientes com sobrepeso associado à comorbidades
(hipertensão, síndrome metabólica, dislipidemia), promovendo perda de peso de
16%-17% do peso corporal em 68 semanas. A medicação já estava sendo usada na
caneta de 1mg para tratamento do diabetes (Ozempic ™).
A semaglutida faz parte das medicações agonistas do GLP-1 (glucagon like peptide-1 receptor agonista) que
agem não apenas retardando o esvaziamento gástrico, mas também reduzindo
ingestão alimentar por ação central no apetite. Principais efeitos colaterais
apresentados foram efeitos gastrointestinais como náusea, vômitos, diarreia e
constipação intestinal.
Será comercializado pela farmacêutica Novo Nordisk, com o nome
Wegovy. Trabalhos preliminares com as injeções semanais ajudaram na redução de
até 20% do peso corporal de uma em cada 3 pessoas, sendo a redução igual ou
superior a 5% do peso corporal vista em 83,5% dos pacientes.
A medicação já vem sendo utilizada nos Estados Unidos, onde foi
aprovada para comercialização em 2021 pelo FDA. Países como Reino Unido, Japão
e Dinamarca já aderiram a medicação, aqui no Brasil esperamos sua entrada no
segundo semestre de 2023. Ainda seu preço não foi definido.
Mas é importante lembrar que a entrada de novas opções terapêuticas para tratar ambos, obesidade e sobrepeso com comorbidades, não nos isenta do foco na melhoria de qualidade da alimentação e atividade física, pelo contrário, são estratégias a serem somadas no tratamento da obesidade. Lembrando que obesidade precisa de tratamento de longo prazo, como toda doença crônica.
Maria Augusta Karas Zella - Professora de Endocrinologia e
Semiologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - regional Paraná
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